A vitória do candidato de direita na eleição presidencial do Chile levantou uma “muralha” entre os países da América do Sul. O fenômeno gerou comentários polêmicos do presidente da Argentina, Javier Milei, que publicou fotos alegando que os países de esquerda seriam subdesenvolvidos.
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José Antonio Kast, candidato de direita, foi eleito novo presidente do Chile no domingo (14). Ele conseguiu mais de 58% dos votos, de acordo com o Serviço Eleitoral (Servel) do país e derrotou a candidata de esquerda, Jeanette Jara. Agora, seis nações são lideradas pela esquerda e outras seis pela direita, num pleno equilíbrio.
O presidente da Argentina, Javier Milei, publicou uma imagem que retrata o continente dividido entre favelas e cidades futuristas. Para o político, a Argentina e os países de direita seriam nações desenvolvidas enquanto que o Brasil e os países de esquerda seriam subdesenvolvidos e pobres.
Qual a ideologia dos países da América do Sul?
A postagem gerou comentários de políticos e internautas nas redes sociais. O deputado federal Rodrigo Valadares (União-CE) também compartilhou o mapa, afirmando que o Brasil está “afundando no atraso” e que “2026 precisa chegar logo”.
O vereador Rubinho Nunes (União-SP), de São Paulo, também republicou a montagem. Nas redes sociais, o político escreveu que “uma imagem fala mais que mil palavras”.
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Já usuários nas redes sociais apontaram erros nas alegações de Milei e criticaram a imagem.
“Milei postou imagem da América do Sul mostrando o Brasil como favela e outros países como desenvolvidos sendo que o PIB do Brasil é semelhante a soma de quase todos os PIBs dos países da América do Sul juntos”, publicou um internauta.
Até o início da tarde desta terça-feira (16), o governo brasileiro não havia se manifestado sobre o assunto.
Histórico na América do Sul
Na história da América do Sul, partidos de esquerda e direita têm se alternado no poder. Ao longo do século XX, muitas nações viveram ditadura militares, como o Brasil.
Já na década de 1990, os países adotaram perfis conservadores, liderados pelo neoliberalismo. O quadro começou a mudar nos anos 2000 com a chamada “onda rosa”, quando as nações passaram a ser lideradas por partidos de esquerda. No Brasil, o Partido dos Trabalhadores (PT) governou o país, inicialmente, entre 2003 e 2016, totalizando 13 anos e oito meses.
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Apesar da força da esquerda, a partir de 2018 o cenário se inverteu. A direita chegou a dominar o continente com sete países, enquanto a esquerda caiu para cinco. No Brasil, o período foi marcado pela vitória do ex-presidente Jair Bolsonaro, com viés de direita e ultranacionalista.
Já em 2022, a esquerda retornou com sete países, enquanto a direita caiu para cinco. O continente, agora em 2025, enfrenta um pleno equilíbrio.
Para especialistas, o continente viveu uma guinada conservadora após 2010. O fenômeno ocorreu em razão do fim do ciclo econômico do “boom” das commodities, que beneficiou as nações sul-americanas.
— O que a gente tem agora é um continente que está bem dividido ideologicamente. O que chama atenção é termos um cenário internacional marcado por dificuldade de diálogo e cooperação de governos latino-americanos de diferentes orientações ideológicas — explica Maurício Santoro, doutor em Ciência Política e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil.
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Além disso, o continente é muito marcado pela desigualdade e pela pobreza, o que acaba fragilizando as instituições públicas, como os governos federais.
— Existe um problema estrutural na América Latina por conta da nossa história, da nossa economia e do fato de vivermos com desigualdade e pobreza. Isso leva à descrença nas instituições democráticas. Essa alternância tão pendular, ela facilmente se move para governos autoritários — diz Regiane Nitsch Bressan, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
*Sob supervisão de Luana Amorim

