Florianópolis e São José registraram, apenas neste ano, mais da metade das mortes em acidentes de trânsito que envolveram motociclistas. Os dados do Departamento Estadual de Trânsito de Santa Catarina (Detran/SC) revelam que, embora motocicletas estejam envolvidas em apenas 20% dos acidentes na região, elas representam mais de 51% das fatalidades. Isto porque, só em 2025, das 47 mortes no trânsito na região da Grande Florianópolis, 24 foram de motociclistas.
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José Claudio Mafra, integrante do Coletivo Catarinense dos Motoboys, trabalha no ramo de entregas há 27 anos. Ele diz ter sofrido acidentes inúmeras vezes durante esses anos de trabalho, mas está longe de ser uma exceção.
— Algumas vezes eu tive parte da culpa [nos acidentes] e em outras me derrubaram, foram embora, nem ao menos prestaram socorro — conta.
Só nos últimos cinco anos, 18.536 acidentes com motos foram registrados em Florianópolis e São José, sendo que, desse total de ocorrências, 240 motociclistas morreram. Conforme a chefe da Divisão de Violência de Trânsito da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Adriana Elias, isso traz impactos até nos atendimentos:
— As internações caíram, ai fica o questionamento: estão tendo menos acidentes? Não. A gravidade dos acidentes está aumentando, ou seja, os motociclistas nem estão chegando ao hospital. Em maioria, eles têm morrido no local do acidente.
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Perfil das vítimas
Segundo Adriana, o perfil dos acidentados segue um padrão: homens, brancos e jovens, entre 18 e 35 anos.
— Alguns deles estão no ensino fundamental e médio, estão ali na fase produtiva. Alguns deles, são os que levam sustento para a família — pontua.
A fiscalização é vista como essencial por especialistas. O presidente do Detran de Santa Catarina, Ricardo Miranda Aversa, defende que a disciplina e a ordem podem reduzir infrações, como excesso de velocidade e avanço de sinal. Outro ponto é a educação no trânsito, uma solução que pode ser adotada a longo prazo.
— Educar os jovens sobre o respeito e os riscos no trânsito é crucial. Eles entenderem os riscos que correm é o pontapé inicial para trazer esses números a um patamar aceitável — explica Aversa.
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Infraestrutura também pode ajudar
O arquiteto urbanista Ângelo Arruda afirma que ter espaços específicos para os motociclistas tem sido uma solução “interessante” em outras cidades. Ele menciona, por exemplo, o “Faixa Azul”, projeto piloto da Prefeitura de São Paulo, criado para aumentar a segurança dos motociclistas e harmonizar a convivência entre os diferentes modais de transporte.
A primeira Faixa Azul na capital paulista foi implantada em janeiro de 2022, na Avenida 23 de Maio, no sentido Aeroporto. O trecho inicial tinha 5,5 quilômetros de extensão, entre a Praça da Bandeira e o Complexo Viário Jorge João Saad. Desde a implementação, o projeto foi expandido para outras vias da cidade e, em 2025, São Paulo já contava com 221,2 quilômetros de Faixa Azul, distribuídos por 46 vias.
Sobre a possibilidade da implantação do projeto em Florianópolis, o arquiteto frisa:
— Existe uma cultura implantada em Florianópolis, um “combinado” entre os motoristas. Entre a faixa um e dois os motoristas cedem uns 50 centímetros de cada lado, do meio, para que o motoqueiro passe com tranquilidade. Essa é a Faixa Azul. Ela já está implementada de forma invisível, só falta colocar isso no papel.
Segundo o prefeito Topázio Neto (PSD), a prefeitura de Florianópolis estuda implementar um projeto piloto para essa faixa exclusiva. Ele diz que a Secretaria de Mobilidade está na fase final dos estudos e, assim que aprovado, o projeto será enviado a Brasília.
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O prefeito também explica que a secretaria busca entender quais são os pontos mais críticos para implementação. A expectativa é que a faixa seja adicionada até o final do ano, quando o tráfego de motos e carros aumenta devido aos turistas.
— Temos que ver as questões de custos, como as faixas serão pintadas, as questões legais e a educação da população em relação a Faixa Azul — diz o prefeito.
Prefeitura busca opinião da população sobre criação da faixa
Na manhã de quinta-feira (17), a prefeitura de Florianópolis anunciou oficialmente o projeto da criação de “motofaixas” na cidade. A proposta será encaminhada para a Secretaria Nacional de Trânsito, que é responsável pela autorização das vias.
Em vídeo publicando nas redes sociais, o prefeito Topázio Neto propôs uma enquete para ouvir a opinião da população sobre a implementação da faixa. O prefeito afirma que a ideia inicial é adicionar as faixas na Beira-Mar Norte e depois expandir para outras regiões de maior movimento.
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“Em São Paulo tem sido considerado um sucesso. As faixas exclusivas evitaram acidentes e diminuíram mortes no trânsito. É óbvio que o trânsito de São Paulo é diferente de Floripa. Mas o que você acha de testarmos aqui? É uma provável solução pra proteger melhor o motociclista e também o motorista de outros veículos”, disse o prefeito no vídeo.
*Sob supervisão de Luana Amorim
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