O escritor Jeferson Tenório, famoso pelo romance O avesso da pele, publicou um vídeo nas redes sociais nesta sexta-feira (22) em que fala sobre o banimento que sofreu no Instagram em sua conta principal, com mais de 80 mil seguidores, no que o autor chamou de ‘censura digital’.

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No começo de junho, Tenório tentou entrar no Instagram e não conseguiu. “Conta desativada”, dizia o aviso. Ele seguiu o roteiro que a plataforma pede, que incluía formulários, confirmações, e mesmo assim recebeu apenas a informação de que foi banido por não se enquadrar nas diretrizes da plataforma.

O autor criou um novo perfil, o @jefersontenoriooficial, em que já tem mais de oito mil seguidores, número bem abaixo do que acumulava na outra conta. O romancista decidiu tornar o caso público depois de perceber que outros perfis progressistas também foram atingidos.

O impacto em outros perfis progressistas

Segundo o jornal O Globo, o influenciador comunista Jones Manoel, historiador e professor, conhecido por sua militância política, também recebeu ataques em massa em seu perfil. A ex-deputada Manuela d´Ávila também viu o alcance da sua conta diminuir. Os fatos acontecem depois do alinhamento da Meta e de outras big techs com o governo Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.

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“Estou cansado de falar de censura”, desabafou Tenório ao O Globo. “Mas é preciso atenção ao caminho que as redes estão tomando.”

Do lado jurídico, os advogados do escritor afirmam que vão “adotar todas as medidas cabíveis”. Argumentam que a exclusão reduz drasticamente o alcance do trabalho de Tenório, escritor, educador, figura pública, e fere a liberdade de expressão e o direito à comunicação.

Para eles, a decisão do Instagram não acontece no vácuo: desde 2021, o autor enfrenta ataques, ameaças e tentativas de censura que circulam, ironicamente, nas mesmas redes da empresa. Em 2021, após uma coluna sobre Lula e Paulo Freire, Tenório recebeu mensagens de ódio.

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No ano seguinte, vieram ameaças de morte pelo Instagram, “CPF cancelado”, quando foi anunciada uma palestra numa escola de Salvador. O recado anônimo veio de um perfil estudantil, descontente por “ter de ler” o romance do autor.

Houve boletim de ocorrência, alerta à escola e à editora; e por segurança, o encontro virou virtual. As ameaças continuaram, e outro B.O. foi registrado.

‘O avesso da pele’ sofreu tentativas de censura em escolas

Vencedor do Prêmio Jabuti, O avesso da pele acompanha Henrique, professor negro assassinado por policiais que o tomaram por bandido. O livro é narrado por Pedro, filho que tenta reconstituir a vida do pai, um homem que lutou para que a cor da pele não determinasse o destino.

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Em 2024, a obra enfrentou tentativas de censura em escolas do RS, PR, MS e GO: críticos disseram que seria impróprio para adolescentes por uma cena de sexo (em 192 páginas) e palavras de baixo calão.

O título integra o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) (por portaria de 2022, após seleção de 2019). O programa indica obras para escolha das escolas e em que a adesão não é obrigatória. A editora de Tenório, Companhia das Letras, lançou nota dizendo que está acompanhando o caso e prestando apoio ao autor.

Veja a nota na íntegra

Jeferson Tenório, autor premiado por trás de “O avesso da pele” e outros grandes títulos, teve sua conta no Instagram excluída sem explicações.

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Mais uma vez, presenciamos o que parece ser uma tentativa de silenciamento direcionado ao autor que, desde 2021, enfrenta censura a sua pessoa e obra.

A Companhia das Letras está acompanhando de perto o caso e prestaremos todo o apoio necessário frente a esta dolorosa situação.

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