Com o sucesso do “Arraiá Nordestino” em 2022, Elen Ribeiro sabia que aquela não poderia ser a única edição do evento em Blumenau. Natural da Bahia, a ideia era continuar trazendo um pouco da própria cultura para os catarinenses, de uma forma divertida e alegre. Só que ao vivenciar episódios de preconceito na cidade, ela percebeu que a festa junina poderia ter um significado ainda mais forte.
Continua depois da publicidade
A partir daquele momento, a comemoração se tornaria também um símbolo de resistência e luta por respeito.
Receba notícias de Blumenau e região direto no Whatsapp
Moradora de Blumenau há 8 anos, Elen é formada em Estética e conseguiu abrir o próprio salão de beleza na cidade. O processo, no entanto, não foi fácil. A empreendedora conta que antes de conquistar um espaço para trabalhar, precisou bater de porta em porta para divulgar os serviços por um preço mais em conta.
Foi assim, carregando uma mala com acessórios e atendendo a domicílio, que ela conseguiu clientes em Blumenau. Com muito esforço, Elen inaugurou o primeiro salão e viu a vida tomar um novo rumo.
Continua depois da publicidade
— Era uma portinha bem pequena, onde as pessoas ficavam esperando do lado de fora porque não cabia todo mundo. Eu começava a trabalhar às 3h da manhã e ficava até meia-noite — conta.
Com talento e simpatia de sobra, não demorou para que ela fizesse sucesso na cidade. Depois de muitos perrengues, Elen conseguiu montar o “Espaço Santa Beleza”, um local maior que ficava próximo ao Terminal da Fonte e onde ela atendia pessoas até de outros lugares. Foi ali que Elen conquistou clientes fiéis e percebeu o alcance do próprio trabalho.
Por isso, mesmo quando precisou enfrentar a pandemia de Covid-19, ela conta que não sentiu tantos impactos no negócio que já estava bem estabelecido na cidade. Esse, na verdade, poderia ter sido um dos maiores desafios profissionais da esteticista, assim como foi para muitos outros trabalhadores que tiveram os empregos afetados pelo coronavírus. Até o ano passado.
— Eu perdi muito cliente [no período das eleições]. Eu tinha um salão enorme, com 16 funcionárias, e fui obrigada a entregar o meu salão e ir para um estúdio. Porque eu perdi 70% dos meus clientes que desistiram de vir quando souberam que eu era nordestina. Eu sofri bastante. Não passei fome, mas a estrutura de vida que eu conquistei em Blumenau, com esse negócio de escolha política, se perdeu — relata Elen.
Continua depois da publicidade
Naquele momento, Elen se viu obrigada a buscar por um recomeço. E foi o que ela fez.
Um novo significado para o Arraiá Nordestino
No mesmo ano das eleições, a esteticista decidiu fazer uma Festa Junina para lembrar das próprias raízes. O evento recebeu o nome de “Arraiá Nordestino” e começou com a ideia de trazer um pouco da cultura de outro lugar para Blumenau. Em 30 dias, Elen, que ainda trabalhava no salão de beleza, conseguiu organizar tudo e, naquele ano, quase mil ingressos foram vendidos.
— Eu comecei a sair para a rua, vendia os ingressos no ônibus, falava da importância da cultura. Não só da cultura nordestina. Eu sou uma pessoa apaixonada por cultura, por tudo que é festa. Então eu acredito que a cultura muda vidas — relata ela.
A primeira edição da festa foi organizada no Clube Centenário de Blumenau. Elen relembra que as pessoas se divertiram, participaram da brincadeira e ainda ajudaram a organizar o lugar ao fim do evento. O Arraiá deu tão certo que ela estava disposta a repeti-lo em 2023. Só que depois do que viveu durante as eleições, o encontro passaria a ter um significado ainda mais forte. Para ela e ao público.
— Hoje, fazer o Arraiá Nordestino na Vila Germânica para mim, além de ser uma festa, é mostrar o outro lado do povo nordestino. É poder mostrar que todos somos um só. Que a importância da cultura nordestina é a mesma que a alemã. Se Blumenau consegue receber uma cultura tão linda de outro país, por que não pode abrir as portas para a cultura do seu próprio país? — questiona.
Continua depois da publicidade
Uma causa que também foi abraçada por voluntários
Depois que Elen perdeu o salão de beleza por falta de clientes, a fonte de renda dela foi prejudicada. A empreendedora até conseguiu um novo estúdio para trabalhar, em uma sala menor, mas as condições para organizar mais um evento daquela estrutura eram outras. Sozinha ela não poderia custear a festa.
Quando pensou em desistir, já que gastaria em torno de R$ 155 mil no Arraiá de 2023, apareceram voluntários e patrocinadores dispostos a ajudar Elen. Foi a partir disso que ela conseguiu a decoração para o local e os próprios alimentos para a gastronomia, por exemplo.
Foram três meses de organização e trabalho para deixar tudo preparado no Parque Vila Germânica neste sábado (17) e domingo (18). No total, 132 pessoas estiveram envolvidas na festa. Só na cozinha serão 22 mulheres atuando na culinária, além de outros profissionais que ficaram responsáveis por diferentes áreas.
Uma causa que foi abraçada por todos.
— Nesse evento a gente não vai ganhar dinheiro, vai só entregar uma festa linda que a gente está fazendo — ressalta Elen.
Continua depois da publicidade
Cultura passada de geração para geração
Do interior da Chapada Diamantina, na Bahia, a empreendedora lembra com carinho da família que ficou no Nordeste. Foi lá que Elen teve os primeiros contatos com o meio cultural, onde participou de aulas de dança, quadrilha e teatro.
— O que eu sou veio do meu meio cultural, das experiências que eu vivi, das coisas que eu aprendi — comenta.
Ela também ressalta que vem de uma família humilde, que teve poucas oportunidades. Foi por isso, inclusive, que Elen se mudou para Blumenau. Conta que já tinha sobrinhos que viviam aqui e sugeriram a cidade para a tia pois seria um bom lugar para conseguir emprego como esteticista. Ela acatou a ideia e decidiu começar uma nova vida em Santa Catarina.
Aqui, Elen cria duas filhas: Evelyn, de 15 anos, e Maria, de apenas 2. A mãe fala com orgulho que a primogênita está sempre envolvida no Arraiá e já participa até mesmo das quadrilhas do evento. Ao contrário da caçula, a menina nasceu no Nordeste e, por isso, está familiarizada com a cultura da terra natal.
Continua depois da publicidade
Já para a pequena, que passou os primeiros anos de vida em Blumenau, Elen estabeleceu um objetivo que vai além de qualquer conquista material ou financeira que ainda pretende alcançar na cidade.
— Eu quero trazer para a Maria a minha essência e quero que ela tenha orgulho das origens da mãe dela. Eu digo isso todo dia. Quero que ela veja o meu sotaque, as minhas danças, que ela goste das minhas comidas. E essa é a importância, a gente precisa passar isso para os nossos filhos — finaliza.
Programação do evento
O Arraiá Nordestino ocorre neste sábado (17) e domingo (18), no setor 4 do Parque Vila Germânica. No primeiro dia o ingresso custa R$ 35, enquanto no segundo a entrada é gratuita. Confira abaixo a programação completa do fim de semana.
17 de junho
- 15h: Portão abrindo com DJ Bruno;
- 19h: Aquecimento com a Quadrilha Tradicão Junina;
- 20h: Início da festa;
- 21h: Show da Quadrilha Carcará do Sertão;
- 22h: Paraíba Sinsinhô assume o palco;
- 0h: Quarteto Pé de Cabra;
- 2h: Festa com John Oliveira;
- 4h: Encerramento.
Continua depois da publicidade
18 de junho
- 11h: Almoço para os visitantes;
- 14h30min: Encerramento do almoço;
- 15h: Momento das brincadeiras: Corrida de saco, dança da laranja, Ovo na colher, Pau de sebo;
- 20h: Surpresa para o público;
- 22h: Encerramento.
*Estagiária sob supervisão de Augusto Ittner
Leia também:
Festitália 2023 em Blumenau terá até cascata de polenta
Sob nova direção, Festitália em Blumenau tem uma meta ousada para os próximos cinco anos