A experiência de mais de uma década no front da violência de gênero levou a juíza do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) Rejane Jungbluth Suxberger a transformar memórias dolorosas em literatura.

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A obra Invisíveis Marias: histórias além das quatro paredes, reeditada e ampliada pelo Grupo Editorial Caravana, chega ao público como um conjunto de contos que mesclam ficção e realidade para iluminar aquilo que, dentro dos lares, permanece silenciado.

O lançamento acontece nesta segunda-feira (17), em Fortaleza, durante uma roda de conversa sobre conscientização e prevenção à violência contra a mulher.

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Vivência dentro do Juizado de Violência Doméstica

A escrita nasceu da vivência intensa da magistrada à frente do Juizado de Violência Doméstica. Entre audiências, relatos fragmentados e pedidos de socorro, a juíza testemunhou o ciclo de agressões que se repetia, ainda que mudassem os protagonistas.

Foram cerca de 10 mil processos examinados ao longo de 10 anos, todos marcados por mulheres que chegavam feridas não só no corpo, mas na identidade. Segundo a autora, muitas das vítimas ainda carregavam ideias ultrapassadas de feminilidade e masculinidade, utilizadas como justificativa para a violência sofrida.

A obra expõe como o lar, espaço onde deveria haver afeto, se torna, para muitas Marias, cenário de dor, controle, ameaças e humilhações. Em seus contos, Rejane faz da literatura um instrumento de denúncia e memória, revelando a violência silenciosa que acontece sem testemunhas, ou quando presentes, apenas os filhos das vítimas.

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“Eu tenho um enorme carinho por esse livro. Acredito que ele poderá servir como um alerta poderoso, mostrando que a violência muitas vezes começa de forma sutil. Espero que inspire outras mulheres a reconhecer sinais de abuso e buscar ajuda”, relata.

Rejane acredita que a obra pode servir como alerta, ajudando mulheres a reconhecer sinais de abuso ainda sutis e encorajando-as a buscar ajuda. “Que sirva também de incentivo para romper o silêncio e acreditar em um recomeço possível”, pontua a magistrada.

A autora, que é máster em gênero e igualdade pela Universidad Pablo de Olavide, na Espanha, mestra em Direito pelo UniCEUB e presidente da Comissão de Assédio do TRE-DF, reforça que seu trabalho se insere na interseção entre Justiça, pesquisa e compromisso social. Além de seu papel no TJDFT, integra o grupo Candangas e atua em estudos sobre políticas públicas de gênero.

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