Em que bairros moram as pessoas mais ricas na Grande Florianópolis? Essa é a dúvida que um estudo, elaborado pelo professor Renato Saboya, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), buscou responder.

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Saboya desenvolveu um mapa, com dados do Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que traz como foco bairros de Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu. O salário mínimo utilizado como base foi R$ 1.212,00.

O público mais pobre foi definido com renda entre zero e dois salários mínimos, ou seja, até R$ 2.424,00. A população média aqueles que recebem entre três a cinco salários mínimo, no valor entre de R$ 3.636,00 a R$ 6.060,00.

Já os mais ricos da cidade possuem renda acima de 20 salários mínimos, alcançando a renda mensal de R$ 24.240,00 ou mais.

Bairros onde moram as pessoas com maior renda na Grande Florianópolis

As pessoas mais ricas em Florianópolis, com renda que ultrapassa os 20 salários mínimos, estão localizadas na Beira-mar Norte e Jurerê Internacional.

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Já no Itacorubi, Cacupé, Sambaqui e alguns focos menores e pontuais na região da Joaquina e Lagoinha do Norte está um público que recebe mensalmente entre R$ 12.120 e R$ 24.240,00, ou seja, entre 10 e 20 salários mínimos.

Na região continental de Florianópolis, a renda predominante é de pessoas que recebem de cinco a 10 salários mínimos.

Se levar em conta o município de Palhoça, o estudo demonstrou que não há pessoas com renda superior aos R$ 24.240,00. A maior parcela da cidade é composta por pessoas que recebem de R$ 2.424,00 a R$ 3.636,00, sendo entre dois e três salários mínimos.

Em São José e Palhoça também não há registro, segundo o Censo do IBGE 2022, de pessoas com renda acima de 20 salários mínimos. As cidades são dominadas por casas com renda de dois a três salários, seguidas de zero a dois.

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Veja o mapa de renda completo

Saboya desenvolveu o mapa com dados do Censo 2022 do IBGE (Foto: Saboya, Reprodução)
Saboya desenvolveu o mapa com dados do Censo 2022 do IBGE (Foto: Saboya, Reprodução)

O que justifica segregação de grupos econômicos na Grande Florianópolis

O mapa revela uma segregação por renda, ou seja, uma separação física e social de diferentes grupos econômicos em áreas distintas da Grande Florianópolis. Os grupos mais ricos são vistos em locais considerados nobres, enquanto a faixa mais pobre está em encostas de morros e lugares menos acessíveis e que carecem de infraestrutura.

De acordo com Renato Saboya, o mapa é a primeira exploração dos dados de renda do IBGE, lançados há apenas alguns meses. Um estudo mais aprofundado sobre o tema e um diagnóstico da situação ainda deve ser publicado no futuro.

Entretanto, o artigo “Segregação Socioespacial na Grande Florianópolis: Alguns apontamentos históricos e estratégicos”, de Luís Felipe Aires Magalhães e Vitor Hugo Tonin, publicado em 2015, traz mais detalhes sobre a separação por renda na região.

“Trata-se de um processo, atualmente em curso acelerado, vigente na região desde a passagem do século XIX ao século XX, quando da ocupação da região insular da Grande Florianópolis e da pressão para que a população negra deixasse de habitar o centro da cidade”, destaca o artigo.

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O texto explica que, com o início do século XX, a expansão da ocupação urbana promoveu as primeiras pressões, tanto econômicas como sociais, que removeram a população pobre e negra que habitava o centro da cidade. Essas pessoas passaram, então, a se instalar em áreas de encostas do Maciço Central do Morro da Cruz, em um primeiro momento.

Escravos libertos e imigrantes pobres, por exemplo, passaram a sofrer pressões para sua concentração nas áreas de encostas “liberando o espaço do centro urbano para um projeto elitista de ocupação econômica e social”, destaca o artigo.

“Nesta nova etapa qualitativa da segregação socioespacial, o poder público assume responsabilidade importante, seja orientando seus projetos habitacionais populares para regiões afastadas do centro urbano, seja, ainda, por meio da viabilização da ocupação desorganizada de áreas precárias, desde que estas estivessem afastadas do centro da cidade”, justifica o texto.