Em uma brincadeira que circula nas redes sociais sobre a crise e os ícones da história e da mitologia grega, uma das situações é “Sócrates abre o Cicuta’s Bar para faturar uns trocados”. Na vida real, Sócrates Dekas, sete anos, balançava na noite deste domingo uma bandeira da Grécia, acomodado nos ombros do irmão Adonis, 18, e ao lado da mãe, Magda, 42, entre o parlamento grego e a praça Syntagma, no centro de Atenas.
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Os desdobramentos da vitória do “não” na Grécia
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Como Sócrates, milhares de pessoas celebravam a vitória do “não” no plebiscito promovido pelo governo para consultar sobre uma proposta das instituições europeias que condicionava mais ajuda financeira ao país virtualmente quebrado à adoção de novas medidas de arrocho. Assim foi o domingo, com o país oscilando entre um suicídio forçado e uma alegria que não se sabe quanto tempo vai durar.
Sócrates não é um nome comum na Grécia, tamanho o peso que carrega. Magda deu ao filho o nome de seu pai. E o garoto ganhou os ombros do irmão para ver a manifestação de militantes do Syriza, coalizão de esquerda que governa o país, faziam contra Antoni Samaras, antecessor do atual primeiro-ministro, Alexis Tsipras. Os termos? Adonis ficou encabulado de traduzir.
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Desde que a apuração começou a ser divulgada, a distância entre o “não” e o “sim” se manteve, ao redor de 60% a 40% dos votos válidos. Logo depois da contagem de 10% dos votos, começou a lotar a Praça Syntagma, em frente ao parlamento grego. A trilha sonora, no momento em que a reportagem chegou à praça, era a trilha do filme Zorba, o Grego.
À medida que a apuração avançava, o público cresceu, e o trânsito foi interrompido. Um grande contingente de forças de segurança está posicionado muito perto, mas fora do alcance da visão de quem está na praça.
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Foi uma vitória maiúscula de Tsipras e, especialmente, de seu ministro das Finanças, Yanis Varoufakis. O último havia afirmado e confirmado que deixaria o cargo caso o “sim” vencesse. Agora, a grande dúvida é o que Tsipras e Varoufakis vão fazer com a vitória. Os bancos completam hoje uma semana de portas fechadas, com limite de saque diário de 60 euros (R$ 208) para quem tem cartão de débito e de 120 euros (R$ 416) por semana para quem não tem.
Afinal, por que esses gregos estão comemorando?
Na família de Sócrates, só o pai, que não estava na praça, trabalha. É mecânico de automóveis. Todos vivem com sua renda. E como estão atravessando a crise? Unidos, responde Adonis, o irmão mais velho. Ele e mãe foram votar cedo pela manhã e disseram estar certos da vitória do não.
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O mesmo disse Martha Scrivanu, que ia com a irmã Maria e os sobrinhos Vicky e Petrus, apressados, assistir ao pronunciamento previsto do ministro do Interior Nikos Vutsis. Alguém com medo do que virá depois? Adonis garante que não. Martha, um pouco mais madura, diz saber que votar “não” exige preparação para tempos difíceis.
– Sei que amanhã será um dia difícil. Mas não votei pensando em amanhã, votei pensando no dia depois de amanhã, por eles – diz, apontando os pequenos sobrinhos.
– Se pensasse só no amanhã, teria votado sim.
Ninguém sabe responder quais os próximos passos da crise grega. Não há previsão de quando e se os bancos vão abrir, quando e se haverá um acordo entre autoridades europeias e o governo grego. O governo já está em moratória com o FMI e deve, no total, 320 bilhões de euros, quase duas vezes o valor de toda riqueza produzida no país a cada ano.
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Se foi ou não uma vitória de Pirro – expressão baseada em um personagem da história grega que venceu uma guerra com muitas perdas e não foi capaz de assegurar a conquista -, só os próximos dias ou semanas vão definir. E se a imagem que melhor define a Grécia é a do Sócrates da cicuta ou o garoto que agita a bandeira.
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*Zero Hora