Na mesa da população brasileira três itens são muito comuns: carne, seja frango, porco ou boi; ovo e o café, ocupando um papel central na alimentação e nos hábitos de consumo dos brasileiros. Em 2025, esses alimentos tiveram grande variação nos preços por diferentes fatores, como o tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil, aumento na demanda e oferta reduzida, sendo considerados “vilões”, muitas vezes. Para 2026, a taxa alta de juros, a incerteza no mercado causada pela cautela em pleno ano eleitoral e o clima podem afetar os preços desses itens no próximo ano.

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De acordo com a economista e professora de economia na Universidade do Estado de Santa Catarina no Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas (Udesc/Esag), Ivoneti Ramos, as eleições 2026 funcionarão como um “ingrediente adicional de incerteza” no que diz respeito ao cenário visto em 2025. Ela cita que, apesar de haver uma expectativa em torno da redução da Selic, a taxa básica de juros, que hoje está em níveis altos de estabilidade em 15%, as decisões dos agentes econômicos tendem a ser mais cautelosas.

— O ano de 2026 se desenha como um ano de difícil previsibilidade para os preços dos alimentos e outros preços na economia. O ambiente combina estímulos ao consumo, como a queda dos juros, com um comportamento mais cauteloso dos agentes econômicos, típico de anos eleitorais — afirma.

A oferta da maior parte desses produtos também está ameaçada pelo clima, pelo câmbio e, também, pelo mercado externo. Dessa forma, conforme explica a economista, a carne, os ovos e o café não tendem a ter uma estabilização nos preços mais duradoura.

— Esses três mercados apresentam elasticidades distintas, mas compartilham um mesmo vetor estrutural: a crescente integração entre produção doméstica, custos globais de insumos e comércio internacional, o que torna os preços internos cada vez mais sensíveis a choques externos e climáticos — aponta.

O preço desses produtos é formado principalmente pela oferta e demanda, influenciada por fatores como o clima, que afeta a produção em relação à qualidade das safras, e os custos de produção, ligados à alimentação animal, como o milho e a soja. Em 2025, por exemplo, o milho teve estoques mais baixos em relação a anos anteriores, o que também influenciou nos preços das carnes e ovos.

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Os preços dos insumos também são citados pelo Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne), que atua com a produção de aves e suínos no Estado. De acordo com a associação, os custos na produção têm sido afetados pela taxa Selic, custos logísticos e pelo aumento dos insumos da cadeia produtiva.

— Nos últimos anos, temos suportado na indústria um aumento muito elevado de custos que não tem sido repassado na mesma proporção aos revendedores. O aumento de preço no produto final depende diretamente destes fatos. Se ficarem estáticas, não teremos variações de preços — explica o Sindicarne.

Preço da carne está ligado ao ciclo pecuário

Segundo Ivoneti, o aumento do preço da carne bovina está fortemente ligado ao ciclo pecuário. Isso porque em 2024 e 2025 houve um elevado abate em fêmeas bovinas, o que acabou reduzindo a oferta futura e comprometeu a produção posterior no setor.

Outro fator importante é a alta nas exportações, que vem seguindo de forma robusta. A expectativa é que, diante desses fatores, haja uma alta de 10% no valor da carne bovina.

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— Para 2026, a expectativa é de que o preço da carne bovina continue sob pressão, principalmente em razão da oferta reduzida e da manutenção das exportações em patamar elevado. — diz.

Para dar conta da demanda com o aumento nos preços, os ovos e o frango entram em cena, vistos como opções mais acessíveis que também dependem de algumas condições para que permaneçam com valores estáveis. Elas incluem as decisões estratégicas de compradores como a China, que podem influenciar na oferta para os consumidores brasileiros.

Expectativa para alta oferta de ovos pode criar equilíbrio nos preços

Em 2026, há uma expectativa para a oferta de ovos aumente, segundo a economista, o que influenciar de forma favorável nos preços. Entretanto, “como o produto tem um papel estratégico na segurança alimentar, pode-se esperar manutenção dos preços ou leve alta em 2026”.

Em 2025, a média de consumo de ovos por pessoa foi de 288 ovos, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal, enquanto a projeção para 2026 é de 306 unidades, o que valoriza o produto, de acordo com a economista.

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Dólar deve influenciar no preço do café

O café, por outro lado, pode ter grande influência da demanda externa se a produção acabar não acompanhando o ritmo da demanda. Os preços também devem ser influenciados pelo dólar, que causa impacto nos custos de produção, principalmente no uso de insumos importados, e também torna as exportações mais atrativas, conforme explica Ivoneti.

— Dólar elevado, custos em alta e exportações aquecidas formam uma equação explosiva para o bolso do consumidor, e, no caso do café, tudo indica que 2026 pode ser mais um ano de preços pressionados — aponta.