Quase 180 anos após a publicação original, O Morro dos Ventos Uivantes segue inspirando leitores, adaptações e debates. Agora, o romance que Emily Brontë publicou em 1847 sob o pseudônimo masculino “Ellis Bell” — estratégia comum entre autoras que buscavam ser levadas a sério pela crítica vitoriana — ganha uma edição especial pela Via Leitura, selo do Grupo Editorial Edipro. O lançamento une tradução inédita, acabamento de luxo e um projeto visual concebido para captar a atmosfera emocional e espectral da obra.

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A publisher da Edipro Maíra Lot Micales conta que o título já era desejado internamente havia anos, mas que o processo editorial exigiu tempo para maturar decisões.

— Quando finalmente definimos qual edição adotar, o tom da tradução, a arte de capa e outros detalhes, surgiu também a oportunidade perfeita: uma janela na agenda do tradutor que considerávamos ideal para o projeto, o Alexandre [Barbosa de Souza]. Tudo convergiu muito bem para que chegássemos a uma edição de qualidade excepcional — afirma.

Maíra conta que a equipe da Via Leitura passou semanas definindo a edição ideal a ser adotada, as referências visuais e o tom da tradução (Foto: Divulgação)

Uma obra que provocou escândalo

Apesar de ser considerado um marco da literatura inglesa, o único romance de Emily Brontë foi recebido com reservas no século XIX. Críticos o chamaram de “sombrio”, “violento” e “imoral”, desconcertados com sua intensidade emocional e estrutura narrativa inovadora. Construído por meio das vozes do Sr. Lockwood e da empregada Nelly Dean, o livro se desdobra em camadas e pontos de vista contraditórios — algo ousado para a época.

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Nos últimos anos, o romance voltou ao centro das discussões culturais, impulsionado por um novo ciclo de interesse por clássicos nas redes sociais e pela adaptação cinematográfica estrelada por Margot Robbie, prevista para fevereiro de 2026. A Edipro soube aproveitar o momento. Maíra explica que o filme não motivou o projeto, mas acelerou o cronograma:

— Assim que nossa equipe de comunicação nos informou sobre o filme, aceleramos o cronograma. O interesse gerado por uma adaptação desse porte sempre ajuda a impulsionar a visibilidade de qualquer livro. Foi um golpe de sorte muito bem-vindo.

Como foi pensado o projeto gráfico

A nova edição de O Morro dos Ventos Uivantes, com 320 páginas e tradução revisada, chega ao mercado como uma celebração da força literária de Emily Brontë, autora que morreu aos 30 anos, apenas um ano após o lançamento de seu único romance, sem imaginar que a obra se tornaria um clássico universal.

Para a edição, a Via Leitura apostou em capa dura e arte pictórica delicadamente etérea. A inspiração não veio de uma referência visual direta, mas de um conceito norteador.

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— Toda a obra carrega um tom diáfano, quase fantasmagórico, e queríamos transmitir essa atmosfera visualmente — diz Maíra.

O resultado é um volume que dialoga com colecionadores, leitores de clássicos e novas audiências atraídas pela estética literária contemporânea.

A tradução como diferencial

A escolha de Alexandre Barbosa de Souza, editor experiente e tradutor de nomes como George Orwell, Oscar Wilde e Thoreau, foi central na concepção da edição.

— Ele constrói uma ponte rara entre épocas, algo que poucos tradutores conseguem fazer — ressalta a publisher.

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Entre as prioridades estava preservar a “crueza” das personagens de Brontë, marcada por impulsos intensos e gestos passionais.

— Diferentemente de outros autores clássicos, cujas obras se destacam pelo retrato psicológico ou social, Brontë apresenta figuras movidas por uma certa selvageria emocional, sentimentos intensos, gestos passionais, impulsos quase indomáveis. Acreditamos que o Alexandre capturou esse tom com grande sensibilidade, entregando uma tradução potente e fiel ao espírito da autora— diz Maíra.

Clássicos para novos tempos

A Edipro observa com entusiasmo o crescimento do interesse por obras do século XIX nas redes sociais. Maíra observa que fenômenos recentes, como a redescoberta de Dostoievski no TikTok e o boom de leitores estrangeiros comentando Machado de Assis, reforçam que grandes narrativas continuam em alta.

— Esses movimentos nos enchem de alegria, pois renovam o público dessas obras que tanto amamos. Ao mesmo tempo, nos colocam o desafio de oferecer edições com uma roupagem mais moderna, algo em que acreditamos estar acertando bem — finaliza.

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