O ex-embaixador dos Estados Unidos no Panamá, John Feeley, que já foi considerado um dos maiores especialistas em América Latina do Departamento de Estado americano, disse em entrevista à BBC que Donald Trump passou a ver Jair Bolsonaro como “perdedor” depois de sua prisão.

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— Assim que Bolsonaro perdeu, ou seja, assim que foi condenado e preso, Donald Trump o viu como um perdedor, e se há algo que Donald Trump não tolera são perdedores — declarou.

O diplomata destacou que o recuo dos Estados Unidos em relação ao Brasil nos últimos meses ocorre mais por conta do comportamento de Donald Trump e dessa mudança de percepção em relação à Jair Bolsonaro do que por uma conquista do governo Lula (PT) nas negociações com os EUA.

— Não acho que Donald Trump saiba muito sobre Bolsonaro. Posso quase garantir que ele não acorda todos os dias pensando no Brasil. E assim que Bolsonaro deixou de ser uma referência na política brasileira e o Estado de Direito e a justiça democrática prevaleceram no Brasil, Donald Trump simplesmente o descartou — disse.

John Feeley diz ainda que Trump é imprevisível e “narcisista”, o que faz com que seja extremamente difícil negociar com ele. Dessa forma, o saldo positivo das negociações entre EUA e Brasil pode ser visto como sorte, segundo o diplomata.

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— Acho que Lula, francamente, teve sorte. E eu encorajaria tanto Lula quanto praticamente qualquer líder a se manterem fora da órbita de Trump, na medida do possível — declara.

Em 2018, o diplomata deixou o governo Trump por discordar das decisões do presidente. Atualmente ele atua como diretor executivo do Centro para a Integridade da Mídia das Américas (CMIA, na sigla em inglês).

Os 10 passos que levaram à prisão de Bolsonaro

Tarifas e sanções

Em julho, os EUA impuseram tarifas de 40% sobre produtos agrícolas importados do Brasil. Em seguida, sancionaram o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e sua esposa, Viviane Barci de Moraes, com a Lei Magnitsky. As movimentações aconteceram em meio a pressões do governo de Donald Trump para influenciar o julgamento de Bolsonaro na trama golpista.

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Um decreto foi assinado por Trump no dia 20 de novembro suspendendo as tarifas. No início de dezembro, Moraes e a esposa também foram retirados da lista de sancionados com a Lei Magnitsky, usada para punir estrangeiros que violam direitos humanos e cometem práticas de corrupção.

— Acho que a reação inicial dos Estados Unidos, ou da administração Trump, ao julgamento de Bolsonaro foi resultado direto do lobby de Eduardo Bolsonaro, seu filho, em Washington — destacou Feeley.

*Com informações de BBC Brasil