Em cinco anos, mais de 28 mil casos de violência foram registrados em Santa Catarina. É como se a cada dia, 15 denúncias chegassem aos órgãos de segurança com vítimas que vão da adolescência à terceira idade. E, a cada faixa etária, o perfil de agressão é diferente no estado.
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Enquanto crianças e adolescentes são as que mais sofrem violência sexual, a agressão física tem a maior incidência entre mulheres com idade entre 20 e 49 anos. Já idosas, com mais de 70 anos, sofrem principalmente violência financeira. A solução, segundo o governo estadual, é fortalecer relações saudáveis e identificar de maneira precoce os traços tóxicos que compõem o ciclo da violência.
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Os dados fazem parte de um levantamento inédito da Gerência de Análises Epidemiológicas e Doenças e Agravos Não Transmissíveis da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) de Santa Catarina, no qual o NSC Total teve acesso. O documento traz informações a respeito do perfil das vítimas no estado (veja detalhado abaixo) e a concentração da violência em cada regional de saúde.
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Para isso, a Dive usou a base de dados de Violência Interpessoal do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). A coleta foi feita em julho de 2023, com dados de janeiro de 2018 a dezembro de 2022. Conforme o levantamento, durante o período, 28.076 casos foram notificados.
Só no ano passado foram 6.285 registros — um acréscimo de 18% ao comparar com 2018, quando foram 5.338. Da mesma forma houve um crescimento na taxa de incidência que foi de 149,7 casos a cada 100 mil mulheres em 2018, para 170 em 2022. A região com o maior índice é a Carbonífera, com 249,2 a cada 100 mil mulheres.
Violência física representa 54% dos casos
De acordo com o estudo, a violência física foi a mais frequente em Santa Catarina nos últimos cinco anos. Ela representa 54% dos casos analisados, com 15.230 vítimas. Em seguida, está a violência sexual (7.811 casos), psicológica/moral (6.959) e negligência/abandono (5.463).
Ao comparar a taxa de incidência, também é possível ver um aumento de 43,5% nos casos de violência sexual, que passa de 35,2 para cada 100 mil mulheres em 2018 para 50,5 em 2022.
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Os abusos se destacaram, principalmente, nas idades entre 10 e 14 anos, onde a cada 100 mil jovens, 221,2 foram vítimas de violência sexual. O índice também foi destaque entre crianças de zero a nove anos, com 101,3, e de 15 a 19 anos, com 79,8.
Por outro lado, apesar de estar presente em todas as faixas etárias, a violência física se concentra, principalmente entre mulheres de 20 a 49 anos, onde a taxa de incidência é de 121,9 a cada 100 mil. Já a violência psicológica tem uma maior incidência entre crianças entre 10 e 14 anos (56,6) e pessoas entre 15 e 19 anos (52,8).
Por fim, a violência financeira sobressai entre os idosos com 70 anos ou mais: a taxa de incidência é de 5,8 casos a cada 100 mil mulheres.
Mulheres com baixa escolaridade são mais propensas a violência
O levantamento também traz dados quanto a escolaridade das mulheres em situação de violência. Em 35,8% dos casos, as vítimas tinham frequentado no máximo até a 8ª série. Já as mulheres com ensino superior representam 5% das situações.
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“O perfil encontrado em SC vem de encontro com a afirmação de Caicedo e Cordeiro (2023), de que melhores condições educacionais estão intimamente relacionadas com melhores posições econômicas, sendo que ambas influenciam diretamente na exposição à violência. Ferreira et al. (2020), mencionam que a população feminina com baixo nível de escolaridade apresenta maior risco de sofrer violência devido ter maior dificuldade para perceber a situação vivenciada como uma forma de violência, além de ter menor acesso à informação sobre seus direitos”, explica.
Já sobre os locais onde ocorrem a violência em 75,4% ocorreram em residências (20.575), seguida de 9,2% (2.503) em via pública, 2% (557) em bar ou similar, 1,8% (493) em comércio/serviço e 1,4% (372)
em escolas.
Os companheiros aparecem no levantamento como sendo os principais agressores de mulheres no Estado. Eles representam 50% dos casos. Em seguida vêm mãe (42,4%), paí (31,1%), amigo (26,3%) e desconhecido (24,2%). Como um caso pode ter mais que um agressor, os números são superiores a 100%.
“A partir da constatação de que ao menos em 25% dos casos a mulher já havia sofrido violência anterior,
fica evidente que existe a necessidade de equipes treinadas, capazes de identificar e agir de forma a interromper o ciclo de violência em tempo oportuno, evitando assim que ela se repita no futuro, o que pode levar a um feminicídio como desfecho”, diz o levantamento.
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Identificar relações tóxicas pode ser solução
O objetivo do estudo é manter uma frequência na divulgação dos dados epidemiológicos sobre a violência contra a mulher. A previsão é de que o levantamento seja publicado a cada seis meses. Para a Dive, os dados apontam que é necessário identificar o quanto antes relações tóxicas afim de quebrar o ciclo da violência.
“Ademais, pode-se perceber a necessidade do fortalecimento das relações saudáveis e da capacidade
de identificação das relações tóxicas e violentas, a fim de evitar que meninas e mulheres continuem sofrendo violência, cometidas não só nos momentos delicados das suas vidas, como infância, adolescência e gestação, mas em toda sua existência; sobretudo aquela violência cometida pelos próprios pais ou parceiros íntimos, muitas vezes praticadas no local onde elas deveriam se sentir seguras, suas próprias casas”, diz o estudo.
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