O serviço de entrega de refeições cresceu exponencialmente no Brasil e passou a ser parte da rotina de milhões de pessoas – seja pelos clientes que optam pela comodidade de receber a comida pronta na porta de casa ou então por quem usa o sistema como fonte de renda. Mas, nos últimos meses, um outro contexto está chamando a atenção: os aplicativos de entrega entraram em uma verdadeira batalha judicial, que ficou conhecida como a “guerra do delivery”.

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Os personagens dessa batalha são o iFood, líder do mercado no segmento, e as chinesas 99Food e Keeta, que recém chegou ao Brasil e conta com uma operação ainda pequena se comparada às concorrentes – atua, por enquanto, apenas na região de Santos.

As empresas usam argumentos como concorrência desleal, uso indevido de imagem e até mesmo acusação de espionagem nessa batalha que, ao que tudo indica, será longa.

Decisões recentes aquecem a disputa

A crise envolvendo os aplicativos de entrega começou ainda em 2023, mas ganhou força em meados de 2025 e se agitou de vez com a chegada da chinesa Keeta. Decisões judiciais recentes ajudaram a movimentar ainda mais essa complexa disputa jurídica.

Ações movidas pela Keeta contra a 99Food intensificaram a guerra do delivery ao anular contratos de exclusividade que continham as chamadas “cláusulas de barreira”, por considerarem que elas impediam especificamente a entrada e a concorrência de outras empresas no mercado, violando os princípios da livre concorrência.

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Essa vitória permitiu que restaurantes anteriormente vinculados por essas cláusulas pudessem se associar à nova plataforma, reforçando o argumento de que o mercado deve ter mais opções e limitando a capacidade das empresas dominantes de usarem a exclusividade para barrar novos players.

A 99Food, sob alegação de que as cláusulas de exclusividade são estratégias comerciais legítimas e que vai recorrer da decisão. Em setembro, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) já reverteu uma dessas decisões.

Espionagem

Uma das acusações mais graves nessa batalha também foi feita pela Keeta contra a 99Food. A empresa recém-chegada ao Brasil registrou boletins de ocorrência alegando que a concorrente enviou a restaurantes parceiros alguns indivíduos, que estariam se passando por representantes da Keeta, para obter acesso indevido a informações estratégicas e confidenciais, como métricas de plataforma, volumes de pedidos, remuneração de entregadores e modelos de contrato, pouco após o início das operações da Keeta no Brasil.

A Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito para investigar o caso, que envolve a tentativa de obtenção de dados sigilosos em meio à acirrada disputa judicial.

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Restaurantes relatam prejuízo em meio à guerra do delivery

No centro dessa disputa, os restaurantes afirmam que estão sentindo uma queda brusca no faturamento. A batalha do delivery, segundo os comerciantes, está prejudicando o serviço de entrega – o envio dos pedidos aos clientes se tornou a principal fonte de arrecadação de diversos estabelecimentos.

Há relatos de restaurantes que, envolvidos nas cláusulas de exclusividade que são um dos epicentros das disputas, foram forçados a interromperem o serviço de entrega. Além disso, alguns comerciantes também afirmam queda na visibilidade dentro do aplicativos, deixando de serem incluídos em campanhas e promoções, entre outros.

Quem também sente prejuízo são os entregadores, que normalmente recebem por entrega realizada. Com o embate jurídico, muitos foram afetados com a diminuição no volume de pedidos e, consequentemente, no faturamento.

Plataformas unidas

Enquanto a guerra do delivery se desenvolve na justiça, dois grandes players desse mercado anunciaram uma união: a Uber a o iFood firmaram uma parceria comercial que promete movimentar ainda mais o segmento e dar mais ingredientes para a batalha.

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Trata-se de uma integração tecnológica e comercial que unifica os serviços de delivery e mobilidade em seus respectivos aplicativos. Os usuários do iFood agora encontram um novo ícone de “Corridas” para solicitar serviços da Uber diretamente, e o app da Uber, por sua vez, passa a incorporar uma aba dedicada aos pedidos de delivery (refeições, mercados e farmácias) do iFood.

Essa parceria, que começou em Belo Horizonte e se expandirá por todo o Brasil até janeiro de 2026, cria um “superapp” com foco na conveniência, permitindo que milhões de brasileiros acessem o que precisam sem sair da sua plataforma preferida, seja para se locomover ou para pedir uma entrega.