O relógio marcava 13h16min do dia 29 de outubro de 2003. Uma equipe da Celesc atuava no reparo de cabos de média tensão da Ponte Colombo Salles quando uma explosão de um botijão de gás que ajudava na iluminação da galeria fez com que a única linha de transmissão de energia para a Ilha fosse desligada.
Continua depois da publicidade
Na época, a capital catarinense era abastecida por quatro subestações: a subestação Ilha-Centro, a subestação da Trindade, a subestação Ilha Sul e a subestação Ilha Norte. Todas essas subestações eram atendidas por essa mesma linha de transmissão, que passava pela ponte.
— Nós tínhamos a única alimentação vindo pela ponte, por um caminho só. A hora que deu esse curto circuito ali, desligou tudo — explica Cláudio Varella do Nascimento, atual diretor de Distribuição da Celesc.
Cláudio explica que na época os trabalhos foram comandados pelo engenheiro Eduardo Carvalho Sitônio. Já na tarde daquele dia 29, a equipe decidiu pela construção de uma nova linha de transmissão ancorada nos guard-rails da ponte.
— À noite eles perceberam que os cabos subterrâneos que passavam por dentro da ponte levariam mais de três dias para consertar. Então, a maneira mais rápida de fazer seria a construção pela parte de fora da linha da da ponte. E é o que foi feito. Então, às 23h já começaram a os trabalhos — relembra.
Continua depois da publicidade
A operação de reestabelecimento da energia foi divida em três etapas. Uma equipe técnica atuava da subestação de Coqueiros, no continente, até a cabeceira da ponte, cavando buracos e colocando postes de madeira para construir a nova linha. Outra equipe da Eletrosul, que prestou apoio à Celesc, fazia o lançamento dos cabos e dos isoladores na ponte através de rapel.
Ao mesmo tempo, outra equipe da Celesc, da Ponte Colombo Salles até a subestação Ilha-Centro, implantando postes e lançando cabos. Também na Ilha, outra equipe fazia o mesmo trabalho até as proximidades do José Mendes, ponto até onde a linha é subterrânea e depois segue de forma aérea.
— Chegando energia ali, vai alimentar a subestação da Trindade, vai alimentar a subestação Ilha Sul e vai alimentar a subestação Ilha Norte. Nós tivemos apoio aqui na época de equipes da antiga Eletrosul e também apoio da Copel do Paraná, que veio também nos auxiliar aqui para restabelecer a energia — explica o diretor.
Fotos mostra apagão em Florianópolis
Ilha 100% sem energia
Enquanto as equipes atuavam de forma ininterrupta para restabelecer a energia, a situação na Ilha era de escuridão total. Desde às 13h16min do dia 29 de outubro até 20h10min do dia 31 tudo estava apagado. Semáforos, postes, casas, comércios, tudo estava sem energia e com o funcionamento comprometido. Famílias ficaram incomunicáveis em dias que pareciam intermináveis.
Continua depois da publicidade
O retorno da energia ocorreu de forma progressiva em diferentes pontos. A primeira subestação a ser religada foi a Ilha-Centro, o que alimentou a parte central da Ilha, onde a energia voltou já por volta das 11h do dia 31, somando 45 horas sem energia. Já as outras três subestações voltaram no período da noite, no mesmo dia, resultando nas 55 horas sem luz.
Na região continental o evento não trouxe nenhum prejuízo, razão que levou a emblemática foto da ponte Hercílio Luz metade iluminada e metade não. Isso ocorreu porque metade da energia da ponte vem do continente e metade vem da Ilha, que estava sem fornecimento no momento, explica o diretor.
Cerca de 200 pessoas estiveram envolvidas nos trabalhos para restabelecer a energia em Florianópolis, lideradas pelo engenheiro Eduardo Carvalho Sitônio. O atual diretor da Celesc Cláudio Varella do Nascimento integrava o time, na época na parte de manutenção e operação do sistema elétrico de potência. Com admiração, relembra a força-tarefa e a dedicação durante esses três dias.
— O diretor Eduardo Carvalho Sitônio, ele que coordenou todos os trabalhos. Então ele que tava à frente. Esse homem eu acompanhei, das 47 horas que nós trabalhamos, eu acho que eu dormi umas cinco. Ele não dormiu nenhuma — destaca.
Continua depois da publicidade
O engenheiro organizou a logística do trabalho, com a equipe in loco de forma contínua, recebendo alimentação, água e energético, em turnos rotativos para garantir a continuidade do trabalho. Reuniões eram feitas às 6h, às 12h e às 18h com o objetivo de alinhar o andamento das atividades e ajustar possíveis dificuldades.
O que foi feito depois do apagão
Depois do apagão, foram pensadas novas soluções para o fornecimento de energia em Florianópolis. A recursividade foi projetada dentro da Ilha, sendo a primeira delas saindo da Palhoça e indo até o Sul da Ilha, na subestação Desterro, próximo ao aeroporto. A partir daí, em 2010, a Ilha passou a ter duas fontes de alimentação.
Já em 2022 foi lançado próximo a Polícia Federal em Biguaçu uma linha subterrânea até o Norte da Ilha, que alimenta a subestação Ilha Norte, em Ratones.
— A ilha hoje ela tem três caminhos da energia, ou seja, três recursividades. Faltou de um lado, tem duas, faltou de uma do centro, tem as duas das extremidades — explica o diretor da Celesc.
Continua depois da publicidade
Esse formato faz com que um novo apagão em moldes semelhantes ao de 2003 seja praticamente impossível de acontecer, ao menos não por conta do mesmo problema. As possibilidades de um apagão em Florianópolis seria em uma possibilidade de queda no Sistema Elétrico Brasileiro, ou então por eventos climáticos, como o ciclone-bomba de 2020.
Desde o fatídico apagão que deixou a Ilha às escuras por três dias, o ciclone-bomba foi o evento mais relevante em termos de queda de energia elétrica, considerado o maior evento climático que a Celesc já enfrentou em relação ao clima. Em junho de 2020, 1,55 milhões de clientes da Celesc foram afetados, cerca de 50% do número total de consumidores.













