O metanol é uma substância altamente tóxica que causa diversos sintomas graves quando ingerida, e pode até levar à morte em casos não tratados ou em altas ingestões. Um dos sintomas mais característicos, e que gera grande preocupação, é a cegueira, que pode ser tanto temporária quanto permanente.
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São Paulo passa pelo maior surto de intoxicação por metanol em sua história, acendendo um alerta sobre os perigos da substância presente em bebidas adulteradas. Até o momento, a Secretaria Estadual de Saúde confirmou seis mortes, sete intoxicações e investiga outros 15 casos suspeitos.
É fundamental entender melhor a relação perigosa entre o metanol e a visão humana, conhecer os outros sintomas característicos desse envenenamento e, acima de tudo, saber exatamente o que fazer em caso de suspeita de ingestão dessa substância letal.
O que causa a cegueira?
A cegueira repentina é um dos relatos mais chocantes associados à intoxicação por metanol. Lucas Sales, um designer digital, contou para a Gazeta de São Paulo sua experiência dramática ao perder a visão após ingerir duas gin tônicas em um bar no centro de São Paulo, ainda em julho. “Eu comecei a ficar com uma tontura absurda e o quadro de cegueira, e eu fiquei sem entender nada”.
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O que explica esse sintoma extremo é a forma como o organismo processa a toxina. Conforme um estudo publicado na Annals of Medicine and Surgery, o metanol, ao ser metabolizado no fígado, transforma-se em ácido fórmico. É justamente o acúmulo desse ácido fórmico e de outro subproduto, o formiato, que desencadeia os piores e mais graves sintomas de envenenamento em humanos.
Enquanto o acúmulo de ácido fórmico leva a um quadro de acidose metabólica grave, que afeta o equilíbrio químico do corpo e causa problemas cardiorrespiratórios e intestinais, o formiato atua como uma toxina poderosa que ataca diretamente as mitocôndrias. Essas organelas são essenciais para a respiração e sobrevivência das células do nosso corpo, sendo a “usina de energia” celular.
Sem que as mitocôndrias consigam funcionar corretamente, as células sofrem um processo de sufocamento, pois não conseguem realizar a respiração celular de maneira adequada. As células do nervo óptico, que são responsáveis por transmitir as informações visuais captadas pelo olho para o cérebro processar, demonstram ser especialmente suscetíveis a essa falta crítica de respiração.
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Esse mecanismo de ação tóxica explica não apenas a cegueira por metanol, mas também outros distúrbios de visão causados pela toxina, como a visão turva, a dilatação anormal da pupila (o que impede o paciente de focar em objetos claramente) e até mesmo um sintoma visual conhecido popularmente como “visão de neve”.
Danos irreversíveis com pouco volume
É importante ressaltar que uma quantidade muito pequena de metanol puro já é considerada extremamente perigosa. A ingestão de apenas 10 mililitros dessa substância pode ser suficiente para causar danos graves e, muitas vezes, irreversíveis ao nervo óptico, levando, em casos mais severos e sem tratamento imediato, à cegueira permanente da vítima.
A preocupação aumenta porque, logo após a ingestão, os sintomas iniciais da intoxicação por metanol se assemelham muito aos de uma intoxicação comum por etanol, ou seja, beber em excesso. Sinais como forte confusão mental, tontura, sonolência e náusea intensa podem surgir em cerca de 30 minutos depois que a bebida contaminada foi consumida pelo indivíduo.
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O próprio Lucas Sales relata que, ao ser visto na rua, um amigo comentou: “Nossa, você saiu daqui louquíssimo”. Ele respondeu: “Não saí louquíssimo, eu tinha ficado cego”. Enquanto voltava para casa, o designer foi recuperando parte da visão, embora ainda permanecesse turva, um sinal de que a toxina já havia começado a agir em seu sistema nervoso.
A experiência do paciente
No dia seguinte ao episódio de cegueira e tontura, Lucas acordou com fortes náuseas e um quadro de diarreia intensa, o que o levou a ser internado no hospital por três dias. No entanto, mesmo após a alta hospitalar e o tratamento inicial, alguns sintomas preocupantes e persistentes continuaram afetando a saúde do designer digital.
“Eu fiquei quase duas semanas com a pressão arterial alterada e super desidratado, e olha que eu me hidrato bem. Minha visão ficou turva por cerca de uma semana e eu sou designer, então olho não focava, eu não conseguia trabalhar”.
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Passados dois meses da internação inicial, Lucas Sales ainda está em tratamento com remédios para combater as decorrências das fortes náuseas que se manifestaram após a ingestão da bebida adulterada. Na época de sua internação, que ocorreu dois meses antes do surto atual de metanol em São Paulo, os médicos não conseguiram compreender totalmente o quadro clínico apresentado.
Por fim, os profissionais de saúde acabaram por diagnosticar Sales com uma intoxicação alimentar. “Ninguém estava entendendo nada que estava acontecendo com o meu corpo. Agora tudo faz mais sentido, sabe?”
O que fazer em caso de intoxicação
Caso você, ou alguém próximo, identifique os sintomas de intoxicação por metanol, agir rapidamente é crucial. A recomendação principal é correr para o hospital mais próximo o mais rápido possível e alertar a todos que consumiram a mesma bebida que você ingeriu, para que também busquem socorro médico imediatamente.
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Enquanto se dirige ao hospital, é vital ligar imediatamente para um dos canais de orientação especializada. O primeiro contato pode ser feito com o Disque-Intoxicação da Anvisa, que atende no número 0800 722 6001, oferecendo informações importantes sobre como proceder diante de uma emergência química.
Outra opção importante é o Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI), que pode ser contatado pelos números (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733, e atende ligações de qualquer lugar do país. Você também pode procurar o CIATox da sua cidade para obter orientação médica especializada e direcionamento.
Lembre-se sempre: quanto mais rápido for o atendimento e o início do tratamento médico específico para a intoxicação por metanol, menores serão as chances de um desfecho grave ou de sequelas permanentes, como a cegueira. A agilidade no socorro salva vidas e evita danos irreversíveis à saúde.
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Casos suspeitos de contaminação por metanol sobem para 127 em 12 estados
