Missas sem fiéis, fotos de pessoas nos bancos para simbolizar a presença e transmissões on-line com o objetivo de manter vivas as celebrações. A Semana Santa de 2020 é, provavelmente, a mais diferente das últimas décadas para a Igreja Católica por conta da pandemia do novo coronavírus.

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E aqui no Vale não é diferente. Dezenas de paróquias se reinventam para levar a palavra divina àqueles que estão em quarentena, cuidando das famílias para evitar o contágio da Covid-19.

E para entender melhor esse momento, o Santa entrevistou o Padre João Bachmann, conhecido em Blumenau, mas que hoje está na Paróquia Santa Inês, em Indaial. Em pauta, o significado desse momento para a igreja e as lições do coronavírus para a sociedade.

Confira.

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O que significa esse momento para a Igreja Católica?

Nesse drama da pandemia que vivemos, penso que vamos descobrir que a vida não é só servir. É ver que a vida também é um serviço, e que sem isso ela perde sentido. Temos que nos deixar guiar pela palavra de Deus nesse momento de dor, e nos colocar no lugar de Cristo, que também sofreu muito na Semana Santa. Devemos nos amar uns aos outros. Deus, por exemplo, comprovou o amor no nascimento, na manjedoura, no lava-pés, e no dia a dia, na presença de cada pessoa. Dessa vez, diante dessa pandemia, o nosso inimigo não é a morte, como foi para Jesus. Ele é invisível, implacável, e fez com que os líderes de todas as nações ficassem assustados como se fossem crianças. As nossas tradicionais armaduras falharam. De nada adiantou poderio econômico, força política, dinheiro. A doença que mata aqui, mata do outro lado do mundo. Somos iguais, e o amor é o melhor remédio, é a maior cura.

Porque o amor nos deixa em casa, cuidando da nossa família, e é isso que precisamos levar em conta. Cada um com seu egoísmo, com suas metas, seus números, não serve de nada se não cuidarmos das pessoas.

A Páscoa é um período tão importante para os fiéis. Como está sendo planejar as celebrações sem pessoas?

É uma nova realidade para enxergar, com as pessoas acompanhando de casa, sem a presença na comunidade espiritual. É um momento de parar de enxergar só o lado de fora, dos chocolates, das roupas, dos presentes, e sentir a verdadeira Semana Santa e toda sua liturgia. É celebrá-la com a família, com cuidados dentro de casa. Se cada um cuidar da sua família, ninguém ficará doente, e a gente logo se livra dessa enfermidade.

Como é rezar missas sem os fiéis ao lado? É estranho?

É um sentimento parecido com o sentimento de Jesus, que é de solidão, de estar sozinho. Quando você reza para meios de comunicação, você está rezando para câmeras, para máquinas fotográficas. É diferente quando o fiel não está ali, e você olha, e não há ninguém. Mas sabemos que as pessoas estão em casa, nos acompanhando.

Mas é diferente, claro. É a primeira vez em 28 anos como padre que passo por isso, celebrando sem a presença física dos fiéis. É um sentimento de solidão.

É o momento da Igreja Católica se reinventar, principalmente em missas on-line, para seguir presente?

Também. É uma nova ótica. Criatividade de ir ao encontro das famílias. Que 2020 nos leve ao entendimento de que é preciso sair do meio em que nós estamos e em que as pessoas estão, e ir ao encontro das casas, dos lares, e fazer esse apostolado de evangelização com um contato e comunhão. É uma nova forma, um novo entendimento.

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Como será quando tudo isso passar, na avaliação do senhor?

Quando tudo isso passar, será um momento de alegria, de ação de graças. Fases difíceis trazem grandes reflexões, algumas até incômodas. Nos faz sair do individualismo, do egoísmo, coisas tão marcantes.

Temos a condição de deixar um grande legado para as gerações que vêm, para que as pessoas saiam do “eu”, da bolha do conforto, do espiritual, para irmos ao lado mais humano que temos.

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