O Itaú Unibanco planejava demitir, inicialmente, quase o dobro de funcionários por considerar baixa a produtividade no home office. De acordo com apurações feitas pela Folha de S. Paulo, quase 2 mil funcionários tiveram o trabalho em casa considerado improdutivo após um monitoramento feito por quatro meses pela empresa. Na segunda-feira (8), cerca de mil trabalhadores foram desligados.
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Ainda conforme a Folha, os funcionários em regime híbrido ou totalmente remoto foram monitorados por meio de softwares como o xOne. A ferramenta coleta métricas como tempo de login, períodos de inatividade, utilização de sistemas corporativos e acesso a sites definidos previamente pelo empregador.
Após cruzar dados do xOne com o registro de ponto eletrônico, o Itaú identificou o que considera inconsistências entre o saldo positivo do banco de horas e a jornada efetivamente trabalhada.
O banco ainda afirmou, em um email enviado aos funcionários, no qual a Folha teve acesso, que em “alguns desses casos, os mais críticos, chegaram a patamares de 20% de atividade digital no dia e ainda assim registraram horas extras naquele mesmo dia, sem que houvesse causa que justificasse”.
“Atitudes como essas prejudicam a todos, pois desgastam relações de trabalho, comprometem o ambiente de colaboração e minam a liberdade que conquistamos nos modelos mais flexíveis, como o modelo híbrido”, avisou o banco em um comunicado interno.
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Um levantamento com cerca de 2 mil nomes foi repassado aos gestores responsáveis, que justificaram os números de cerca de metade dos nomes listados. Os responsáveis alegaram que a natureza de trabalho desse funcionários não requer o uso contínuo do computador ou que utilizavam outra máquina ou ainda que estavam passando por alguma questão de saúde. Mesmo sem ser desligados, os trabalhadores foram advertidos.
Os demais foram dispensados nesta segunda-feira, independentemente de sua performance. Muitos dos demitidos haviam batido metas e recebido promoções.
Cerca de 1,75% dos funcionários do Itaú foram demitidos
Os funcionários avaliados representam cerca de 60% dos 95 mil funcionários que trabalham no banco, de acordo com o último balanço. Do total, cerca de 1,75% foram demitidos.
Em entrevista a Folha de S. Paulo, alguns funcionários desligados pelo banco nesta segunda-feira relataram que não estavam com demandas atrasadas. Eles também contaram que comunicavam os superiores quando estavam livres para novos serviços, mas que ouviram da chefia que era necessário esperar que demandas entrassem no sistema.
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Advogados trabalhistas dizem que a fiscalização do teletrabalho é legal, desde que prevista em contrato e comunicado aos funcionários.
— O monitoramento deve ser feito respeitando o direito à privacidade e intimidade do trabalhador. Tudo aquilo que for do trabalho, desde que previamente cientificado de forma bastante clara e transparente, pode ser monitorado — falou Carla Felgueiras, sócia do escritório Montenegro Castelo Advogados Associados.
Procurado pela Folha, o Itaú informou que os desligamentos foram “decorrentes de uma revisão criteriosa de condutas relacionadas ao trabalho remoto e registro de jornada. Em alguns casos, foram identificados padrões incompatíveis com nossos princípios de confiança, que são inegociáveis para o banco. Essas decisões fazem parte de um processo de gestão responsável e têm como objetivo preservar nossa cultura e a relação de confiança que construímos com clientes, colaboradores e a sociedade”.
Sindicato criticou dispensa sem diálogo com a categoria
O Sindicato dos Bancários criticou a decisão, alegando que os funcionários foram dispensados sem advertência prévia e sem diálogo com a categoria, no que seria um “claro desrespeito aos bancários e à relação com o movimento sindical”.
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“O banco afirma que os desligamentos se baseiam em registros de inatividade nas máquinas corporativas, em alguns casos, períodos de quatro horas ou mais de suposta ociosidade”, disse Maikon Azzi, diretor do sindicato e funcionário do Itaú, em nota.
“No entanto, consideramos esse critério extremamente questionável, já que não leva em conta a complexidade do trabalho bancário remoto, possíveis falhas técnicas, contextos de saúde, sobrecarga, ou mesmo a própria organização do trabalho pelas equipes”, acrescentou.
Segundo Maikon, não houve conversas com funcionários ou a possibilidade de corrigir condutas, nem a oportunida de se defender. Também, a categoria disse que entrou em contato com o banco e pediu esclarecimentos sobre o caso, afirmando que cobrará a reposição das vagas.
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