Em uma das ruas mais movimentadas do Bairro Boa Vista funcionou uma instituição de ensino que marcou a infância de milhares de joinvilenses. O Jardim Bakhita, fundado em 1964 pela Congregação Católica Canossiana, foi referência na educação durante mais de 50 anos. Atualmente, as salas de aulas estão vazias, mas as lembranças estão guardadas na memória de quem frequentou o lugar.

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Esta é uma trajetória marcada pela fé e educação, que se mistura com a história de Joinville. Ainda no século passado, a sede da congregação, localizada na Rua Prefeito Helmuth Fallgatter, passou a receber os filhos dos operários da Tupy.

Veja como está o Jardim Bakhita atualmente:

A atual diretora do Jardim, Irmã Dilma, conta que o Bairro Boa Vista tinha uma realidade bem carente na época e a escola surgiu como uma obra social para apoiar a comunidade.

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A tradição da escola aliada à qualidade do ensino e boa infraestrutura atraia a busca de pais pela matrícula de seus filhos na escola de educação infantil. A procura por vagas só aumentava ao longo do tempo. Andréia Alves Corrêa Cochorowski, 41, frequentou o Jardim Bakhita no fim da década de 80 e relembra com carinho sua passagem pelo lugar.

A ex-aluna conta que possui memórias bem marcantes da época, como das apresentações artísticas que participava, da boa estrutura dos parques e salas de aula. Mas são as freiras que Andreia recorda com mais afetividade.

— No nosso tempo a gente tinha bastante contato com as freiras mesmo. Elas sempre estavam em sala de aula e em todas as festividades elas também estavam envolvidas, sempre com a gente. Eu lembro que cada vez que tinha alguma festa ou alguma apresentação, elas passavam uma passagem bíblica, a gente ia para a capelinha todos juntos — conta.

O fim do jardim

No começo dos anos 2000, o Jardim estabeleceu um convênio com a Prefeitura e ampliou a quantidade de alunos, reabrindo salas que haviam sido fechadas anteriormente.

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Já em 2022, após enfrentar vários desafios para manter o funcionamento, o Bakhita precisou encerrar suas atividades educativas por conta de problemas financeiros.

— Até 2007 tudo caminhou bem. Depois começou a inadimplência por parte de pais que pagavam a escola e a Prefeitura começou a diminuir a quantidade de parcelas. A principal causa foi a falta de recursos para manter a escola. Nós podemos usar a palavra certa, o Jardim faliu — explica Irmã Dilma.

Desde então, as salas e corredores estão vazios. As irmãs canossianas seguem ali em continuidade à missão da congregação, mas sozinhas. 

— Agora a gente se depara com o espaço vazio. Falta a alegria das crianças, falta aquilo que é próprio nosso, que é a educação do coração — afirma.

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Em nota ao NSC Total, a Secretaria da Educação informou que o CEI Bakhita passou por uma alteração no Termo do Contrato com o município em fevereiro de 2019, resultando no aumento no atendimento para mais 13 crianças e ampliação de 14,6% no valor do repasse. Porém, em dezembro de 2019, o contrato com o CEI foi rescindido, tendo sido uma solicitação da própria unidade.

A prefeitura de Joinville ainda afirma que, desde janeiro de 2022, ampliou a quantidade de parcelas pagas aos CEIs filantrópicos, que antes era de 11, passando para 12 parcelas anuais.

Como está o lugar nos dias atuais

Atualmente, todo o dinheiro necessário para a manutenção do espaço vem da Congregação Católica Canossiana. Além disso, as freiras também arrecadam valores ao alugar o imóvel para eventos como retiros, aniversários, casamentos, acampamentos e outros encontros.

O espaço possui uma estrutura completa que atrai os visitantes. São diversas salas de aula, espaços de convivência, auditório, quadras, parquinhos e até mesmo uma trilha ecológica.

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Aos sábados, o local abre as portas para as crianças da comunidade de forma gratuita. Todos os brinquedos e estrutura dos parques e quadras são doações de projetos e voluntários.

Quem recebe os pequenos com muito carinho é a Madre Amélia, que foi diretora do Jardim Bakhita por vários anos ao longo do último século. Nascida na Itália, a freira de 78 anos se considera brasileira de coração.

— Fechou-se o jardim porque não era mais possível, não dava. Mas não fechamos a casa e nem as portas. Eu disse que as portas estariam abertas. Eu quero ver a nossa casa repleta de crianças, todos os sábados à tarde eu quero a casa cheia de crianças para virem brincar — reforça a Madre.

A congregação e a Irmã Bakhita

As “Filhas da Caridade Canossianas” formam uma congregação religiosa católica de origem italiana, que tem como fundadora Santa Madalena de Canossa, nascida em Verona, na Itália, no dia 1º de março de 1774. Atualmente, as Filhas da Caridade estão nos cinco continentes e em sete cidades de cinco estados brasileiros.

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A Irmã Bakhita foi a primeira irmã negra da Congregação e por muito tempo dedicou sua vida a atividades voltadas para a educação. Quando o Jardim foi fundado, a escolha do nome foi uma forma de homenageá-la e manter sua missão e memória vivas.

*Sob supervisão de Leandro Ferreira

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