As mudanças climáticas tornaram as enchentes no Rio Grande do Sul duas vezes mais prováveis e cerca de 6 a 9% mais intensas, de acordo com um estudo publicado nesta segunda-feira (3) por uma equipe internacional de cientistas climáticos do grupo World Weather Attribution. As chuvas também foram intensificadas pelo El Niño, de acordo com a pesquisa.

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Segundo os cientistas, as chuvas que atingiram o Estado entre os dias 26 de abril e 5 de maio são um evento extremamente raro, esperado para ocorrer apenas uma vez a cada 100-250 anos. Sem o efeito da queima de combustíveis fósseis, porém, o evento teria sido ainda mais raro.

— As mudanças climáticas estão amplificando o impacto do El Niño no Sul do Brasil, tornando um evento extremamente raro mais frequente e intenso — afirma Regina Rodrigues, professora de Oceanografia Física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e uma das autoras do estudo.

Entendendo o efeito do aquecimento global

Para entender o efeito do aquecimento global nas enchentes, os cientistas analisaram dados meteorológicos e modelos climáticos. Eles compararam como esses tipos de eventos mudaram entre o clima pré-industrial e o clima atual, com aproximadamente 1,2°C de aquecimento global.

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A expectativa é que esses eventos se tornem cada vez mais frequentes e destrutivos. A análise mostra que se o mundo continuar a queimar combustíveis fósseis e as temperaturas globais aumentarem 2ºC em comparação com os tempos pré-industriais, o que se espera que aconteça entre 20 e 30 anos, eventos de chuva semelhantes serão duas vezes mais prováveis do que são hoje.

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Agravamento por El Niño e falha na infraestrutura

A análise também considerou o papel do El Niño na enchente. Segundo os pesquisadores, o fenômeno aumentou a intensidade das chuvas de 3% a 10% e tornou a enchente entre 2 e 5 vezes mais provável.

A análise também concluiu que os impactos das chuvas foram agravados por falhas na infraestrutura de proteção contra enchentes. O desmatamento e a urbanização rápida de cidades como Porto Alegre também contribuíram para aumentar a exposição da população e agravar os impactos.

— As mudanças no uso da terra contribuíram diretamente para as inundações generalizadas, eliminando a proteção natural, e as alterações climáticas podem ser exacerbadas através do aumento das emissões — diz Regina.

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As inundações atingiram 90% dos municípios do Rio Grande do Sul, afetando 2,3 milhões de pessoas. Até agora, 172 pessoas morreram em decorrência das fortes chuvas, de acordo com o governo gaúcho.

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