Em Capivari de Baixo, no Sul de Santa Catarina, a comunidade quilombola da Taboa, também conhecida como Ilhotinha, mantém viva uma herança que atravessa séculos. Quilombo, em línguas africanas, significa “acampamento” ou “comunidade”. É exatamente esse espírito, de união, ancestralidade e resistência, que se vê no território, onde vivem mais de 450 pessoas.
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Ser quilombola, conforme explica a moradora Rosinete Mendes Baldoino, é carregar uma história anterior ao próprio Estado brasileiro.
— É valorizar a antiguidade, a cultura, o que a gente tinha e fazia — resume.
A formação de quilombos no Brasil remonta aos séculos 17 a 19, quando pessoas escravizadas fugiam para áreas de difícil acesso e organizavam novos modos de viver em coletividade.
Segundo Normélia Ondina Lalau de Farias, coordenadora do Neabi (Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas) da Unesc (Universidade do Extremo Sul Catarinese), a existência desses territórios revela um passado que muitas vezes não aparece nos livros.
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— Se nós temos quilombos hoje, ainda nos dias de hoje, é porque também nós tínhamos pessoas escravizadas aqui nesse estado — afirma.
Dentro da Taboa, uma figura tem papel central: o griot, guardião da tradição oral africana. Carlos Mendes é um deles. Ele explica que o quilombo é o espaço onde esse conhecimento circula e se renova. “É ali que nós bebemos dos saberes orais da nossa ancestralidade e buscamos repassar aos mais jovens”, destaca. As informações são do Jornal do Almoço.
Crochê como herança e sustento de famílias
Entre casas simples, caminhos de terra e conversas na varanda, o empreendedorismo tem se tornado uma forma de fortalecer laços e gerar renda. A artesã Rosângela Machado produz peças de crochê há mais de 40 anos.
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Aprendeu observando uma vizinha e nunca mais deixou a agulha de lado. “Eu faço blusa, vestido, colcha, tapete, caminho de mesa, pano de prato… Foi indo, foi se espalhando, e hoje eu vendo bastante”, conta.
Rosinete Baldoino também aprendeu criança, com a mãe, e agora ensina às netas, porque, no quilombo, conhecimento é herança.
— Eu quero que elas tenham uma fonte de renda, e também é um passatempo bom. […] Os sábios sempre dizem: as crianças devem sempre estar do lado dos adultos, que vão aprender muitas coisas boas — afirma.
As peças já circulam dentro e fora da comunidade, inspirando as mais novas. Heloísa, de 9 anos, decidiu seguir o mesmo caminho: “Todo mundo tava fazendo toalha, roupa… Aí eu decidi fazer pra ver como é que era”.
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Tradição que vira negócio
Outra prática que atravessa gerações é a produção de sabão artesanal, tradição que nasceu do coletivo. Antigamente, mulheres se reuniam nas fontes de água para lavar roupas, trocar histórias e fortalecer vínculos.
— Elas lavavam, contavam suas vidas, e tudo transmitido na base da oralidade — explica Camila Mendes Baldoino, liderança da comunidade.
Essa memória inspirou Franciele Baldoino a transformar o saber da avó, que era benzedeira, em um empreendimento.
— Eu era pequena e via ela fazendo o sabão, atendendo muita gente. Eu pensava: que vontade de fazer algo que venha cuidar do espiritual, do nosso povo e da gente — relata.
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As iniciativas das mulheres da Taboa ajudam a manter viva a cultura quilombola e a criar novas oportunidades de renda. Segundo Camila, preservar os costumes é também reafirmar identidade.
— A gente consegue levar nossa cultura para outros espaços e gerar renda dentro do território — reforça.





