Valentino, filhote de toninha (Pontoporia blainvillei), uma espécie de golfinho ameaçada no Atlântico Sul, morreu no último domingo (5) após passar 43 dias em tratamento intensivo no Centro de Reabilitação da R3 Animal, no Norte da Ilha. Ele havia sido resgatado nas areias da Praia do Moçambique, em Florianópolis, no dia 24 de novembro, pela equipe da Associação R3 Animal, por meio do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), e foi imediatamente encaminhado ao centro.
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Agora, a equipe vai realizar exames para investigar as possíveis causas que levaram ao óbito. Toninhas são animais sensíveis e o tratamento é desafiador, especialmente quando se trata de um filhote que está crescendo sem cuidados maternos, conforme explica Emanuel Ferreira, Gerente Operacional do PMP-BS/R3 Animal.
— É uma espécie bastante frágil e sensível ao estresse. Por se tratar de um filhote recém-nascido, a probabilidade de sobreviver fora do seu ambiente é baixa. A reabilitação é sempre um desafio nessas condições — conta.
Apesar da perda, o tempo de 43 dias estabeleceu o recorde que um filhote da espécie sobreviveu em reabilitação em Santa Catarina, sob os cuidados de instituições executoras do PMP-BS.
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O animal era um macho que foi resgatado com 78 cm e 5,4 kg, com poucas semanas de vida. Batizado de “Valentino”, ele demandou cuidados 24 horas por dia, por se tratar de um filhote que seria totalmente dependente da mãe na natureza.
Como foi a reabilitação de Valentino
A alimentação consistia em uma fórmula à base de leite específico para golfinhos e suplementos, fornecida a cada 45 minutos, inclusive durante a madrugada. Os plantonistas também ficavam de prontidão para realizar exames, tratar lesões, administrar medicamentos, monitorar a frequência cardiorrespiratória e observar o comportamento do animal.
Os protocolos de cuidados seguiram as diretrizes da Aliança Internacional para Conservação das Toninhas (Alliance for Franciscana Dolphin Conservation Research, Rescue, and Rehabilitation — AFCR3), fundada em 2019 com o objetivo de auxiliar na conservação e reabilitação de toninhas, especialmente filhotes.
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Pequenos golfinhos ameaçados
Toninha é um pequeno golfinho que habita águas costeiras e rasas do Brasil, Uruguai e Argentina, frequentemente exposta a ameaças humanas, como interação com atividades pesqueiras, resultando em capturas acidentais que ameaçam suas populações. É a espécie de golfinho ameaçada de extinção no Brasil, segundo o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
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No oceano, o pequeno animal exibe um comportamento “tímido” e discreto, diferente de outras espécies de golfinhos, então o avistamento dele é pouco frequente.
Em 2024, o PMP-BS/R3 Animal registrou 33 golfinhos encalhados mortos em praias de Florianópolis, e 70% deles eram toninhas. Valentino, o filhote que estava em reabilitação, foi o único resgatado com vida na Ilha de Santa Catarina neste período.
— O encalhe pode ter diversas causas. A mãe pode ter ficado presa em uma rede de pesca, uma das principais ameaças à espécie, ou o filhote pode ter se perdido por outros motivos. Sem a mãe, ele não consegue sobreviver sozinho — esclarece Thais Carneiro, veterinária da R3 Animal.
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Nessas situações, é comum que o filhote desamparado acabe encalhando na praia.
O que fazer ao golfinho na praia, debilitado ou morto?
Segundo a R3 Animal, as principais recomendações ao avistar um golfinho na praia, seja debilitado ou morto, são:
- Mantenha distância e ajude a isolar a área;
- Afaste animais domésticos, eles podem atacar o animal marinho, além de transmitir ou contrair doenças;
- Não tente devolver o animal ao mar;
- Acione o PMP-BS: 0800 642 3341.
Sobre o PMP-BS
O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) é uma atividade desenvolvida para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal das atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural da Bacia de Santos, conduzido pelo Ibama. Esse projeto tem como objetivo avaliar os possíveis impactos das atividades de produção e escoamento de petróleo sobre as aves, tartarugas e mamíferos marinhos, através do monitoramento das praias e do atendimento veterinário aos animais vivos e necropsia dos animais encontrados mortos.
O projeto é realizado desde Laguna, em Santa Catarina até Saquarema, no Rio de Janeiro, sendo dividido em 15 trechos. A Associação R3 Animal executa o Trecho 3, que corresponde a Florianópolis.
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*Sob supervisão de Andréa da Luz
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