O cheiro de bolo quentinho que Verônica Roncalho Sousa, 69, costumava fazer em casa não vai mais invadir as quitinetes vizinhas que ela administrava com o marido. Os inquilinos não ouvirão mais as perguntas afetuosas de como está a vida ou se eles aceitam um pedaço da iguaria.
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Os quatro filhos agora terão de seguir a vida – com bondade e amor ao próximo, conforme aprenderam com Verônica – sem os conselhos sempre certeiros da mãe. Verônica é a quarta moradora de Blumenau a perder a batalha contra o novo coronavírus. Foram quase 20 dias de internação, 18 deles em UTI.
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A idosa era hipertensa e tinha diabetes, assim como o marido de 75 anos, que também contraiu a doença. Ele teve sintomas leves e já está recuperado, mas ela passou a sentir um pouco de falta de ar e decidiu procurar o ambulatório montado na Vila Germânica para casos suspeitos, já que morava próximo ao local.
Ao constatar os sinais de gripe e alguns indicativos de Covid-19, como a falta de olfato e paladar, além da insuficiência respiratória leve, a equipe a encaminhou ao hospital.
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Na unidade de saúde, a mulher recebeu a informação de que havia uma alteração no pulmão e que deveria se tratar em casa, lembra um dos filhos, Tiago Roncalho Sousa, 33.
Preocupados, ele e os irmãos instruíram a mãe a procurar uma clínica particular, e foi o que ela fez. Já naquela sexta-feira (8), a internação no Hospital Santa Isabel ocorreu devido à baixa oxigenação. Nos dois dias em que esteve na enfermaria, Verônica fez o de sempre: tranquilizou a família com mensagens positivas através do celular.
Era só uma medida de prevenção, tudo acabaria bem.

— No domingo, dois dias depois, quando ela avisou que iria para a UTI porque estava com muita falta de ar eu liguei. Ela disse: “a mãe não consegue mais falar muito, avisa para a sua irmã. Assim que der mando notícia” —. Foi a última vez que Tiago ouviu a voz da mãe.
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Ele pediu orações aos amigos pelo WhatsApp para que ela superasse as complicações do novo vírus. Com o isolamento social, naquele momento de angústia, o conforto que só se encontra em abraços não aconteceu.
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No rápido velório no Cemitério São José na tarde desta quinta-feira (28), o contato também não foi como o que se espera em momentos de luto – já as lágrimas, que quarentena nenhuma pode proibir, caíram sem medo. Verônica morreu por volta das 23h30 desta quarta-feira (27).
Todos os cuidados com o distanciamento social foram tomados para proteger o casal. Porém, apesar de eles permanecerem em casa desde o começo da pandemia, os filhos se revezavam nas atividades cotidianas, como as compras em supermercados e as idas à farmácia. Uma das irmãs de Tiago também se infectou. Porém, assim como o pai e o marido, não apresentou sintomas graves.
— Eu vi gente comentando nas redes sociais: “será que ela morreu mesmo de Covid?”. Eu só posso dizer para as pessoas cuidarem de si e do próximo, não só dos entes queridos. Não existe receita de bolo, todos podem se infectar e sofrer com a perda de alguém que ama. Ela sempre nos ensinou a amar o próximo, acho que está faltando isso neste momento — reflete Tiago.
Uma mãe dedicada, esposa e amiga afetuosa, um ser humano que transbordava amor e bondade. Assim os filhos lembrarão de Verônica, a “mãezona” de todos aqueles que procuravam uma conversa leve, um colo e um pouco de empatia.
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Coronavírus em Blumenau
Nesta quinta-feira, Blumenau registra quatro óbitos por Covid-19 e 572 casos, conforme o governo do Estado – segundo o boletim da prefeitura desta quinta, há mais 138 infectados que ainda não entraram para a contagem do Laboratório Central estadual. Todas as mortes de moradores do município ocorreram neste mês.