A ideia de que as eleições são um momento de “festa da democracia” se tornou um clichê nas últimas décadas. Mas a analogia não existe sem razão. A reconquista ao direito do voto após anos de ditadura militar e a inclusão dos analfabetos nas votações, por exemplo, com uma emenda constitucional em 1985, alimentou a sensação de ida às urnas como um momento de celebração do espírito democrático. É a ocasião em que, a despeito das desigualdades, o voto de cada um possui o mesmo valor. A uma semana do primeiro turno das eleições municipais de 2024, esse sentimento continua a mobilizar eleitores para exercer sua cidadania por meio do voto.
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Saiba tudo sobre a campanha e a apuração das Eleições 2024 em SC
A celebração da democracia atrai novos convidados a cada eleição. O estudante Bernardo Zoz, de Blumenau, tem 16 anos, mas já entende bem a importância do direito ao voto. Ele é um dos 40 mil eleitores com idade entre 16 e 17 anos aptos a votar neste ano em SC — o número aumentou 82% em relação a 2020. O jovem garantiu o título de eleitor antes mesmo de completar a idade mínima para votar, o que ocorreu em julho. A iniciativa partiu do próprio adolescente, mesmo estando na faixa etária em que o voto ainda é facultativo.
— Eu pensei: “Não vou perder essa chance”, então disse para minha mãe que iria fazer meu título. Chamei um amigo e ele fez também, junto comigo. Acho que mais importante que votar é mobilizar as pessoas — conta o rapaz.
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Bernardo começou a se interessar por política durante a pandemia, quando teve mais tempo para analisar debates on-line das eleições de 2020. Desde então usa a internet não só para consumir os conteúdos como para expor as próprias crenças. Pelas redes sociais compartilha as ideias que defende e acompanha os políticos de que gosta. Já na vida fora das telas, aposta no diálogo. Estudante de ensino médio em um colégio particular, nas rodas de conversa com os amigos o assunto com muita frequência acaba em política.
O garoto não só já decidiu em quem votar, como fiscaliza gastos públicos e outras ações pelos portais da transparência da prefeitura e Câmara de Vereadores. Atento a isso e às notícias, utiliza as informações para debater temas importantes com os colegas e os pais. Filho único, acredita que as escolhas na eleição de 2024 podem ter divergências em casa, mas não encara isso como problema. Apesar da pouca idade, o blumenauense sabe que parte da essência da democracia está na diversidade de opiniões e na liberdade para expressá-las.
O cientista social e professor da Furb, de Blumenau, Josué de Souza, afirma que a entrada de novos eleitores no processo é importante por reforçar a confiança no sistema democrático. Ele explica que nos últimos 10 anos a política não saiu da boca das pessoas, tornando-se mais presente nas discussões do dia a dia. Isso ocorre “para o bem e para o mal” — se por um lado podem atingir amizades, por outro deixou explícito que o trabalho da política faz diferença nas suas vidas.
— A democracia não é o regime que esconde a discordância. Pelo contrário, ela coloca isso em público e no espaço político, seja no parlamento, na sociedade civil, na universidade, na imprensa. Se não der na discussão política, nós iríamos para a barbárie — conta.
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Souza considera que, por serem as primeiras eleições após os ataques de 8 de janeiro, quando o sistema eleitoral foi colocado à prova, as disputas deste ano têm ainda mais relevância. Para ele, agentes que questionaram o sistema de eleição agora disputam votos sem questionamentos — prova de que ele é seguro e confiável.
* Colaboraram Bianca Bertoli, Nathalia Fontana e Fernanda Silva
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Cidadania motiva eleitores mais experientes
O apreço à democracia permanece forte também em eleitores bem mais experientes. O morador da Vargem Grande, na região Norte de Florianópolis, Gentil Conceição, participou de diferentes formas das eleições. Em 1990, concorreu a deputado estadual. Hoje aos 68 anos, no papel de eleitor, segue tendo satisfação em comparecer às urnas e reafirmar a confiança no processo democrático.
— Eu gosto de participar do processo. Tudo se resolve através da política. Se você não participar, tua rua, o teu bairro, o sistema não funciona. Então tem que escolher bem. Se não escolher bem o processo, você acaba dançando no futuro — afirma.
A aposentada Nely Cardoso, 82 anos, moradora do Kobrasol, em São José, também diz gostar de participar da política. Ela é uma dos 488 mil eleitores com mais de 70 anos em SC, que também estão desobrigados do voto pela lei. Ainda assim, faz questão de escolher bem e ir às urnas.
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— A gente tem que dar valor à pessoa em quem vai votar, calcular, porque não é escolher qualquer pessoa — frisa.
O cientista político e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Julian Borba, pontua que eleições são um momento fundamental por serem o único mecanismo pelo qual há oportunidade de escolher nossos governantes.
— É a oportunidade que temos de fazer a escolha, premiar aqueles que desempenharam bem suas funções e punir aqueles que eventualmente achamos que não as desempenharam tão bem. É através das eleições que fazemos o controle dos nossos representantes — avalia.
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Eleição é vista como ato de afirmação
Mesmo sem ser obrigado a votar há pelo menos quatro eleições, o aposentado Edson Luiz Abdala, 78 anos, faz questão de ir às urnas e cumprir o que considera uma obrigação de cidadão. Edson atuou alguns anos atrás como presidente de mesa no dia da votação e adquiriu o hábito de verificar as apurações dos votos nas seções. Morando há três anos em Joinville, ele disse que já escolheu os candidatos após buscar conhecê-los por propagandas de rádio, TV e publicações impressas.
— Levei em consideração a idade das pessoas, a função que desenvolvem. A forma dele se portar, a índole dele e a forma com que ele se dirige à gente — explica.
Para ele, participar da eleição é sempre um momento especial.
— É um sentimento de missão de cidadão cumprida como participante da democracia — afirma.
O doutor em Ciência Política e professor da faculdade Ielusc, de Joinville, João Kamradt, confirma que é comum a ideia de que as eleições são o momento mais importante da democracia. Segundo ele, embora as pessoas tomem decisões políticas em diferentes gestos do dia a dia, no contexto atual a eleição é vista como uma celebração e um ato de afirmação para discutir ou redefinir crenças.
— A democracia é a capacidade de celebração do que é diferente, da busca pela equidade.
O especialista afirma que as redes sociais facilitaram a tarefa do eleitor de acompanhar o trabalho dos candidatos ao longo do mandato. No entanto, ainda assim a eleição serve como momento único para o eleitor exercer seu papel e sua voz.
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— O maior incentivo para isso é simples: se o eleitor se abstém, não tem interesse em votar, ele abdica do direito, entrega isso a outras pessoas e depois não poderá cobrar mudanças — sustenta.
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