A família de Maria* se reuniu em volta da mesa à luz de uma lanterna de celular, nesta terça-feira (5), por causa de um problema no transformador da rua Antônio Jorge Cecyn, em Joinville. A tranquilidade da última refeição da noite, feita por volta das 21h20, foi interrompida quando uma das filhas dela, de 13 anos, escutou um barulho alto de algo se quebrando do lado de fora da casa e depois diversos passos pelo quintal.
Continua depois da publicidade
Ao mesmo tempo, Maria lembra que sirenes começaram a soar na rua. Percebendo que havia algo errado, ela se escondeu junto com as duas filhas adolescentes no quarto. Neste momento, uma pessoa arrombou a porta da cozinha — onde antes elas jantavam — e começou a entrar pelos cômodos, perguntando onde era a saída.
— Foi tudo muito rápido. Depois que a gente se escondeu no quarto, o homem entrou e nos ameaçou com uma arma pedindo por uma saída. Eu disse: aqui não tem saída, moço, é tudo protegido por grades. Foi então que ele me deu uma gravata e, apontando a arma pra minha cabeça, disse que a saída, então, seria eu – conta Maria que, ainda em estado de choque, preferiu não ter o nome revelado.
* Um nome fictício foi dado à refém nesta reportagem para preservar a identidade das três vítimas.
A situação dentro da casa dela aconteceu minutos depois de que uma panificadora, na esquina das ruas Antônio Jorge Cecyn com a São Januário, foi assaltada. No comércio, dois homens entraram e levaram um pouco de dinheiro que havia no caixa. A dupla fugiu pelas ruas nos arredores.
Continua depois da publicidade
De acordo com Maristela Schlickmann, vizinha da padaria, um dos assaltantes se assustou com o estouro no transformador da rua – que aconteceu no mesmo horário da fuga. Conforme ela, os moradores das casas ao redor ficaram aterrorizadas, já que estava tudo escuro e tinha alguém pulando o muro das casas na tentativa de fugir.
O suspeito começou a invadir as casas da vizinhança, ele exigia carro ou outro veículo para que pudesse escapar da polícia. Já o outro homem, que também estaria envolvido no roubo à panificadora, ainda não havia sido encontrado pela polícia na manhã desta quarta-feira.
— Ele entrou aqui no meu vizinho e pediu um carro, mas eles não têm. Como a minha casa era a próxima na “fila”, eu tranquei e apaguei tudo. O assaltante subiu no meu telhado para pular na casa da mulher que ele fez de refém. O muro é alto, tem mais de dois metros. Não sei como ele não se machucou antes — conta Maristela.
Assaltante é morto pela PM
Maristela conseguiu ouvir vários gritos de socorro depois que o assaltante chegou à casa de Maria. A mulher permaneceu como refém durante cerca de dez minutos, até que a polícia chegou ao quintal da casa dela. Durante este tempo, a arma ficou apontada para a sua cabeça, com o suspeito a ameaçando constantemente de morte. Assim que os PMs chegaram à porta arrombada, o assaltante ainda estava na cozinha do imóvel com Maria nos braços, imobilizada.
Continua depois da publicidade
— Eles pediram mais de três vezes para ele me soltar e largar arma, mas disse que não ia fazer. Eu ouvi um estampido de um tiro, fechei os olhos pedindo a Deus que me ajudasse. Quando abri os olhos, o homem já estava caído ali para fora – diz.
De acordo com ela, após o disparo, o policial a abraçou e pediu perdão por ter matado o assaltante, mas que "não teve escolha" para salvar a vida dela. O homem apontado como assaltante, identificado como Darlan Meireles da Silva, de 32 anos, natural de Concórdia, morreu ainda no local por causa do disparo, que o atingiu na cabeça. A polícia constatou que o assaltante possuía um simulacro de arma – que é uma replica idêntica do objeto.
O PM também contou a Maria que está há dois anos na corporação, e que conseguiu chegar rápido ao local do incidente porque, por coincidência, o pneu da viatura estourou na rua atrás do ocorrido.
— Eu disse pra ele que não foi coincidência, foram os anjos que enviaram ele aqui. Se ele não tivesse chegado, eu podia nem estar aqui porque o assaltante ia me matar. Eu tenho muita gratidão por ele — afirma.
Continua depois da publicidade
Mais um recomeço
Mãe e filhas vieram do nordeste da Bahia para começar uma vida nova em Joinville, com mais oportunidades. As três moram no bairro Aventureiro há quase um ano. As filhas de Maria, de 13 e 16 anos, estão na casa de amigos nesta quarta para se recuperar do trauma.
Segundo a mulher, a escolha pelo município ocorreu por ser uma cidade com bastante emprego e segurança. Mesmo depois do ocorrido, a mulher diz que não pretende deixar a cidade. Para ela, Joinville concedeu muitas chances de recomeço: um novo e bom emprego, boa educação para as filhas e amigos que a amparam neste momento difícil.
— Não vai ser isto que vai me fazer desistir, pelo contrário. Eu recebi uma nova chance de continuar lutando e mostrar o quanto Deus é bom com a gente — finaliza.
Risco iminente
De acordo com a Polícia Militar (PM), Darlan possuía antecedentes criminais por roubo e furto. Em entrevista a NSC TV nesta manhã, o major Celso Mlanarczyki Júnior, informou que no momento do assalto e enquanto fez à vítima refém o assaltante estava em posse do simulacro – objeto que tem a utilização proibida por lei. Mlanarczyki ressalta que, sem um exame mais aprofundado, não é possível diferenciar o simulacro de uma arma verdadeira.
Continua depois da publicidade
— O simulacro é muito usado em roubos. Visivelmente você não consegue diferenciar ela de uma arma de fogo. Somente manuseando, percebe-se que não se trata de uma arma de verdade — explica o major.
Ainda conforme o major, o tiro foi disparado pelo policial na iminência de risco aos envolvidos: da refém, das duas adolescentes e ainda da guarnição que atendeu a ocorrência. Inicialmente, a PM iniciou o isolamento do terreno onde estava o assaltante para depois tentar incapacitar a ameaça contra a vida das pessoas.
— A partir do momento que existe uma arma de fogo apontada para a cabeça de uma inocente, de que o policial tentou conter e ainda assim este agente aponta a arma para a guarnição, o policial não viu alternativa senão efetuar um disparo — garantiu em entrevista a NSC TV.
Ainda conforme o PM, Darlan é apontado como suspeito de outros roubos recentes utilizando o mesmo simulacro nos bairros da região Leste e Norte. Agora, um inquérito policial deve ser instaurado para apurar as circunstâncias da morte do suspeito.
Continua depois da publicidade