O jornalista, professor e escritor Gervásio Tessaleno Luz morreu aos 83 anos na madrugada desta quarta-feira (17) em Blumenau. Lembrado como querido por ex-alunos, inquieto enquanto jornalista e célebre como escritor, ele atuou por quase uma década como cronista na redação do Jornal de Santa Catarina, o Santa. Faleceu em casa no bairro Garcia, após batalhar por anos contra o Alzheimer, que havia o afastado da vida pública. O velório e sepultamento serão em Itajaí.
Continua depois da publicidade
“Descanse em paz, mestre. Saudade e respeito. Eterna gratidão, minha paixão pelos livros e pela leitura são anteriores às suas aulas, mas o pouco de gramática que respeito até hoje, aprendi com ele”, escreveu o ex-aluno Ralf Konig nas redes sociais.
Natural de Rio do Sul, ele veio a Blumenau aos onze anos e, por crescer e viver aqui, era considerado um “blumenauense raiz”. A escrita acompanhou Gervásio por toda a vida e, com ela, também veio a paixão pela Língua Portuguesa, da qual virou professor. Ele lecionou em colégios como o Pedro II, Santo Antônio e até na Universidade Regional de Blumenau (Furb).
Gervásio foi também discípulo e biógrafo do frei Odorico Durieux. Das obras que produziu, se destacam o livro de crônicas “Máximas do Barão de Itapuí” e “Rio que passa em nossas vidas”. A escrita poética, boêmia, que vinha sempre acompanhada de uma dose de bom humor, marcaram gerações. Confira um texto de Gervásio, escrito em 2013, e divulgado por amigos nas redes sociais:
“DESPEDIDA DO TREMA
Continua depois da publicidade
Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema. Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüíferos, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüenta anos.
Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos! Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!…
O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio… A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. Os dois pontos disse que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.
Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C cagão que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que, se deixar um topete moicano, posso me passar por aspas?… A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K e o W, é “kkk” pra cá e “www” pra lá.
Continua depois da publicidade
Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER. Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou “tremendo” de medo. Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar!…
Nós nos veremos nos livros antigos. Saio da língua para entrar na história.
Adeus,
Trema.”
*Notícia escrita sob supervisão de Bianca Bertoli.

