A história do município de Itajaí, Santa Catarina, sempre foi escrita pelas marés. Do porto que movimenta o comércio exterior às atividades de pesca e construção naval, o mar molda a identidade e a economia da cidade. 

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Hoje, Itajaí abre um novo e promissor capítulo dessa trajetória: o de protagonista da Base Industrial de Defesa (BID) brasileira. Essa consolidação é resultado de uma articulação estratégica entre o Ministério da Defesa, a Marinha do Brasil, o governo municipal e a iniciativa privada, materializada em um dos projetos mais ambiciosos da história recente da indústria naval do país – o Programa Fragatas Classe Tamandaré (PFCT).

O renascimento da indústria naval de defesa

O Programa Fragatas Classe Tamandaré vai além da aquisição de embarcações militares: representa a reafirmação da soberania nacional, a autonomia tecnológica e o fortalecimento da indústria naval brasileira.

Por meio de uma parceria entre a Marinha do Brasil e o Consórcio Águas Azuis – formado pela Thyssenkrupp Marine Systems, Embraer Defesa & Segurança e Atech -, Itajaí tornou-se o estaleiro-base da construção dos navios de defesa mais modernos já fabricados no país. 

O projeto, portanto, prevê a construção de quatro fragatas de última geração, capazes de proteger a chamada Amazônia Azul, área marítima que representa mais de 5,7 milhões de km² de riquezas naturais e rotas estratégicas para o Brasil.

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Com investimento estimado de R$ 12 bilhões, segundo dados da própria Marinha, o projeto representa a confiança no potencial industrial e logístico de Itajaí, que se consolida como um polo de inovação e competência técnica em defesa naval.

Empregos, qualificação e desenvolvimento regional

Os impactos sociais e econômicos do projeto são expressivos. O Consórcio Águas Azuis estima que o PFCT gere cerca de 2 mil empregos diretos e mais de 6 mil indiretos – muitos deles de alta qualificação, exigindo engenheiros, técnicos e operários especializados.

Essas oportunidades refletem um movimento de formação e fixação de capital humano, no qual universidades e centros tecnológicos da região ampliaram seus programas voltados à engenharia naval, mecatrônica e sistemas de defesa, para alinhar o ensino às demandas da nova indústria.

O lançamento da primeira fragata, chamada Tamandaré (F200), aconteceu em 2024 e marcou um ponto de virada para o município: segundo a Marinha do Brasil, o navio de guerra mais avançado já produzido no país. 

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A próxima embarcação – como a Jerônimo de Albuquerque (F201) – segue em ritmo acelerado, sob supervisão técnica de engenheiros brasileiros e alemães, que compartilham conhecimento e práticas de ponta.

Desafios: manter o fluxo em mares complexos

Apesar dos avanços, os desafios permanecem. A sustentabilidade do financiamento é um dos principais pontos de atenção. Projetos de defesa são, por natureza, intensivos em capital e dependem de continuidade orçamentária. Qualquer interrupção pode comprometer empregos, cronogramas e o know-how adquirido.

Outro desafio é a autonomia tecnológica. A indústria de defesa global é marcada por barreiras de acesso a tecnologias sensíveis e a dependência de fornecedores estrangeiros pode limitar a capacidade de inovação nacional.

Há ainda o aspecto da segurança cibernética, cada vez mais centralizado em sistemas de defesa modernos. Proteger as embarcações contra ataques digitais e assegurar a integridade dos dados estratégicos é uma tarefa que exige constante atualização e investimento em talentos especializados.

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Oportunidades: inovação e diversificação produtiva

Se os desafios são grandes, as oportunidades são ainda maiores. A mais imediata é a capacitação da mão de obra local, que eleva o padrão técnico e amplia o potencial de exportação de serviços e produtos de defesa.

A segunda grande oportunidade é a diversificação industrial. A infraestrutura e o conhecimento adquiridos com o PFCT podem ser aplicados na construção de navios mercantes, embarcações de apoio offshore e plataformas de manutenção naval.

O município de Itajaí, com sua vocação portuária e ecossistema empresarial já consolidado, reúne todas as condições para tornar-se um centro de manutenção e modernização naval estratégica da América do Sul, fortalecendo a presença brasileira nas rotas marítimas do Atlântico.

Modelo de harmonia e inovação

O êxito de Itajaí não se resume à eficiência industrial, mas à sua capacidade de articulação institucional – resultado da rara sintonia entre o poder público, as Forças Armadas e o setor produtivo.

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Os encontros estratégicos realizados pelo Ministério da Defesa em 2024 e 2025, consolidaram a cidade como polo estratégico da Base Industrial de Defesa Nacional, transformando o município em um hub de inovação, onde tecnologia, segurança e desenvolvimento regional caminham juntos. 

O legado do PFCT vai além dos estaleiros, inspirando novas cadeias produtivas e gerando um valor social duradouro.

O futuro ancorado em Itajaí

As fragatas da Classe Tamandaré representam mais do que navios, simbolizam um projeto de país, baseado em conhecimento, soberania e visão estratégica.

Ao investir em Itajaí, o Brasil está investindo em empregos de qualidade, tecnologia nacional e autonomia industrial, mostrando que é possível combinar a tradição marítima da cidade com inovação de ponta, e transformando desafios em motores de progresso.

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Como define o projeto: “o mar de oportunidades está aberto”. Resta agora garantir que essa rota seja mantida, com previsibilidade e compromisso, para que Itajaí continue sendo a âncora do futuro da Base Industrial de Defesa Nacional.