A insistência de Donald Trump em taxar países em nome de um protecionismo exacerbado à economia norte-americana pôs o Brasil no alvo na última semana. Os 50%, anunciados na quarta-feira (9), levaram a economia brasileira a ser a mais afetada entre os países notificados em uma ação que mais tem ares de retaliação política disfarçada de forma medíocre. Ao citar o ex-presidente Jair Bolsonaro no começo da carta enviada a Lula, Trump assume a narrativa da extrema direita numa decisão ideológica que pode prejudicar milhões e milhões de pessoas.

Continua depois da publicidade

A carta, que conta com trechos ácidos e que cita até “caça às bruxas”, soa como uma decisão econômica baseada em “tios do zap” quando se refere a uma mitológica e fantasiosa perseguição do Supremo Tribunal Federal (STF) às plataformas de mídias sociais dos Estados Unidos — em uma clara referência às questões que envolveram o X (antigo Twitter) e o ministro Alexandre de Moraes há alguns meses. Na prática, o texto porcamente expõe uma justificativa à taxação, menciona uma série de hipotéticas “injustiças” comerciais históricas entre EUA e Brasil e ameaça taxar ainda mais as indústrias brasileiras em caso de uma eventual retaliação. Diante de tanta bizarrice, o Governo brasileiro reagiu com tranquilidade, firmeza e bom senso.

Fato é que esses rompantes esporádicos de Donald Trump de nada ajudam os dois lados da história, prejudicam e desequilibram o comércio bilateral entre os dois países e provocam um verdadeiro efeito dominó que só vai terminar no consumidor final — o principal afetado com possíveis aumento de custos e inflação. Negociações, acordos comerciais e diálogo foram, e sempre serão, as principais saídas para países democráticos articularem sobre questões econômicas — e não com o uso de tarifaços como armadilhas políticas à margem de soluções
multilaterais.

Além de tudo, não é possível ignorar, em um contexto globalizado, que os países têm diferentes cadeias produtivas para reduzir dependências econômicas, o que significa que taxar aliados pode se tornar um problema para os próprios Estados Unidos frente a uma concorrência com rivais como a China. É uma verdadeira relação perde-perde, em que o poderoso país de Trump também tende a sofrer com uma erosão econômica, enquanto ao Brasil caberá a incessante busca por novos parceiros comerciais.
Um desgaste desnecessário de saliva e de esforços em mais uma peça pateticamente radical que vem de Trump, com seus rompantes antidemocráticos e intimidatórios.

E tudo isso se Trump não recuar a qualquer momento — o que não é de se duvidar.

Continua depois da publicidade