Li recentemente uma reportagem sobre as mulheres que levaram o surfe para o Irã. Shahla Yasin, Eskey Britton e Mona Seraji chegaram com as primeiras pranchas no país em 2013. Um garoto, que nunca tinha visto um surfista antes, perguntou a elas se homens também podiam surfar.
Continua depois da publicidade
No condomínio onde eu moro tem uma quadra de esportes. Não é raro ver lá meninos com seus pais jogando bola. As meninas, quando ocupam aquele espaço, quase sempre estão sentadas em roda, conversando algo que não consigo ouvir. No dia da partida que tirou a Seleção Brasileira do mundial feminino, ouvi algumas crianças gritando “gol”. Imaginei que elas estivessem assistindo ao jogo, torcendo pela Marta, Cristiane, Debinha. Mas terminou a prorrogação e os gritos continuaram. Foi quando percebi que as meninas estavam na quadra, desta vez jogando futebol.
As duas situações me fazem pensar na importância do exemplo. O menino iraniano não sabia se também podia surfar, porque até aquele momento só tinha visto mulheres praticando o esporte. As meninas do meu prédio decidiram jogar futebol logo na mesma época em que a Rede Globo, maior emissora do Brasil, transmitiu pela primeira vez a copa feminina. Coincidência? Duvido. Ainda mais em um país onde existem mais casas com TVs do que com geladeiras — segundo o censo de 2010 do IBGE, é possível encontrar televisão em 95,1% das residências brasileiras.
É por acreditar na importância e influência da comunicação que criamos a Tech Power, com o objetivo de incentivar a maior participação das mulheres no ecossistema de tecnologia. A ideia é reunir eventos, apoiar projetos de mulheres, sugerir entrevistas com especialistas em assuntos técnicos, entre várias outras coisas que vamos descobrindo no caminho. Neste processo, a gente não pode menosprezar o papel da comunicação de massa para chamar atenção de mulheres e meninas à atividade econômica mais importante da capital catarinense, que é a tecnologia. Afinal, são milhares de vagas abertas, o número tende apenas a aumentar e nós, mulheres, precisamos ocupar esses espaços.
E como fazer com que meninas e mulheres, minoria neste setor, sintam-se à vontade para concorrer a vagas em cursos como Ciências da Computação, Sistemas da Informação, Engenharia de Software? Com representatividade. Elas precisam ver mulheres desenvolvedoras, falando com propriedade sobre big data, inteligência artificial, segurança da informação, computação em nuvem, blockchain, bitcoin, machine learning, internet das coisas, cidades inteligentes — só para citar alguns temas que podem encantá-las, e, principalmente, se forem apresentados a elas por outras mulheres. Porque, sim, a gente precisa de exemplos para sabermos que somos capazes.
Continua depois da publicidade
Agora vamos falar sobre recorte social? Provavelmente um portal especializado abordará de forma muito mais aprofundada a questão das mulheres na tecnologia. Porém, eles têm um alcance significativamente menor do que os veículos generalistas. A newsletter Marie Curie, por exemplo, tem 3 mil assinantes — aproximadamente 0,001% da população brasileira. E lembram da quantidade de lares com aparelhos de TV?
Então, você que lidera iniciativas para fomentar a participação feminina na TI, é empresária do setor ou ocupa um cargo super legal numa empresa de tecnologia, precisa dar entrevistas para o jornal da sua cidade. De TV, rádio, impresso. Talvez muitas meninas conheçam apenas tios e primos, referências masculinas, que trabalhem com tecnologia. Mas se elas souberem que existem mulheres bem-sucedidas neste setor, não precisarão perguntar se também podem fazer isso. Escolher uma carreira na área será apenas tão natural quanto qualquer outra.
A Tech Power é uma iniciativa que busca ampliar a participação e liderança feminina no setor tecnológico da Grande Florianópolis por meio da comunicação. O projeto foi criado por mulheres que trabalham na Dialetto, empresa de assessoria de imprensa e marketing digital especializada em tecnologia. Saiba mais.