Entre 2015 e 2023, Santa Catarina foi o sexto estado do país com maior proporção de diagnósticos precoces de câncer de mama, com 64,2% das mulheres identificadas nos estágios iniciais da doença. O Estado fica atrás apenas de São Paulo (66,6%), Rio Grande do Sul (66,4%), Rio Grande do Norte (66,3%), Minas Gerais (64,5%) e Espírito Santo (64,4%), segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) divulgados no Panorama da Atenção ao Câncer de Mama no Sistema Único de Saúde (SUS) em junho deste ano. Para 2025, a previsão é de que mais de 3,8 mil casos sejam detectados no estado catarinense.
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O câncer de mama tem mais de 95% de chance de cura quando descoberto no início, reforçando a importância do diagnóstico precoce. No entanto, a detecção da doença traz reflexos significativos na saúde mental das pacientes, principalmente durante as internações — conforme o levantamento, só em 2023, 3.436 pacientes foram hospitalizadas pelo SUS no Estado. Ainda não há dados disponíveis referentes a 2024.
O cenário provoca, por exemplo, medo, ansiedade e sensação de vulnerabilidade, especialmente nos momentos que antecedem exames e cirurgias.
— A paciente percebe que sua rotina, seu corpo e sua energia mudaram. Muitas enfrentam raiva do próprio corpo, medo de que o tratamento não funcione e ansiedade em relação ao futuro — explica a psicóloga Laura Benedetti.
Esse sentimento impactou Luciana*, de 59 anos, diagnosticada em estágio inicial do câncer em 2021. Para ela, relembrar o período traz um “turbilhão de sentimentos”:
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— É claro que receber o diagnóstico não é fácil, apesar das suspeitas [do câncer]. Comecei a questionar minha vida inteira naquele ano.
Outro ponto também preocupa: a detecção tardia. Conforme o estudo, em 2023, 35,8% das pacientes catarinenses foram diagnosticadas em estágios avançados (3 e 4). O impacto psicológico é maior nesses casos porque o risco percebido e a sensação de perda de controle aumentam significativamente.
— Muitas relatam dificuldade de concentração, de trabalhar ou de aproveitar momentos com amigos. Há também o isolamento: algumas preferem não sair para evitar falar sobre o câncer ou para não serem vistas em momentos de fragilidade — diz.
Para Luciana*, um dos maiores desafios foi compartilhar o recebimento do diagnóstico com a família e amigos.
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— Eu não tinha vontade nem de pensar em sair de casa, nem de conversar com ninguém. Mas, no momento que compartilhei como eu me sentia com a minha filha, tudo mudou. O tratamento se tornou mais leve — relembra.
A situação de Luciana* é reforçada pela psicóloga Laura Benedetti, que afirma que o apoio psicológico é tão importante quanto a quimioterapia ou a cirurgia.
— Tratar o corpo sem acolher a mente pode comprometer todo o processo de recuperação — reforça.
Câncer de mama é o que mais mata mulheres no Brasil
Santa Catarina apresentou a quarta maior taxa de mortalidade do país em 2023, com cerca de 22 óbitos por 100 mil mulheres, segundo o INCA. Atualmente, o Estado tem a maior incidência de casos do país: 74 registros a cada 100 mil mulheres.
A maior quantidade de mortes acontece entre mulheres entre 50 e 69 anos. Conforme o INCA, a região Sul tem o melhor desempenho com relação ao tempo entre o diagnóstico e o primeiro tratamento.
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Além disso, mais de 73 mil casos devem ser diagnosticados até o fim de 2025 no Brasil, sendo o tipo de câncer que mais mata mulheres, de acordo com o INCA. Santa Catarina deve ter 3.860 novos casos de câncer de mama em 2025. Somente na Capital, os dados apontam para 340 novos diagnósticos ainda neste ano.
*Nome alterado para preservar identidade da entrevistada
**Sob supervisão de Luana Amorim
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