Depois de desembarcar no Brasil em 1994 e cursar um mestrado na área de Produção e Qualidade, a francesa Valérie Coudray se viu em busca de um novo caminho que a possibilitasse continuar vivendo em Florianópolis. Em uma conversa de final de semana com o marido, sentiu falta dos croissants da França e decidiu solucionar esse problema.
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— Foi em um final de semana que a gente comentou “o que você quer de café da manhã?” e eu falei: “eu queria um croissant”, e não tinha — conta ao NSC Total.
Durante a graduação em Comércio Exterior na França, Valérie trabalhou duas vezes em uma padaria tradicional francesa. Por isso, conhecia bem a receita dos croissants, que logo começou a reproduzir no Brasil.
Na época em que abriu a empresa, a receita ainda não era amplamente conhecida em Florianópolis, então o trabalho foi também de divulgar o produto. Com isso, a francesa começou a produzir para uma cafeteria na Lagoa da Conceição e, na base do “boca a boca”, outros comerciantes começaram a conhecer os croissants e a encomendá-los.
— Florianópolis não tinha esse hábito, no início as pessoas nem sabiam o que era croissant. Então foi um trabalho bem de divulgação, de mostrar a qualidade do produto, aí deu certo — relembra.
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Os primeiros croissants foram feitos em 1998 e a empresa Croissants de France foi aberta em 2003, também em Florianópolis. Logo o negócio foi se ampliando, atendendo, além da capital, o restante de Santa Catarina e outros estados. Valérie explica que a expansão só foi possível com a ampliação para a área dos congelados, que possibilitaram uma logística mais flexível de entrega, diferente dos produtos assados.
Com isso, foi possível atender um outro leque de clientes, como o ramo de hotelaria, em um volume maior e com entregas semanais e mensais, a depender da demanda. Além, ainda, do envio para outros estados através de transportadoras. Atualmente, 90% do volume de vendas é de produtos congelados.
Croissant de Florianópolis para o Brasil
A fábrica ainda atende franquias de cafeterias, como a Café du Centre e o Café Cultura, padarias, além de abastecer boa parte da rede hoteleira de Florianópolis com croissants, com hotéis como Sofitel, Majestic, Blue Tree Towers, Jurerê Beach Village, Vilas del Sol y Mar, e a rede de supermercados Hippo.
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Com sede em Florianópolis, a empresa conta com 14 colaboradores e atende diferentes regiões de Santa Catarina, assim como os estados do Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Mato Grosso. Com foco no congelados, os pedidos de croissants assados hoje em dia são somente de clientes mas antigos e próximos.
— A gente tem duas linhas, a linha Classic, que é o tamanho maior, que são 10 unidades do pacote, e a linha Mini. A linha Mini é mais para hotelaria, mas também panificadora, para venda a quilo. O simples é o carro chefe da gente, o simples grande e o simples mini, mas no total a gente tá com vários recheios, totalizando uma linha com 19 produtos — detalha a diretora geral da Croissants de France, hoje aos 56 anos.
A produção da fábrica localizada no bairro Carianos, no Sul da Ilha, gira em torno de 12 toneladas de croissants por mês, local onde são realizados todos os processos de fabricação do produto até o envio para os clientes. A receita dos croissants é tradicional francesa, a mesma que Valérie usava quando trabalhou em uma padaria na França há 30 anos. Mas, claro, com um toque de Brasil.
— O brasileiro quer um recheio, né? Mas na França, na verdade, só tem o simples e o chocolate. Mas aqui a gente criou vários com recheios para poder se adaptar — afirma.
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Os processos também foram adaptados por conta da temperatura do país e por conta da escala de produção industrial do produto. Valérie explica que são sete horas para um croissant ficar pronto, em um processo que não pode ser acelerado para desenvolver o sabor, a qualidade e a textura do produto.
Durante o desenvolvimento da marca, a francesa buscou ingredientes brasileiros que pudessem ser usados de forma adequada no lugar da farinha e da manteiga específicas usadas na França. Ela conta que prioriza produtores de Santa Catarina, com exceção da goiabada, que vem de Minas Gerais.
— Aqui no Estado a gente tem muita sorte, porque tem muitos fornecedores, muitas opções e de qualidade. Não precisei e nem queria pegar produtos importados, preferi ir atrás de produtos daqui para fazer a parceria — explica.
Jornada como mulher empreendedora
Empreender no Brasil no início dos anos 2000 foi fácil, conta. Com mais flexibilidade, agilidade e portas abertas, a francesa explica que os processos foram bem mais descomplicados do que na terra natal, mesmo sendo estrangeira.
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— Isso que falo para todo mundo. Foi num tempo certo, na hora certa, sabe? Às vezes é isso. A ideia que dá certo porque tava no momento certo e na hora certa — pontua.
Com o passar do tempo e com o crescimento da empresa, ela sentiu que tudo ficou um pouco mais burocrático. Ainda assim ela destaca a facilidade com as pessoas, prazos e processos no Brasil, em especial em comparação com a França. Já quando o assunto é ser uma mulher a frente de um negócio, a percepção é outra.
— Na verdade, aqui as pessoas não levam a mulher na seriedade. No início, meu marido me ajudava e as pessoas iam conversar com o meu marido, que não tinha nada a ver com o negócio. Então isso me deixava muito frustrada. Porque tem essa cultura de a mulher ser sempre um pouco inferior — destaca.
Ela afirma que essa realidade mudou bastante, especialmente com ela se tornando mais conhecida no meio e com o crescimento da equipe, mas que ainda percebe situações que são desafiadoras no cotidiano.
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Antonietas
Antonietas é um projeto da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.








