Por trás do vídeo de poucos segundos viralizado na internet, incontáveis horas de luta. Nos últimos anos, a blumenauense Camila Ceruti travou uma verdadeira guerra contra as desigualdades para conseguir o que sempre sonhou: tornar-se médica. Na sexta-feira (11), o diploma será entregue na colação de grau e, depois, a jovem deve começar um novo capítulo na própria história.

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A gravação publicada no TikTok na noite de segunda-feira (7) já tem quase dois milhões de visualizações apenas nessa única rede social. Na imagem, Camila aparece de uniforme, em um restaurante da praça de alimentação do shopping Park Europeu, guardando uma bandeja e retirando a touca. Na legenda, a explicação: ela deixou o emprego de atendente porque nesta semana vai se formar no curso de Medicina.

Camila tem apenas 24 anos, mas já enfrentou diferentes retratos da realidade. A começar pela infância, em que presenciou a agressividade do próprio pai. A violência doméstica deu lugar a um lar somente de mulheres: passou a ser ela, a irmã e a mãe. Na casa humilde da região do Grande Garcia, em Blumenau, a menina cresceu frequentando escolas públicas. A mãe, aposentada por invalidez, fez o que pôde para que as filhas crescessem com o mínimo de dignidade.

Ainda pequena, Camila parece ter entendido que a salvação estava na educação. Era destaque na turma e as notas excelentes a levaram a lugares que pareciam inalcançáveis para estudantes de baixa renda como ela: fez intercâmbio para os Estados Unidos através do programa Jovens Embaixadores e viajou ao Paquistão para representar o Brasil em um evento da ONU. Neste último, para conseguir pagar as passagens, trabalhou como diarista, vendeu brigadeiros e criou uma vaquinha.

Todas as conquistas foram assim, extremamente “suadas”. A futura médica não romantiza essas dificuldades, mas orgulha-se:

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— Foi sofrido demais, foi tudo bem batalhado, mas nunca tive dúvidas — diz emocionada.

Quando passou para o curso de Medicina da Universidade Regional de Blumenau (Furb), mais um desafio: a bolsa de estudo variava a cada fase e nem sempre era de 100%. Um financiamento precisou ser feito e pelos próximos anos a jovem terá uma dívida de cerca de R$ 50 mil para quitar.

No começo da graduação, vendia brigadeiros e outros doces para poder ajudar nas despesas e bancar os gastos que iam além da mensalidade. Após três anos, com a rotina intensa do internato, estudos, ações voluntárias e a produção dos docinhos, recebeu a proposta de trabalhar no restaurante do shopping. Freelancer, Camila ia ao local sempre que possível: depois das aulas, nos feriados e finais de semana.

Virou madrugadas para dar conta das provas, acostumou-se a dormir menos do que o recomendado e chegou a duvidar que aguentaria, mas colheu os frutos. Passou em todas as matérias e terminou a faculdade no tempo previsto. Pelo caminho, teve também as doces doses de alegria que só a vida real pode proporcionar: fez amigos, encontrou um amor no serviço e ganhou a admiração de quem a conheceu de perto. Ao se despedir dos colegas no estabelecimento do shopping na última semana, os olhos não esconderam a emoção.

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Nesta sexta, então, a conclusão da etapa acadêmica terá uma infinidade de significados para a blumenauense. Uma das oradoras da turma, será difícil segurar as lágrimas na hora de ler as frases que já preparou com tanto carinho. Ansiosa para a colação e o baile de formatura, o momento mais aguardado por ela é o do recebimento do diploma em si, quando ouvirá da reitora que é oficialmente uma médica.

E se engana quem pensa que o sonho acaba aqui. Camila pretende começar a atuar na área e, ao final do ano, quer avançar para a próxima página. A jovem planeja fazer uma especialização e para isso precisará se dedicar à residência por dois ou três anos (uma obrigatoriedade aos médicos que optam por se tornar especialistas em alguma área).

Olhando para trás e vendo tudo o que fez, a futura doutora sabe que não há obstáculo capaz de freá-la.

O sonho, na verdade, está só começando.

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