Autor do sucesso “Torto Arado”, Itamar Vieira Júnior abre a primeira noite da 21ª edição da Feira do Livro nesta quinta-feira (29). A presença ilustre marca o primeiro dia do evento, que acontece no Centreventos Cau Hansen até 8 de junho. Em entrevista ao NSC Total, o escritor contou sobre sua trajetória e compartilhou detalhes sobre sua carreira.

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O primeiro dia do evento contou com palestras, apresentação da fanfarra, contação de histórias e muitos leitores circulando pelo pavilhão que conta com mais de 50 estandes de livrarias, editoras e distribuidoras de livros.

Veja fotos do primeiro dia do evento

O escritor baiano participa pela segunda vez da Feira do Livro de Joinville. Seus premiados livros abordam temas sociais relevantes através da ficção e são sucesso entre os leitores. “Torto Arado”, publicado em 2019, e “Salvar Fogo”, em 2023, já venderam juntos mais de um milhão de exemplares. O primeiro, que alavancou a carreira de Itamar como escritor, foi traduzido para cerca de 30 idiomas.

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Tudo o que você precisa saber para curtir a Feira do Livro de Joinville 2025

Em entrevista ao NSC Total, Itamar compartilhou detalhes sobre sua carreira, o futuro da profissão e ainda a importância de eventos como a Feira do Livro. Confira abaixo a entrevista completa:

Como você descreve sua trajetória como escritor e como chegou ao sucesso com seus livros? Quais foram os principais desafios, até mesmo devido a sua transição entre geólogo e escritor?

Eu acho que a escrita surgiu muito cedo em minha vida, junto com a leitura, no momento que eu me alfabetizei. Eu passei a ler, muito estimulado pelos meus professores, porque na minha casa não era uma casa de leitores. Com o tempo eu fui desenvolvendo esse interesse, essa habilidade pela escrita. É algo que faz parte de mim, eu nunca precisei deixar uma coisa para ser outra. (…) Me formei em Geografia, fui trabalhar no serviço público, como analista do Incra. Fiz mestrado e doutorado, mas a literatura sempre esteve presente comigo e no dia que achei que tinha algo para poder apresentar, eu decidi encaminhar para um concurso literário e publiquei meu primeiro livro de contos em 2012. (…) Foi dessa maneira que comecei a escrever com mais seriedade. Eu nunca achei que fosse viver (da escrita) mas fui conquistando leitores, pouco a pouco, e foi assim.

Você já citou em entrevistas anteriores que escreve para refletir, para pensar sobre o mundo à sua volta, sobre as questões que te incomodam. Como você desenvolve suas ideias e personagens? Como é o seu processo criativo, que aborda temas históricos e sociais tão relevantes, como violência, fé, luta pela terra, racismo e exclusão social?

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Eu acho que todo escritor está atento ao seu tempo e ao mundo à sua volta, comigo não é diferente. A leitura e a escrita me permitem tempo para refletir. Acho que o tempo é uma coisa escassa no nosso mundo hoje. As pessoas têm opiniões imediatistas, são muito antenadas nas redes sociais e tudo é tratado de uma forma muito superficial e nós não temos o tempo necessário para refletir, para contemplar, para pensar profundamente sobre aquilo que você está escrevendo. Para mim a escrita acontece desta maneira, claro que ela é movida pelo ímpeto criativo, pela necessidade de criar. Eu poderia ser escultor, pintor, jardineiro, qualquer coisa relacionada ao mundo da arte. Mas eu escrevo pensando no mundo, na condição humana, na nossa experiência coletiva e tudo isso termina por desembocar, digamos assim, nos meus textos.

Para você, qual é a importância da diversidade na literatura, abordando temas mais descentralizados e como você acha que os escritores podem contribuir para isso?

Eu acho que a literatura, não importa onde ela é escrita e quem a faça, se debruça sobre a experiência humana e a natureza humana, por si só, é diversa. Se olharmos o mundo, a quantidade de línguas, sociedades, grupos étnicos que existem é enorme. (…) Eu acho que qualquer expressão artística, seja pintura, música, literatura, deve espelhar essa diversidade. Quando pensamos no Brasil, é um país grande, com dimensões continentais e uma história de imigrações, em todos os sentidos, desde a diáspora africana até a imigração europeia, sem contar nos indígenas ameríndios que já estavam aqui. Ou seja, é um país com muitas origens. Eu acho que a literatura tem que espelhar essa diversidade. É através dessa diversidade que vamos compreender a nossa vida em sociedade, entender as nossas diferenças e encontrar as nossas semelhanças. Vamos refletir sobre o que nos une, o que une a todos.

O que você acha da Feira do Livro de Joinville e como você vê o papel desses eventos no incentivo à literatura?

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Como participo há algum tempo dessas feiras, posso dizer que são todas muito bem frequentadas, tem uma audiência enorme. Isso mostra como há o interesse pelo livro, pela leitura, embora o Brasil precise melhorar muito neste aspecto. Mas eu também acho que é um país muito desigual do ponto de vista econômico e talvez por isso os índices não sejam os melhores. Mas eventos como estes são importantes, porque ele promove o encontro entre leitores e autor. Está fomentando a leitura, desperta o interesse dos leitores. É um momento de ouvir sobre a leitura e cultura, estimular para que isso cresça, para que isso se firme. Eu fico muito feliz. Tem cidades, não é o caso de Joinville, que não têm uma biblioteca. Uma livraria em eventos como este têm um impacto na vida das pessoas. Um país com educação é um país formado por leitores e só vamos ter um país educado quando formar um país de leitores.

Como você vê o mercado editorial brasileiro atualmente, fortemente influenciado pela internet e redes sociais, e quais são suas expectativas para o futuro?

Eu sou um otimista por natureza. Eu acho que temos muitos desafios para lidar, é um mercado que está mudando com o tempo. Nos últimos tempos, temos assistido com surpresa o surgimento da inteligência artificial e como isso impacta. Mas eu acho que ela não substitui a criatividade humana, o pensamento, até porque tudo que vêm da inteligência artificial é fonte humana. Eu vou voltar no tempo, lá em Machado de Assis, há mais de 100 anos. Os índices de educação e leitura aumentaram no nosso país, naquele tempo eram bem piores. Eu acredito que no futuro vamos estar melhor e eu espero que existam mais leitores para que possamos continuar celebrando. A literatura envelhece, mas ela não morre. Na história, na trajetória humana, ela faz parte da nossa vida. Sempre fez parte e vai continuar fazendo, sem dúvidas.

Por fim, você tem algum próximo livro em andamento?

Bom, quando eu estive em Joinville, em 2023, eu estava lançando o “Salvar o fogo”, o segundo romance do que eu chamo de “Trilogia da Terra”. Eu acho que, não sei quando e não vai demorar muito, o próximo livro chega. Esse é um romance que fecha esse ciclo que iniciei com “Torto Arado” e vai narrar a história de personagens que foram completamente desterrados e precisam ir habitar as periferias da cidade. Então, mais eu não conto, deixo para os leitores descobrirem.

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Saiba quais são as próximas atrações da Feira

Para a sexta-feira (30), o evento conta com atrações durante o dia todo. A principal atração é o encontro com escritor Raphael Montes, autor da novela “Beleza Fatal” e do livro “Bom dia, Verônica”. Os fãs podem prestigiar a conversa às 19h, no palco.

Às 9h, no palco, e às 15h, no teatro, acontece um bate-papo no palco com Guilherme Karsten com o tema “Papel lápis e uma cabeça cheia de ideias”.

O encontro “Livros, música e poesia”, com Elisabeth Fontes, ocorre às 9h20min, no teatro, e às 14h30min no palco. Já às 16h, a Biblioteca Pública Municipal Rolf Colin promove uma contação de histórias.

*Sob supervisão de Leandro Ferreira

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