O uso de medicamentos à base de tirzepatida, como o Mounjaro, pode aumentar significativamente a fertilidade feminina ao reduzir a resistência à insulina e a inflamação sistêmica, o que restaura a ovulação regular em mulheres que antes tinham ciclos irregulares.

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O tema ganhou força após a ex-BBB Laís Caldas revelar que engravidou mesmo usando anticoncepcional oral, logo após iniciar um protocolo de emagrecimento com o medicamento. O caso, apelidado de “bebê Mounjaro”, acendeu um alerta nas redes sociais.

Mas será que o remédio corta quimicamente o efeito da pílula ou o corpo apenas se torna “fértil demais”? A seguir, especialistas explicam por que seu método contraceptivo pode falhar durante o tratamento.

O Mounjaro corta o efeito do anticoncepcional?

Segundo Laís, o objetivo era apenas reduzir medidas para o grande dia, mas a mudança no metabolismo teve um desfecho inesperado. Para especialistas, o episódio não é isolado e tem explicações fisiológicas claras.

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De acordo com o ginecologista e obstetra Dr. Cesar Patez, do Espírito Santo, o medicamento não age diretamente anulando o anticoncepcional, mas pode tornar o organismo mais fértil. “A tirzepatida melhora o metabolismo, reduz o peso e a inflamação sistêmica. Em muitas mulheres, especialmente aquelas que não ovulavam regularmente, isso pode levar ao retorno da ovulação. Se a paciente confia apenas em um método que já não estava 100% eficaz para aquele novo contexto hormonal, a chance de gravidez aumenta”, explica.

Por que emagrecer aumenta a chance de engravidar?

A especialista em Reprodução Humana Taciana Fontes afirma que o principal mecanismo está ligado à sensibilidade à insulina. “A melhora metabólica reduz a hiperinsulinemia, diminui o hiperandrogenismo e favorece a maturação folicular. Em mulheres com síndrome dos ovários policísticos e resistência insulínica, isso pode significar a retomada da ovulação e da regularidade menstrual”, afirma.

Ela acrescenta que o excesso de peso costuma estar associado a um estado inflamatório crônico. “Quando o peso diminui, a inflamação também cai. O corpo passa a ficar mais adequado do ponto de vista hormonal e endometrial, tornando-se mais receptivo a uma gestação”, diz.

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Descobriu a gravidez usando Mounjaro: e agora?

Outro ponto de atenção envolve o uso do medicamento durante a gravidez. “Os dados em animais mostram toxicidade reprodutiva e alterações no desenvolvimento fetal, por isso o Mounjaro é contraindicado na gestação. Em humanos, os dados ainda são limitados, então a recomendação é suspender imediatamente o uso ao descobrir a gravidez”, alerta Taciana Fontes.

Para mulheres que pretendem engravidar ou iniciar tratamentos como indução de ovulação ou fertilização in vitro, o uso prévio desses medicamentos exige planejamento. “Não há evidência de prejuízo direto à reserva ovariana, mas o impacto metabólico é relevante. Por isso, orientamos um período de suspensão de um a três meses antes de tentar engravidar ou iniciar um tratamento de fertilidade”, explica a especialista.

Taciana também destaca que as rápidas mudanças no peso podem alterar o padrão do ciclo menstrual. “Em algumas mulheres, o ciclo fica irregular temporariamente; em outras, ele se regulariza depois de anos. Isso pode dificultar a previsão da ovulação sem monitoramento adequado”, afirma.

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Para o Dr. Cesar Patez, o caso da ex-BBB reforça a importância da orientação médica individualizada. “Toda mulher em idade fértil que inicia medicamentos para emagrecimento precisa revisar seu método contraceptivo. O corpo muda, os hormônios mudam e a fertilidade pode aumentar. Informação e acompanhamento são essenciais para evitar surpresas”, conclui.

O episódio que ficou conhecido como “bebê Mounjaro” mostra que, além da balança, a saúde reprodutiva também entra em transformação quando o metabolismo é profundamente modificado.