A inteligência artificial deixou de ser uma promessa distante para se tornar um elemento concreto do dia a dia dos empreendedores brasileiros. A integração de IA em ferramentas de trabalho, antes restrita a grandes corporações, hoje faz parte de rotinas das micro, pequenas e médias empresas, que utilizam assistentes generativos, chatbots, sistemas analíticos e soluções integradas em softwares de gestão para organizar operações, melhorar decisões e reduzir custos. A popularização desses recursos se dá em um cenário de oferta crescente de plataformas acessíveis, acompanhada da maturidade digital que se espalha pelo setor produtivo.
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Pesquisas recentes mostram como esse movimento tem ganhado escala: segundo a Pesquisa de Inovação Semestral do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 41,9% das empresas brasileiras com 100 ou mais funcionários já utilizam IA em algum nível. Entre as pequenas e médias empresas, um levantamento da Serasa Experian indica que 47% usam ou planejam usar alguma solução ligada à IA. Já entre os microempreendedores e pequenos negócios, o Sebrae indica que o percentual de uso sobe para 44%, considerando desde chatbots e ferramentas generativas até reconhecimento facial e sistemas de GPS. No ecossistema de startups, a adoção dessas ferramentas é ainda mais elevada: 78% delas já utilizam IA em seus processos, segundo estudo do Sebrae Startups e da ACE Ventures.
A engenheira civil Rafaela Fabris vem aplicando ferramentas de IA em seu trabalho e, em sua avaliação, essas ferramentas estão transformando o cenário:
— As empresas têm buscado cada vez mais profissionais que já dominem essas ferramentas ou que estejam dispostos a aprender. Entender IA deixou de ser um diferencial e passou a ser uma necessidade. Essa mudança vem principalmente da demanda por mais agilidade na produção, seja na elaboração de projetos, na análise de dados, na geração de documentos técnicos ou na comunicação com clientes. A cultura organizacional está se tornando mais orientada à inovação, à eficiência e à aprendizagem contínua, criando ambientes onde a tecnologia entra para complementar e potencializar o trabalho dos engenheiros.
IA no dia a dia
No cotidiano empresarial, a IA aparece primeiro em atividades de comunicação e produção de conteúdo. Assistentes generativos ajudam na elaboração de e-mails, propostas comerciais, textos de marketing, descrições de produtos e até roteiros de vídeo, oferecendo agilidade, padronização e economia de tempo. Ferramentas de atendimento adotam processamento de linguagem natural para responder dúvidas frequentes, registrar pedidos e filtrar demandas antes de repassá-las ao time humano, reduzindo o tempo de espera e os custos operacionais.
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Nas áreas administrativa e financeira, a automação ganhou força com a integração de IA a sistemas de gestão empresarial (ERPs), sistemas de gestão de relacionamento com o cliente (CRMs) e plataformas de e-commerce. Esses sistemas realizam classificação automática de despesas, conciliam pagamentos e oferecem projeções de fluxo de caixa com base em dados históricos. No caso de empresas que lidam com grande volume de transações, isso reduz erros manuais e favorece decisões mais rápidas e embasadas.
No marketing digital e nas vendas, algoritmos otimizam campanhas de anúncios, ajustam segmentações, analisam desempenho e sugerem melhorias. Sistemas de recomendação apontam produtos com base no histórico do consumidor e ferramentas de análise de sentimento interpretam avaliações e comentários, fornecendo indicadores sobre a percepção do cliente.
Na gestão operacional, a IA é usada para prever demandas, planejar estoques, reduzir perdas e evitar rupturas. Em setores industriais, sensores combinados com algoritmos de machine learning permitem manutenção preditiva, identificando sinais de desgaste antes de falhas que possam paralisar operações. Esses recursos, antes restritos a grandes plantas industriais, agora aparecem em pequenas empresas com acesso a soluções plugadas em nuvem.
Para a engenheira Rafaela Fabris, a principal ferramenta é são os agentes de IA, que funcionam como um apoio para acelerar e expandir seu trabalho, sobretudo nas etapas que exigem produção técnica de texto, como elaboração de laudos, pareceres e relatórios. Segundo ela, a IA também facilita muito o trabalho colaborativo a distância:
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— As ferramentas permitem que eu organize ideias, valide informações e refine entregas com mais agilidade, mesmo quando estou atuando com equipes em diferentes locais. Sem dúvida, as fases de estruturação, revisão e comunicação escrita dos trabalhos técnicos são as que mais se beneficiam desse suporte.
No setor da construção, ela avalia que o uso de IA tem ampliado muito as oportunidades de empreendedorismo em Santa Catarina:
— A tecnologia permite que profissionais identifiquem problemas reais do mercado e desenvolvam soluções mais rápidas, eficientes e escaláveis, desde softwares para gestão de obras até ferramentas de orçamento, análise de riscos, inspeção predial e modelagem. Além disso, a IA reduziu barreiras de entrada, e hoje é possível testar ideias, validar modelos de negócio e criar MVPs com custos muito menores. Isso tem estimulado engenheiros a empreender, seja oferecendo serviços mais especializados, seja criando startups dentro do próprio ecossistema da engenharia.
Impactos e desafios
Os impactos dessa adoção já são percebidos no ganho de produtividade. Ao automatizar tarefas repetitivas, a IA libera tempo de empreendedores e equipes para atividades estratégicas, como desenvolver produtos, melhorar processos ou fortalecer o relacionamento com clientes. A tomada de decisão também se torna menos intuitiva e mais orientada por dados, já que as ferramentas analíticas ajudam a entender tendências, sazonalidades e comportamentos de compra. No setor de engenharia, Rafaela avalia que a IA não substitui a responsabilidade técnica:
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— As ferramentas apoiam, mas quem decide é sempre o profissional habilitado. Por isso, é essencial ter senso crítico para checar informações, evitar vieses e garantir conformidade com normas e legislações. E um outro desafio é a qualidade dos dados, pois, se a base de informações estiver incompleta ou desatualizada, o resultado gerado pela IA pode levar a interpretações equivocadas. Também é preciso considerar a segurança da informação e privacidade, principalmente ao lidar com projetos sigilosos, laudos, avaliações e documentos que envolvem terceiros.
Ela destaca ainda o desafio cultural, que passa pela capacitação de equipes, ajuste de processos internos e fomentação de uma mentalidade de inovação contínua:
— A IA é uma ferramenta poderosa, mas precisa ser aplicada com método, responsabilidade e supervisão para realmente agregar valor aos processos de engenharia.
Apesar desses obstáculos, a tendência é de expansão. Com oferta crescente de ferramentas acessíveis, queda nos custos de entrada e ampliação de cursos e consultorias oferecidos por instituições como Sebrae, mais empresas devem migrar de usos pontuais da IA, como a geração de textos e atendimento automatizado, para aplicações integradas à gestão, como previsão financeira, análise de dados avançada e automação de processos. Para os empreendedores, isso significa uma oportunidade de ganhar eficiência, escalar operações e competir em condições melhores, desde que a tecnologia seja adotada com planejamento, supervisão humana e atenção aos impactos regulatórios.
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O Gestão de Valor conta com o oferecimento de CREA-SC e Vick IA e apoio de Senac. Realização NSC.

