O adolescente Hudson Pinheiro Martins Cipriano, de 17 anos, foi morto pela Polícia Militar, no Morro do Mocotó, no Centro de Florianópolis, na última sexta-feira (12). De acordo com a PM, o adolescente teria entrado em confronto com os policiais e, para “cessar a injusta agressão”, foram realizados disparos contra ele. Contudo, moradores da comunidade e familiares de Hudson rebatem a versão da polícia e afirmaram à NSC TV que o jovem não tinha envolvimento com qualquer tipo de crime e que ele estava desarmado no momento que foi ferido.
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De acordo com a Polícia Militar, as guarnições do Tático e da Rocam deflagraram uma operação coordenada com o objetivo de coibir o intenso tráfico de drogas e a atuação de facções criminosas na região. Os policiais, então, durante a tentativa de abordagem, foram confrontados pelo jovem, que estaria com uma pistola 9 mm, conforme o Major Otávio, do 4° Batalhão da Polícia Militar.
— As guarnições, as quais em legítima defesa, frente a uma injusta agressão letal, efetuaram disparos de arma de fogo vindo a atingir este individuo. Logo que ele foi atingido, já foi solicitado o apoio do SAMU para prestar o primeiro atendimento médico, o qual constatou o óbito desse indivíduo no local — disse.
O policial afirma que Hudson também usava uma balaclava, uma espécie de máscara, o que “indica que ele estava junto com aquelas pessoas que realizam tráfico de drogas na localidade”, segundo ele. No entanto, a versão é contestada por moradores.
Segundo uma pessoa que vive na comunidade, Hudson não usava balaclava e estava com a camisa levantada logo após o crime, sem nenhuma arma à mostra. Minutos depois, no entanto, ela começou a receber imagens em grupos de aplicativos de mensagem que mostravam o jovem já com a máscara no rosto.
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— Logo após que a gente passou, a gente subiu e depois começou a chegar algumas fotos no qual ele estava com uma balaclava e não condizia com o que estava no horário que a gente passou na cena do crime… e também com o que as pessoas que estavam lá na parte de cima também, que estavam tendo a visão dele deitado no chão, e a polícia não deixando ninguém chegar perto para conseguir fazer o socorro nele […] A gente viu o corpo dele, ele estava sem balaclava, com a camisa levantada, ele não portava arma, ele não portava nada — disse.
Quem era Hudson
Segundo familiares, Hudson trabalhava como servente de pedreiro. No dia da morte, registros mostram que o jovem havia trabalhado durante o dia. No momento do crime, ele descia o Morro do Mocotó e foi alvejado por tiros.
Hudson participava de projetos sociais, fez cursos de barbeiro e aproveitava todas as oportunidades de qualificação profissional, de acordo com amigos. Ele foi descrito como um “menino doce, que trabalhava, e ajudava a mãe na entrega de marmitas”.
Segundo Moisés Nascimento, morador do Morro do Mocotó e presidente da Frente da Juventude Voz das Favelas, Hudson “tinha uma vontade muito grande de viver, de mudar de vida, de trazer um suporte melhor pra família”.
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O jovem também participava do projeto social Mittos, tradicional do Morro do Mocotó. Ana Cristina Bitencourt afirma que Hudson já havia demonstrado interesse para ela sobre entrar em uma universidade para mudar a realidade da família.
Abalado, Edson Pinheiro Martins Cipriano, afirmou que o irmão não tinha qualquer envolvimento com crime.
— Era inocente, não tinha crime nenhum — disse.
O que diz a Polícia Militar
Segundo a Polícia Militar, os tiros disparos pelos policiais contra Hudson foram em “legítima defesa” e que, logo em seguida, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foi acionado para realizar os primeiros atendimentos. No entanto, o jovem foi declarado morto ainda no local. Leia a nota completa na íntegra:
“A Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC), por meio do 4º Batalhão de Polícia Militar (BPM), informa que, na noite de sexta-feira, 12, foi registrada uma ocorrência envolvendo confronto armado com resultado morte, na comunidade do Morro do Mocotó, no bairro Centro, em Florianópolis. Conforme os relatos iniciais:
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1 – As guarnições do TÁTICO e da ROCAM deflagraram uma operação coordenada com o objetivo de coibir o intenso tráfico de drogas e a atuação de facções criminosas na região;
2 – Durante a incursão, um indivíduo confrontou os policiais, que realizaram disparos de arma de fogo em legítima defesa para cessar a injusta agressão;
3 – O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foi acionado, comparecendo ao local para os procedimentos cabíveis. O médico realizou o primeiro atendimento e constatou o óbito do suspeito;
4 – A Polícia Científica e a Delegacia de Homicídios estiveram no local para os procedimentos periciais. Os materiais relacionados à ocorrência foram recolhidos e encaminhados à Central de Plantão Policial (CPP);
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5 – Como de praxe nos casos de confrontos, foi instaurado Inquérito Policial Militar para apuração dos fatos.
Atenciosamente,
Comunicação Social do 4º BPM
Polícia Militar de Santa Catarina”
O que diz a Polícia Civil
De acordo com a Polícia Civil, o caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios.
Mortes por confronto policial
A morte de Hudson entra em uma estatística que vem crescendo em Santa Catarina nos últimos anos. De acordo com os indicadores da Secretária de Estado da Segurança Pública, foram 84 mortes de janeiro a novembro de 2025 provocadas por confronto com a Polícia Militar, o que representa um aumento de 18,31% em relação ao mesmo período do ano anterior, onde foram registradas 71 mortes neste contexto.
Já em relação às mortes provocadas por confrontos com a Polícia Civil, foram sete ocorrências, um aumento de 75% em relação ao ano anterior.
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