As tarifas de 50% sobre a exportação de produtos brasileiros para os Estados Unidos devem entrar em vigor no dia 6 de agosto, próxima quarta-feira. Contudo, as empresas de Santa Catarina que exportam para o país já sentem os impactos da medida desde o anúncio, feito no dia 9 de junho.

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Uma pesquisa realizada pela Federação das Indústrias de SC (FIESC) mostrou que 69,23% das indústrias exportadoras já tiveram recuo no volume de pedidos dos importadores norte-americanos.

Ainda, 53,84% das empresas exportadoras precisaram realizar a suspensão de embarque de mercadorias, o que, segundo o economista chefe da Fiesc, Pablo Bittencourt, deve resultar em aumento dos estoques das mercadorias no Estado.

Entre os participantes da pesquisa, 38,46% alegaram que já houve negociações com clientes norte-americanos para redução de preços, o que também acarreta em impactos para o faturamento. Além disso, 17,69% das indústrias precisaram adotar férias coletivas por conta das tarifas.

— A pesquisa mostra que as perspectivas do setor para os próximos seis meses são de um cenário de redução de pedidos, demissões e recuo significativo no faturamento, demandando uma ação rápida e assertiva do poder público, de forma a preservar empregos e a nossa economia — resume Mario Cezar de Aguiar, presidente da FIESC.

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A pesquisa também questionou quais devem ser as consequências futuras no caso da implementação das tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros. Entre os participantes, 61,40% afirmaram que já estão avaliando o redirecionamento da produção para outros mercados, o que mostra uma busca de adaptação da indústria catarinense. Pablo Bittencourt destaca, contudo, que esse trabalho de abertura de mercados não acontece da noite para o dia e é resultado de um trabalho extenso.

Além de futuros anúncios de férias coletivas (42,5%), as exportadoras mencionaram como possíveis impactos a incapacidade de honrar compromissos com fornecedores (37%) e com o sistema financeiro (33,9%), o que pode ocasionar impacto na cadeia de produção e aumento do nível de endividamento. As pequenas empresas devem ser as mais afetadas no curto prazo. 

Em Santa Catarina, o setor de produtos de madeira é o que possui a maior participação dos Estados Unidos no total de exportações, equivalente a 22,2%. Isso significa que do total de produtos exportados no segmento, 22,2% vão para o país.

A participação do país nas exportações de Santa Catarina é de 14,9%, sendo que no país o estado que lidera esse índice é o Ceará, com de 44,9%. A participação dos Estados Unidos se concentra no Planalto Norte, Alto Vale do Itajaí, Serra e Centro-Norte, onde há também uma maior produção madeireira.

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Veja dados do impacto do tarifaço em SC

Queda na receita deve atingir 93,8% das exportadoras

A queda na receita deve atingir 93,8% das exportadoras, sendo que 51,2% delas preveem perdas de mais de 30% no faturamento. Já 21,7% das empresas projetam perdas entre 10 e 20%, enquanto 20,9% das indústrias estimam uma redução de até 10%. Somente 6,2% afirmam que não haverá queda.

O reflexo das tarifas também deve ser visto nos empregos, com 72,1% das indústrias pesquisadas estimando demissões. Entre elas, 29,5% projetam cortes de mais de 30% dos empregados, enquanto 22,5% estimam demitir entre 10 e 20%. Ainda, 21,7% das indústrias afirmam que a expectativa é demitir até 10% da equipe nos próximos 6 meses se as tarifas continuarem em 50%. Apenas 27,9% das exportadoras não preveem demissões como consequência das tarifas.

— Esses são dados relevantes para considerarmos na elaboração de políticas públicas para minimizar o efeito do tarifaço. A perda de receita, combinada com endividamento, têm reflexos diretos sobre os níveis de emprego — destaca o economista chefe da Fiesc. 

Isenção de produtos

A Fiesc destacou na apresentação dos resultados da pesquisa que, de forma geral, os principais produtos da pauta exportadora de Santa Catarina não estão na lista de produtos isentos. A presidente da Câmara de Comércio Exterior da FIESC, Maria Teresa Bustamante, afirma que, contudo, a situação dos exportadores de SC deve ser avaliada caso a caso, por conta da longa lista de exceções.

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— Os produtos de madeira e derivados, como móveis, que lideram as exportações catarinenses para os Estados Unidos, estão sob investigação. Até o fim da investigação, essas mercadorias seguem sendo tarifadas com alíquotas anteriores ao anúncio do tarifaço — explica.

Ela também explica que o segmento de veículos e autopeças, segundo a lista dos principais produtos, tem taxa fixada em 25%, a mesma para todos os países do mundo, sem a sobretaxa de 50%.

— A lista de produtos isentos é extensa e muito particular. Um setor pode ter produtos dentro e fora da lista. Cabe à indústria avaliar com cuidado o documento e identificar possíveis exclusões considerando a classificação de cada um de seus produtos conforme a Comissão de Comércio Internacional dos EUA — detalha.

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