Foram 76 anos de amor e solidariedade vividos em terras argentinas. Ainda que tivesse uma boa relação com sua terra natal, os entraves políticos dos últimos anos podem ter sido um dos motivos que levaram Jorge Bergoglio, o papa Francisco, a deixar de visitar a Argentina durante os quase 12 anos que se manteve como pontífice.
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Um dos motivos, aponta reportagem da Folha de São Paulo, pode ter sido a relação desgastada com o casal Kirchner, acentuada por conta de sua atuação como um “padre das favelas”. Néstor Kirchner foi presidente argentino de 2003 a 2007, tendo sido sucedido pela esposa, Cristina, até 2015. O então presidente chegou a chamar Jorge de “líder espiritual da oposição.”
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Enquanto para alguns o até então padre era somente um antikirchnerista, para outros era um verdadeiro peronista. Porém, para ele próprio, a luta pela justiça social não o permitia que se encaixasse em nenhum lado.
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Segundo a biografia autorizada de papa Francisco “O papa Francisco — conversas com Jorge Bergoglio”, ele disse: “a questão é não se meter com a política partidária, mas na grande política dos mandamentos e do Evangelho. No lugar de fazer partidarismo, denunciar as violações de direitos humanos, a exploração e exclusão, as carências na educação e na alimentação.”
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Ao longo dos anos, essa ruptura se acentuou. Jorge foi acusado de apoiar a ditadura militar na Argentina, que durou de 1976 a 1983, por membros da corrente política do casal Kirchner. O jornalista Sergio Rubin, autor da biografia autorizada do papa, apurou informações que desmentem a versão.
Um dos fatores que prova o contrário da acusação é que Francisco auxiliou três dezenas de pessoas a se livrarem da perseguição militar, e teve uma de suas amigas assassinadas pela ditadura.
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Apesar dos atritos, Francisco ainda recebeu Cristina Kirchner em muitas ocasiões durante seu período como pontífice, aponta a Folha.
Depois, a relação com o atual presidente da Argentina, Javier Milei, também não foi fraterna, muito pelo contrário. Por acreditar que o Estado não deve ter nenhuma função social, Milei já chamou Francisco de “imbecil” e de “representante do mal na Terra”.
Conforme informações da Folha, o presidente argentino ainda teria dito que o papa teria afinidade com “comunistas assassinos” e que violava os mandamentos da igreja ao defender a justiça social. Nesta segunda-feira (21), entretanto, emitiu uma nota de pesar pela morte do papa.
Quase 12 anos após assumir o papado, Francisco não retornou mais à Argentina. Ao jornalista Nelson Castro, disse: “Como papa, em atividade ou emérito. Em Roma. Para a Argentina, não volto mais, não tenho saudades dela. Vivi lá 76 anos. O que me aflige são seus problemas.”
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