Nos anos 1970 o caminho de areia era longo demais para que as pessoas pudessem chegar à ponta norte da praia do Campeche com facilidade. Os nativos conheciam bem a região e os caminhos mais curtos pela extensa área das dunas, logo, a praia da Joaquina estava longe de ser celebrada mundo afora por pura falta de conhecimento. Os locais a guardavam com carinho, crianças corriam pela areia quando avistavam alguma embarcação se aproximando da terra de Dona Joaquina.

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Aliás, Joaquina existiu, não se sabe se em lenda ou em vida sobre o solo arenoso local. Se em lenda, Joaquina teria sido uma rendeira que passava ensinamentos sobre a arte das linhas e bordados para outras mulheres da região e um dia, sobre o costão, tragada pelo mar. Outra história é a de que seria filha de um dos barões de Santa Catarina do século XIX e que aquelas terras teriam sido herdadas por ela, mas não há comprovação documental a respeito desta última.

Os filhos da Joaquina descobrem o sandboard

Ainda na década de 1970, aquelas crianças que corriam pela praia para ver o desembarque de quem chegava pelo mar eram as mesmas que corriam pelas subidas arenosas das dunas. Cansadas da mesmice de rolar ladeira abaixo, entenderam que arrancando as cascas dos troncos de coqueiros era possível sentarem sobre elas e deslizar do topo até a base da colina. Não existiam pranchas de sandboard, tampouco parafina para este uso, e Paulo Roberto Fernandes — um destes pequenos guris da época — , hoje, trabalhando na cooperativa que aluga pranchas para brincar na areia, nos conta isso.

— A gente cortava as cascas dos coqueiros e passava o dia nas dunas. Subia, descia, subia de novo e descia de novo. Hoje eu continuo aqui. Sou daqui.

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De Floripa para o mundo: o surfe abre fronteiras

Naquele mesmo tempo, as belas ondas da Joaquina começavam a receber grupos de surfistas vindos de fora. Poucos. Raros. Os que atravessavam as dunas carregando pranchas pesadas se encontravam com surfistas locais e dividiam as sessions pacificamente. Não havia muita gente na água, longe de ser o que vemos hoje em dia, contando, às vezes, cem cabeças.

Se hoje é assim, voltemos 32 anos no tempo para entender. Ano de 1.986, o Brasil não sediava uma etapa do campeonato mundial de surfe havia três anos. Florianópolis não participava, até então, do circuito fechado, basicamente, no Rio de Janeiro. Até então. Em 1.986 ocorreu o Hang Loose Pro Contest nas ondas da praia da Joaquina, com público estimado em dez mil pessoas espalhadas pelos arredores das dunas e costão. A praia virou notícia mundial e todos queriam conhecer aquele pequeno paraíso brasileiro da desconhecida capital catarinense.

Depois disso a Joaquina passou a fazer parte do roteiro de surfistas de todo o planeta quando vêem ao Brasil. Europeus, americanos e sul-americanos são vistos com frequência em idas e vindas das areias da praia do leste de Florianópolis.

Acolhedora Joaca

A era pós-abertura para o mundo deu à praia um tom eclético. Durante a temporada, todos os dias, chegam dezenas de ônibus de excursão e deles descem turistas curiosos para conhecer a mais famosa praia da Ilha de Santa Catarina. O cantinho em que está traz aconchego. A vista do topo da escadaria que leva à areia já dá a dimensão da beleza regional e quando as pessoas sobem no costão para observar a praia por outro ângulo permanecem quietos por minutos. Os olhos correm a paisagem e o queixo parece pesar um pouco. Joaquina é singular.

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Para quem ainda não conhece o local, a Joaquina está entre aqueles imperdíveis nesta temporada. A dica é fugir dos horários de pico para evitar os engarrafamentos comuns nesta época.