Os prejuízos econômicos causados por eventos climáticos extremos acendem um alerta sobre os riscos associados ao aquecimento global e à necessidade de preparação da população, dos governos e das instituições para enfrentar estes desafios. Danos à infraestrutura e à produção levam a altos custos para reconstrução das cidades, prejudicam as receitas das empresas e a arrecadação de impostos, tendem a elevar prêmios dos seguros e a interromper cadeias de distribuição.

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Os volumes financeiros são tão representativos que, no setor público, o governo central brasileiro somente cumpriu a meta fiscal do ano passado desconsiderando os gastos com o Rio Grande do Sul, que sofreu com fortes enchentes. Dados do Tesouro indicaram despesas extraordinárias de quase R$ 32 bilhões que não estão consideradas no cálculo, mas que foram necessárias para a reconstrução e mitigação de danos no estado.


Brasil já teve prejuízo bilionário com eventos climáticos extremos


O Brasil amargou um prejuízo de R$ 45,9 bilhões com eventos climáticos extremos relacionados somente a chuvas torrenciais e enchentes entre os anos de 2020 e 2023, de acordo com um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).


No Sul do Brasil, apenas no ano passado, o prejuízo foi ainda maior. As enchentes que ocorreram no estado vizinho do Rio Grande do Sul levaram a um prejuízo de R$ 87 bilhões, conforme projeções do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).


A maior parte dos danos no Rio Grande do Sul no ano passado ocorreu no agronegócio e infraestrutura, com estabelecimentos comerciais que ficaram alagados, foram danificados ou totalmente destruídos. Agora, com seca e estiagem, as safras de produtos como soja, milho e arroz são novamente afetadas e preocupam agricultores.

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Outro levantamento, elaborado por Marcos Kazmierczak, engenheiro florestal e doutor pela Unesp, que considera os anos de 1993 a 2002, indica que o Rio Grande do Sul teria registrado prejuízos de R$ 100,8 bilhões causados por eventos extremos climáticos – praticamente 20% do total no Brasil. Os valores em Santa Catarina somariam R$ 37,266 bilhões no período.


Mais recentemente em Santa Catarina, chuvas intensas em meados de janeiro deixaram diversas cidades em situação de emergência devido a alagamentos e deslizamentos. Empreendimentos e casas alagadas, carros totalmente submersos e até uma cratera na BR-101 foram destaque nos principais noticiários do Brasil.


Com eventos extremos recorrentes no país, como enchentes, calor extremo e estiagens, o cenário exige muito trabalho, com ações de adaptação e mitigação de danos, segundo Cristine Kaufmann, analista de Investimento Social e Estratégico do Sicoob SC/RS.

A maior parte das cidades não está preparada para enfrentar as mudanças climáticas, pois não têm planos de mitigação, preservação e adaptação. Com sistemas de escoamento problemáticos, a especialista entende ser muito mais custoso para as empresas e para o governo reparar os danos do que se preparar para enfrentá-los.

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Além disso, Kaufmann detalha que ocorre ainda a inflação climática, com aumentos dos preços impulsionados pelas instabilidades do clima e consequentes efeitos na produção agrícola, encarecendo esses produtos para o consumidor final.


“O produto símbolo dessa inflação climática esse ano é o café, que já teve muitos aumentos e ganhou fama por estar muito caro”, ressalta a analista, mas outros produtos alimentícios também pressionaram o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2024, a inflação dos alimentos atingiu 7,6%, contra 4,8% do indicador geral oficial.


Como ficam os seguros nos casos de eventos climáticos extremos?


Com as fortes chuvas neste início de ano em Santa Catarina, proprietários de automóveis solicitam suas indenizações às seguradoras, aumentando o volume de sinistros. No caso de veículos submersos, as perdas são totais, com pagamento ao segurado com apólice completa. Para os produtores rurais, o seguro agrícola traz uma proteção contra os eventos climáticos como estiagem e excesso de chuvas, podendo incluir a produção, maquinários, entre outros itens.


Como forma de prevenção individual, seja para um carro ou para a produção agrícola, é importante ter um seguro adequado, segundo a especialista. Outra orientação é obter uma reserva financeira com recursos que são destinados para pagamentos além dos valores segurados ou para quando não há cobertura do seguro.

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Adotar essas estratégias, é uma forma de se precaver dos eventos climáticos extremos, que agora são uma realidade em nossas vidas, não temos mais como fugir”, alerta a especialista.


No caso de itens não segurados, instituições financeiras, algumas vezes em parceria com governos, atuam na mitigação dos desastres e recuperação dos bens. São disponibilizadas, por exemplo, linhas de crédito especial, suspensão de pagamentos e melhores condições para quitação, com diminuição da taxa de juros. Se necessário, alguma linha específica também pode ser criada.


A especialista lembra que, no caso do Rio Grande do Sul, uma série de medidas foram tomadas, como a flexibilização e postergação de pagamentos, aportes diretos e até uma campanha via PIX.


Outro olhar para a sustentabilidade no sistema financeiro


A adaptação às mudanças climáticas requer um trabalho em conjunto, com governos, empresas e cidadãos, visando a redução das emissões de gases estufa e direcionamento de recursos para projetos atrelados a finanças sustentáveis.

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“Muitas instituições já estão se posicionando para combater o crédito ruim ou o crédito mal-empregado e fortalecer o crédito social e o crédito verde”, reforça.


A especialista aponta que as mudanças climáticas são tema prioritário em instituições no sistema financeiro. No Sicoob, há um plano de sustentabilidade sistêmico, oferecendo aos associados soluções que os tornem agentes de transformação por meio das finanças sustentáveis, com recursos econômicos destinados a projetos de caráter verde e social.


A instituição de crédito define as categorias de possíveis linhas, mas, como a cooperativa cria um relacionamento muito forte com o associado, está próxima da comunidade, as linhas de crédito verdes são adequadas às necessidades regionais, visando a promoção do desenvolvimento econômico, social e ambiental.


O cliente que acessa o crédito precisa responder a alguns critérios para garantir que a instituição financeira aporta recursos em projetos e ações sustentáveis. Os valores podem ser disponibilizados para microempreendedores individuais (MEIs), micro e pequenas empresas, para agricultura sustentável, desenvolvimento social, ambiental e econômico das comunidades, entre outras frentes.

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A especialista reforça ainda a importância do papel das cooperativas em ações que visam melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano, auxiliando, inclusive, famílias a deixarem programas de transferência de renda e apoiando a melhoria da produtividade no agronegócio. Assim, as cooperativas de crédito têm exercido papel fundamental na promoção da resiliência financeira das comunidades e das empresas.


“Por não sermos um banco tradicional, a gente trabalha com taxas mais justas. O papel das cooperativas desde a sua fundação é promover o desenvolvimento econômico, social e ambiental das comunidades”, ressalta.


O cooperativismo de crédito foca na personalização e proximidade – o que requer presença física nas agências, principalmente nos municípios onde não há pontos de atendimento de instituições financeiras. Segundo a especialista, o Sicoob possui a maior rede de agências entre as instituições financeiras do País, com 2,4 mil pontos de atendimento e em 400 deles o Sicoob é a única instituição financeira da cidade.