Saber conviver com as diferenças, praticar o respeito e reconhecer o significado de ‘inclusão’ representa mais que o ato de aceitar a individualidade humana, é um exemplo de evolução enquanto sociedade. Em Joinville, uma forma de abraçar essa diversidade surge no mês de luta pelos direitos das pessoas com deficiência (PcD). Neste sábado (29), o ‘Dia D – Feirão de empregos para pessoas com deficiência’ visa derrubar uma das principais barreiras para que elas tenham condição de igualdade social: a conquista de um emprego. Estima-se que 57,5% das vagas que deveriam obrigatoriamente empregá-las ainda estão desocupadas no município.

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Vencendo o próprio preconceito, joinvilense teve oportunidade de redescobrir a vida e a carreira

A mobilização ocorre das 10 às 16 horas, no Ginásio Escola da Universidade Regional de Joinville (Univille), e permite que juntas às esferas públicas e privadas do município pratiquem o exercício da cidadania por meio da inclusão. Isso porque, as ofertas exclusivas de trabalho para portadores de deficiência já são previstas no artigo 93 da Lei 8.213/91, mas ainda são reportadas dificuldades de conexão entre as empresas que precisam cumprir a cota e os candidatos aptos a uma dessas vagas.

É exatamente neste contexto que o ‘Dia D’ se lança como meio de aproximação entre esse público e as oportunidades de emprego disponíveis. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 195 empresas de Joinville e Araquari se enquadram na Lei e, em conjunto, deveriam ter quatro mil pessoas com deficiência contratadas (a norma define que empresas com 100 ou mais funcionários está obrigada a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou portadores de deficiência). No entanto, somente 1,7 mil trabalhadores ocupam essas vagas hoje e, 2,3 mil postos de emprego para este público seguem vazios.

O descompasso foi determinante para a criação da feira da empregabilidade, segundo o coordenador de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência da Secretaria de Assistência Social, Paulo Sérgio Suldóvski, que organiza a ação. A iniciativa é da própria Prefeitura de Joinville com o Ministério Público do Trabalho em Santa Catarina (MPT), o MTE e o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (COMDE), em parceria com órgãos governamentais e não governamentais e RHs de instituições públicas e privadas.

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— Criamos o evento para gerar oportunidades para ambos os interessados, porque há vagas, mas as empresas diziam que não tinham pessoas para serem contratadas, enquanto as pessoas com deficiência diziam que não tinham vagas de emprego ou de acordo com o nível de qualificação que elas estudaram. É uma linha que não se fecha e esse encontro quer ser uma ponte para que quem precise de trabalho encontre seu trabalho e quem precisa contratar para se adequar à Lei, possa cumpri-la — destaca Paulo.

Questão social

Joinville tem no ‘Dia D’ do emprego exemplos que deram certo em outras cidades catarinenses, como Blumenau e Florianópolis, conforme sinaliza Luciana Xavier de Carvalho, auditora fiscal do MTE e coordenadora do Projeto de Inclusão de Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho em Santa Catarina.

Segundo ela, na capital quando o programa foi criado em 2015 no Sistema Nacional de Empregos (Sine), no início apenas sete PcD estavam registrados na Grande Florianópolis e em menos de um ano o número saltou para 670. O resultado demonstrou que as pessoas com deficiência voltaram a acreditar na sua inclusão no mercado de trabalho e estão ocupando seus espaços por direito.

— Esses movimentos como a Feira do Emprego são importantes para que essas pessoas saibam que estamos lutando por elas e vamos continuar até que alcancem a inclusão plena. Essa é uma questão que transcendeu o indivíduo para uma discussão social, colocando abaixo essa barreira dos direitos do cidadão com deficiência, incluindo a relação com o trabalho e o convívio com o diferente – necessário para construir a sociedade que a gente quer e merece — reflete Luciana.

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Há avanço, mas ainda muito a ser feito

Apesar do reconhecimento de que a inserção das pessoas com deficiência no ambiente laboral está mais avançada do que em outros tempos, a avaliação do próprio Ministério do Trabalho e de entidades representativas como a Associação Joinvilense para Integração dos Deficientes Visuais (Ajidevi), Associação dos Deficientes Físicos de Joinville (Adej) e Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), é de que ainda há muito a conquistar.

Um dos principais motivos para a resistência na contratação, dizem, é o desconhecimento. Em Joinville, nesta quinta-feira um seminário apresentado na Univille trouxe à luz o tema com o ‘Seminário Inclusão & Empregabilidade: a Pessoa com Deficiência e os Desafios para sua Efetiva Inclusão no Mercado de Trabalho’.

No Estado, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 1,3 milhão de residentes em Santa Catarina autodeclaram portarem algum tipo de deficiência. Apesar do alto número, o Ministério do Trabalho aponta pondera que há uma média de 7,5 pessoas com deficiência para cada uma das vagas de trabalho oferecidas por meio da cota obrigatória – de aproximadamente 36 mil cargos – destes, apenas metade deles preenchidos.

— O mercado está um pouco mais aberto, mas ainda é preciso quebrar os paradigmas, mostrar a capacidade das pessoas que têm algum tipo de deficiência e ao mesmo tempo fazer com que a sociedade, e as empresas se incluem nisso, acreditem mais no potencial dessas pessoas. Muitos estudam, fazem mestrado, alguns até doutorado, então é preciso claro que os ambientes sejam acessíveis, mas que as pessoas tenham atitudes acessíveis para que todo o leque se abra para a inclusão — completa Paulo Sérgio Suldóvski.

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Barreiras impostas para quem busca colocação

Apesar de muitos “nãos” a esperança de retornar ao mercado de trabalho faz parte do dia a dia de Luiz Pedro de Oliveira, de 64 anos, que teve fratura na tíbia depois de cair de moto em 2003. Formado em administração de empresas e com mais de 30 anos de carreira, ele sabe que há vagas e as procura, mas diz que na maioria das vezes os empregadores relatam que as vagas disponíveis são aquém das qualificações. Um desafio que ele mesmo já superou.

— Dos empregos que tive, se fosse comparar com o mercado hoje a remuneração estaria entre R$ 30 mil e R$ 40 mil, mas eu não quero muita coisa, o que eu quero é trabalhar porque ficar parado não vale a pena. Um dos motivos é a assistência médica, que é importante, e para a minha idade está cara — afirma Luiz.

Ele torce, no entanto, que a ocupação dos cargos para as pessoas com deficiência não levem em consideração apenas a Lei de Cotas ou compreendam funções de pequena expressão. “É preciso uma mudança, na qual a empresa apure as capacidades da pessoa com deficiência”, justifica.

— Penso que o idoso já contribuiu tanto com o Brasil e na hora que você mais precisa o País não te acolhe. Já tentei me aposentar por invalidez, mas o governo diz que estou apto para trabalhar, mas não dá emprego. Que país é esse? — desabafa.

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No município vizinho de Itapoá, situação parecida enfrenta a corretora Giseli dos Santos, 36, que segue em busca de trabalho. Ela conta ser portadora de monoparesia (perda parcial das funções motoras de um membro inferior ou superior) e conseguia empregos sem valer-se dos direitos. Porém, afirma que quando os patrões notavam a deficiência, mesmo que leve, eles a dispensavam.

— No meu caso é uma deficiência mínima e eu consigo trabalhar normalmente, já na própria entrevista já falo da monoparesia, mas mesmo assim não tenho sucesso, então imagine a dificuldade para quem tem um problema maior. É preciso reflexão (da sociedade) — defende ela.

SERVIÇO:

O QUÊ? Dia D – Feirão de empregos para pessoas com deficiência

QUANDO? 29 de setembro, das 10h às 16h

ONDE? Ginásio Escola da Univille

QUANTO? Gratuito

* Haverá ônibus com acessibilidade saindo dos terminais Central e Norte. Aos interessados também é indicado levar identidade, carteira de trabalho e currículo.

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