Houve um momento da história em que Joinville foi batizada de Cidade das Bicicletas. O apelido ainda parece fazer sentido nos momentos de troca de turno no Distrito Industrial Leste, onde há cerca de 1,1 quilômetro dos 14 quilômetros de ciclovias que o município tem no total, e estas faixas dedicadas exclusivamente aos ciclistas ficam cheias. Em outros pontos de Joinville, no entanto, a ocupação dos ciclistas nas ruas é baixa — cerca de 11% dos deslocamentos são feitos com este modal, segundo pesquisa de 2010. O baixo número é símbolo da falta de investimentos voltados ao modal nas últimas décadas, quando o espaço para o carro foi priorizado, levando os moradores a terem insegurança ao pedalar.
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Além disso, a expansão da zona urbana e a falta de planejamento durante este crescimento colocou trabalhadores e empresas em pontos muito distantes para serem percorridos de bicicleta — motivo principal para o trajeto dos ciclistas que lotavam as ruas da cidade entre os anos 1950 e 70, quando o título de Cidade das Bicicletas nasceu e se fortaleceu.
Mesmo assim, a proporção de bicicletas por habitantes na cidade ainda é de duas para cada morador. Segundo o último levantamento da Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável (Sepud) de Joinville, Joinville possui 170,5 quilômetros de rede cicloviária. Ela é formada por 140,1 quilômetros de ciclofaixas, 13,6 quilômetros de passeio compartilhado e 2,8 quilômetros de ciclorrota, além dos 14 quilômetros de ciclovias. O número está bem longe da meta criada há três anos, quando foi produzido o Plano Diretor de Transportes Ativos, já sob a atual gestão municipal.
Mecanismos de desoneração podem criar recursos para obras em 2019
De acordo com o Plano Diretor, a intenção era que Joinville chegasse a 730 quilômetros até 2025, o que, atualmente, obrigaria a Prefeitura de Joinville a implantar pelo menos 80 quilômetros por ano. No ano passado, por exemplo, este número não passou de 20 quilômetros, e até junho deste ano, 17 novos quilômetros de malha cicloviária foram criadas (a Secretaria não possuía os números atualizados até novembro).
— Teremos que revisar essa meta. Ela continuará em 730 quilômetros, mas o prazo não pode ser até 2025. Quando a meta foi estabelecida, na elaboração do Plano, a situação econômica do país era completamente diferente do que a gente vive hoje — afirmou o secretário de Planejamento Urbano, Danilo Conti.
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Ele argumenta que o orçamento para repintura depende diretamente da capacidade de arrecadação da Prefeitura — ele está no pacote da revitalização das vias e das pinturas da sinalização horizontal — e que o plano de mobilidade foi desenvolvido com a expectativa de que haveriam mecanismos de desoneração já implantados na cidade. Segundo ele, a situação pode mudar em 2019, quando instrumentos como a outorga onerosa devem ser colocados em prática — a votação dela ocorrerá nesta semana, na Câmara de Vereadores de Joinville.
— Com os instrumentos de promoção de desenvolvimento sustentável, teremos uma fonte de recursos que irá tratar de investir em mobilidade e infraestrutura. Ela será não especificamente para a malha cicloviária, mas para a mobilidade, apesar de ela ser a prioridade, por tratar dos transportes ativos — afirma ele.
Proteção encontra empecilho no orçamento
Todos os dias, o auxiliar de almoxarifado Bruno de Oliveira Bernardino, 22 anos, percorre de bicicleta os seis quilômetros entre sua casa, no bairro Aventureiro, e a empresa em que trabalha, no Distrito Industrial Leste. A maior parte do trajeto é de ciclofaixas nas vias principais, mas, mesmo assim, ele já presenciou muitos acidentes entre ciclistas e veículos.
— Há imprudência dos dois lados, tanto pelos ciclistas quanto pelos motoristas, que não olham antes de entrar nas laterais — afirma ele.
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A auxiliar de talhação Adrieli Vodziensky, 33 anos, faz o caminho contrário: ela sai do bairro Comasa, passa pelo Distrito Industrial Leste e vai até a metade do Boa Vista para trabalhar em uma malharia. Há parte do trajeto em que ela não encontra malha cicloviária e na maior parte, apenas ciclofaixa.
— Eu me sinto mais segura quando estou na ciclovia do que na ciclofaixa, mas ela é melhor do que a parte em que não tem espaço para o ciclista — avalia ela.
Segundo o Sepud, o crescimento das ciclofaixas e passeios compartilhados em Joinville nos últimos anos ocorreu por uma questão de custo-benefício. Sem os instrumentos para abastecer o Fundo Municipal de Desenvolvimento Sustentável, esta foi a opção da Prefeitura para ampliar a malha cicloviária.
— É uma questão de investimento já que você consegue avançar com muito mais velocidade e atende o ciclista com a ciclofaixa. Eu não posso colocar uma ciclovia que faça diminuir o espaço para o pedestre e o perfil de colonização fez uma cidade com urbanismo de vias menores. Tentamos corrigir isso nos últimos anos, mas até que tenha reflexo na vida real das pessoas, leva tempo — analisa Danilo Conti.
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