O número de resgate de gambás cresceu 172% entre 2024 e 2025 na cidade de Joinville, segundo o Corpo de Bombeiros Voluntários. A aparição dos animais aumentou, principalmente, entre os meses de setembro e outubro deste ano, quando iniciou o período de reprodução. Para os biólogos, a explicação pode estar na ação humana em influência sobre a vivência mais urbana dos gambás na região.

Continua depois da publicidade

Entre janeiro e outubro deste ano, o total de chamadas para esse tipo de ocorrência já supera todo o volume de acionamentos de 2024. Em outubro de 2024, por exemplo, houve 40 ocorrências do tipo atendidas. Já até a manhã do dia 30 de outubro de 2025, já foram contabilizados 184 resgates

O que explica “invasão” de gambás em Joinville

O biólogo do Herbário Joinvillea e Jardim Botânico da Univille, Sidimar da Silva Angelica, explica que o período reprodutivo é o principal motivo do maior aparecimento dos gambás a partir de setembro. De acordo com o especialista, as fêmeas procuram locais propícios para fazer seus ninhos, geralmente ambientes secos, escuros e quentes.

— Além disso, o avanço da urbanização tem contribuído para a perda do habitat natural dos gambás. O crescimento populacional e o desmatamento para a construção civil reduzem as áreas verdes disponíveis, principalmente em cidades grandes como Joinville. Com isso, esses animais acabam buscando abrigo nas residências, encontrando nos sótãos, entulhos deixados nos quintais ou móveis empilhados locais ideais para fazer seus ninhos — afirma Sidimar.

Já o biólogo Alcio Schlickmann ainda explica que os gambás, hoje, são espécies chamadas na biologia como periantrópicas. Isso significa que os animais se beneficiam das ocupações humanas, ou seja, apesar de os vermos raramente, eles estão convivendo conosco o tempo todo, seja buscando recurso nas nossas latas de lixo e até mesmo afastando animais mais perigosos do ambiente urbano.

Continua depois da publicidade

Veja fotos de gambás

Como gambás vivem

Os gambás têm hábito noturno e costumam viver sozinhos, conta o biólogo Sidimar da Silva Angelica. Os animais só se encontram com outros indivíduos da mesma espécie durante o período reprodutivo. Já as fêmeas apresentam cuidado parental: elas cuidam dos filhotes até que atinjam certa idade e consigam viver sozinhos.

— Os gambás são marsupiais, ou seja, possuem uma bolsa chamada marsúpio semelhante à dos cangurus, onde os filhotes permanecem logo após o nascimento. Dentro do marsúpio, eles se alimentam do leite materno e ficam protegidos até atingirem um tamanho adequado. Quando crescem um pouco mais, passam a se agarrar nas costas da mãe, por isso é comum observar gambás carregando vários filhotes dessa forma — conta.

Qual sua importância para o meio ambiente

Os gambás são onívoros, o que significa que se alimentam de frutas e pequenos animais, como cobras, escorpiões e insetos. De acordo com o biólogo da Univille, outro motivo que leva esses animais a se aproximarem das áreas urbanas é a busca por alimento.

— Muitas vezes, as pessoas acumulam entulhos, restos de materiais e objetos nos quintais, o que cria um ambiente propício para a presença de cobras e escorpiões. Com isso, o gambá acaba aparecendo nesses locais para caçar esses animais — afirma Sidimar.

Continua depois da publicidade

Isso faz com que os gambás sejam importantes aliados no controle de pragas e animais peçonhentos nas áreas urbanas, contribuindo para o equilíbrio ambiental mesmo dentro das cidades.

O biólogo Schlickmann ainda relata que, como eles se alimentam de frutas, acabam também tendo um papel de dispersor de sementes.

— Eles comem o fruto com semente e tudo, e depois carregam essa semente no estômago e intestino. E quando eles defecam já contribuem com a dispersão das sementes de plantas frutíferas — diz.

O que fazer ao encontrar um gambá

— Infelizmente, por causa da aparência ou por medo, muitas pessoas acabam matando os gambás. No entanto, eles prestam um serviço ecológico muito importante, ajudando a controlar a proliferação de espécies peçonhentas e contribuindo para o equilíbrio ambiental nas cidades — afirma o biólogo Sidimar.

Continua depois da publicidade

De acordo com o profissional, ao encontrar um gambá é importante manter a calma, já que quando o animal fica assustado e tenta fugir, pode deixar um dos filhotes cair da bolsa marsupial.

— Se o encontro acontecer em uma área urbana próxima a uma mata, o ideal é apenas deixar o animal em paz. Ele naturalmente retornará ao seu habitat — orienta.

No entanto, se o gambá estiver em um local fechado, ferido ou em situação de risco, a recomendação do biólogo é entrar em contato com a Secretaria do Meio Ambiente ou com os órgãos responsáveis, como o Corpo de Bombeiros Voluntários, para solicitar auxílio especializado.