Especialistas do Laboratório de Conservação e Restauração de Documentos (Labcon) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, dedicam-se, a partir de outubro, ao trabalho de descongelar livros e documentos molhados nas enchentes que, em abril, castigaram o Rio Grande do Sul. Na tarde desta segunda-feira (30), um veículo refrigerado descarregou caixas contendo livros e partituras vindas da Biblioteca Pública de Camaquã e do Museu de Igrejinha, cidades severamente atingidas pelas chuvas.
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Numa contagem extraoficial, são cerca de 250 volumes, ou seja, pacotes com papel dentro. O suficiente para encher um freezer de 500 litros e um outro, com uma carga menor. Ainda assim, o processo de descarregamento na UFSC foi rápido: durou apenas 20 minutos.
— Tínhamos a preocupação com o tempo, pois era necessário retirar as caixas e colocá-las nos freezers do laboratório — explica o professor Cezar Karpinski, coordenador do Labcon.
Livros congelados: Minucioso trabalho da UFSC recupera documentos das enchentes do RS
Foi o próprio Labcon que, durante as cheias, orientou e ofereceu capacitação online sobre o método de congelar o acervo em papel. O congelamento impede o crescimento de fungos, permitindo que, mais tarde, os documentos sejam tratados de forma mais segura.
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No entanto, os gaúchos tiveram que improvisar, pois o método exige envelopamento a vácuo: como não existiam envelopes adequados (espécie de cápsulas), foram usados sacos de lixo preto, sendo necessário retirar todo o ar existente.
Numa primeira avaliação, os documentos chegaram íntegros. No sábado (5), começa o processo de abertura de alguns invólucros para dar início à análise que levará a um diagnóstico. Na primeira fase, além do professor e coordenador do Labcon, atuará também a conservadora-restauradora de bens culturais e pesquisadora com experiência na técnica, Rita Cunha.
Veja fotos da chegada dos livros congelados à UFSC
Processo total pode levar dois anos
A ideia inicial, explica o professor Cezar Karpinski, é recolher um lote pequeno de documentos para fazer o descongelamento. Trata-se de um passo importante, pois ainda não se sabe como está todo o acervo. Mais adiante, deve se juntar em torno de 15 bolsistas, estagiários e voluntários. A inserção de um maior número de pessoas vai depender do que o processo, que inclui etapas de secagem, higienização e restauração, demandar.
A expectativa é que o trabalho se estenda por até dois anos. Do Museu de Igrejinha, serão recuperadas 150 encadernações com partituras do século 19 trazidas da Alemanha. Estima-se que cada volume tenha 100 páginas. Da Biblioteca Pública de Camaquã, chegaram livros históricos da cidade escritos nas décadas de 1960 e 1970. São obras referências e que precisarão ser novamente encadernadas.
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Processo gera preocupação ao grupo
Desde 2019 em Florianópolis, o professor Karpinski conta ser esse o primeiro tratamento de descongelamento feito no Labcon. A técnica é rara, quase sempre feita pela iniciativa privada, e é considerada cara.
— A gente está trabalhando com o primo pobre do patrimônio, que é o papel. É mais lucrativo para as empresas fazerem restauro de obras. Estamos fazendo de graça e sabemos que dificilmente um museu público teria condições pagar pelo valor cobrado por uma empresa — explica.
Neste quadro de desafios de instituição pública, o Labcon enfrenta algo que preocupa: a falta de um gerador de energia. Com isso, um azar de faltar luz no campus central da UFSC, poderia acarretar um problema sério: o descongelamento do acervo trazido do Rio Grande do Sul.
— Estamos preocupados e buscando junto à universidade uma alternativa, que seja a transferência do freezer maior para um centro que tenha gerador próprio. Ficaria no Labcon uma parte menor, justamente a que a partir de sábado vai permitir o início do protocolo de descongelamento — diz o coordenador do Labcon.
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