Enquanto pescadores lançam redes para capturar tainhas e camarões em Governador Celso Ramos, na Grande Florianópolis, investidores projetam a valorização dos imóveis na cidade. A chegada de grandes empreendimentos turísticos deve injetar R$ 3 bilhões no município, nos próximos três anos.
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O cálculo é do prefeito Anísio Soares. São, pelo menos, cinco projetos que envolvem resorts, hoteis, bangalôs, lotes residenciais, shopping, centro de convenções e até um hospital. Tudo em alto padrão. O aporte de recursos ultrapassa com folga o orçamento do município, que atingiu R$ 20 milhões em 2010.
Com a confirmação das licenças ambientais para o grupo Brasil Hospitality Group (BHG), o resort Txai Ganchos começa a sair do papel. A companhia não divulga investimentos, mas Soares afirma que são R$ 140 milhões e o projeto vai gerar mais de 150 empregos diretos.
Exemplo baiano
A exemplo da unidade em Itacaré, na Bahia, o Txai Ganchos terá baixa ocupação e padrão seis estrelas, com trabalhos de responsabilidade social e ambiental. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, sua mulher, Carla Bruni, já se hospedaram no resort baiano.
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A Praia de Fora, onde será localizado o resort, é deserta. Portões e cercas guardam o terreno, acessível por trilha. Motivada por um questionamento do Ministério Público, a melhoria do acesso à praia foi uma das condições para liberação da obra.
– Os empreendedores apresentaram uma solução, vão fazer melhorias, com passarelas de acesso. Como resolveram o problema mais crucial, a licença foi mantida – disse o presidente da Fundação do Meio Ambiente (Fatma), Murilo Flores.
Obra autorizada pelo ICMBio
O Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio) autorizou a obra. Segundo o coordenador regional Ricardo Castelli, o hotel não oferece risco à APA de Anhatomirim, onde vivem 200 golfinhos.
A geração de empregos deste e outros resorts, vai ultrapassar o número de desempregados na cidade, 2,8 mil. Só o Quinta dos Ganchos, o maior projeto de todos, vai gerar seis mil vagas. Para o aposentado Sebastião Moreira, 65 anos, toda essa novidade não vai ser boa para os moradores.
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– É bom de morar aqui, tenho sossego. Deixo as coisas na rua, bujão de gás, bicicleta. Ladrão aqui não se cria, todo mundo se conhece. Mas com esses hotéis de luxo aí, vai ficar pior. Porque rico atrai a malandragem – sentencia.
É com uma certa revolta que o pescador Paganir de Oliveira Santos, 56 anos, se lembra do dia em que foi corrido de uma praia, debaixo de tiro. Botaram até cachorro para cima do barco onde ele estava. A situação tende a piorar, na sua opinião.
– Quando é para o rico, correm com os pobres – lamenta.
Pescadores aprovam
Os pescadores Antônio Marcos, 40 anos, e Jamildo Vieira, 44, aprovam os empreendimentos, porque o vai aumentar a clientela para os peixes e camarões, segundo eles.
Uma coisa é certa: comprar um terreninho nesta cidade pacata vai ficar mais caro. E logo.
O delegado regional de São José do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de Santa Catarina (Creci/SC), João Carlos Roldan Júnior, não tem dúvidas de que vão subir os preços dos imóveis na cidade. Ele calcula que hoje, a média de preço de um terreno em Governador Celso Ramos gire em torno de R$ 90 mil a R$ 150 mil, num lote de 420 metros quadrados, longe da praia.
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Com a confirmação dos empreendimentos turísticos no local, Roldan calcula uma valorização de 30% nos terrenos, ainda neste inverno. Na alta temporada, com a chegada de investidores no verão, acredita que os preços aumentem 70%.
Ele compara o momento ao que ocorreu em Jurerê Internacional, na Capital. Ele lembra que há cinco anos, os imóveis custavam R$ 200 mil. Hoje, os preços orbitam a casa dos R$ 1,5 milhões a R$ 2 milhões na praia mais luxuosa de Florianópolis.
– Governador Celso Ramos já está elitizada. É considerada um paraíso por muitos, fizeram a pavimentação recentemente. Claro que vão ampliar os negócios. Investimento em imóvel é muito concreto – brinca o corretor, fazendo o trocadilho.
O prefeito Anísio Soares lembra que os empreendedores apresentaram compensações, como recursos para concluir a rede de saneamento básico da cidade. Somente a metade está pronta.
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Atualmente, existem apenas dois hotéis, dois resorts e 12 pousadas na cidade. Entre 60% e 70% do território é considerado área de preservação, segundo a prefeitura.