Uma carta enviada há uma década pelo então Príncipe Charles, atual Rei Charles III, da Inglaterra, a um pesquisador de Santa Catarina já alertava sobre desafios e dilemas a serem enfrentados pelo Brasil na relação do país com o meio ambiente. A mensagem do monarca citava pontos como o então recente Código Florestal, a demarcação de reservas indígenas e as taxas de desmatamento como acontecimentos que eram acompanhados de perto por ele.
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A carta foi enviada pelo então príncipe da coroa britânica ao engenheiro florestal Alexander Christian Vibrans, professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb) e responsável pelo projeto Floresta SC, inventário florestal de Santa Catarina. O projeto consiste em uma espécie de “Censo” das árvores do Estado, que monitora mais de 500 pontos de vegetação catarinense desde 2005.
O cientista de Santa Catarina havia encontrado um auxiliar de Charles, que como Príncipe de Gales tinha como responsabilidade a preservação das florestas britânicas, em um evento nos Estados Unidos. Após enviar materiais sobre o trabalho feito nas florestas catarinenses ao príncipe, o pesquisador da Furb recebeu como retorno uma carta com agradecimento ao envio dos materiais e elogios pelo trabalho desenvolvido na preservação da natureza em SC.
Veja fotos do projeto elogiado por rei Charles
O trabalho no inventário florestal de SC fez com que o nome do pesquisador da Furb aparecesse em um ranking com os 107 cientistas brasileiros mais influentes em decisões de políticas públicas em todo o mundo. Alexander Vibrans foi o único pesquisador de instituição catarinense a aparecer na lista, elaborada pela Agência Bori e pela Overton, plataforma internacional que trabalha com ciência e políticas pública.
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“Só posso esperar que Brasil demonstre liderança”
Na mensagem enviada em março de 2015 ao pesquisador de SC, o então príncipe Charles também mencionava desafios do país na época na agenda do meio ambiente. O assunto voltou à tona esta semana, com o início da Conferência do Clima, a COP 30, sediada por Belém (PA) e que deve discutir compromissos dos países para a redução da elevação das temperaturas no mundo. A agenda trouxe o príncipe William, representante da coroa britânica no evento, ao Brasil, com passagens por Rio de Janeiro e Belém.
O Brasil também era destino conhecido ao então príncipe Charles, que esteve quatro vezes no país e chegou a protagonizar cenas famosas, como numa tentativa de sambar com uma passista de escola de samba. Na carta escrita há uma década, o monarca afirmou acompanhar os assuntos do país.
“Embora eu não visite o Brasil desde 2009, continuo acompanhando de perto os acontecimentos no país, incluindo o Código Florestal e a política agrícola, a demarcação de reservas indígenas, as taxas nacionais de desmatamento, a biodiversidade no Cerrado, a restauração da Mata Atlântica e a seca em São Paulo. Não posso deixar de sentir, assim como o mundo em geral, que seu belo país se encontra numa encruzilhada em relação às suas escolhas presentes e futuras – uma escolha entre viver em harmonia com o meio ambiente natural do qual dependemos ou em conflito com ele. Só posso esperar e rezar para que o Brasil demonstre liderança e nos conduza na direção certa, para o bem de todos nós, mas principalmente para o bem de nossos filhos e netos…”, escreveu o monarca na mensagem ao pesquisador da universidade de Blumenau.
Confira a íntegra da carta de rei Charles, de 2015
Embora eu tema que esta mensagem esteja muito atrasada, gostaria de expressar minha imensa gratidão pelos livros que gentilmente me enviou em novembro de 2014, após seu encontro com o Sr. Geraint Richards no Congresso Mundial de Silvicultura em Salt Lake City.
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Os livros são maravilhosamente evocativos, belamente produzidos e absolutamente fascinantes, e me permitiram aprender mais sobre sua região. Eles nos lembram da importância vital das causas da conservação das florestas e paisagens tropicais e proporcionam uma ótima visão da notável diversidade de sua região e suas muitas espécies.
Embora eu não visite o Brasil desde 2009, continuo acompanhando de perto os acontecimentos no país, incluindo o Código Florestal e a política agrícola, a demarcação de reservas indígenas, as taxas nacionais de desmatamento, a biodiversidade no Cerrado, a restauração da Mata Atlântica e a seca em São Paulo. Não posso deixar de sentir, assim como o mundo em geral, que seu belo país se encontra numa encruzilhada em relação às suas escolhas presentes e futuras – uma escolha entre viver em harmonia com o meio ambiente natural do qual dependemos ou em conflito com ele. Só posso esperar e rezar para que o Brasil demonstre liderança e nos conduza na direção certa, para o bem de todos nós, mas principalmente para o bem de nossos filhos e netos…
Agradeço novamente sua gentileza em me enviar os livros e transmito a você e seus colegas meus mais sinceros votos de sucesso por este valioso trabalho.











