Uma operação do Departamento de Investigação sobre Entorpecentes (Denarc) revelou um esquema sofisticado de tráfico internacional em Manaus (AM): cerca de 40 quilos de “cocaína negra”, uma variação da droga quimicamente alterada para enganar cães farejadores e testes rápidos. O caso foi tema de uma reportagem do Fantástico no último domingo (16).

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A droga estava escondida em fundos falsos de móveis e quadros dentro de uma mansão no bairro nobre de Ponta Negra. Segundo o delegado Rodrigo Torres, diretor do Denarc, a residência funcionava como base para guarda e distribuição de drogas.

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A descoberta

Em 17 de outubro, na primeira abordagem, agentes encontraram 16 quilos de cocaína convencional e um caderno com anotações do tráfico. No entanto, os agentes também apreenderam um caderno de anotações do tráfico. Ao folhearem o material na delegacia, encontraram anotações que diziam: “40 quilos, 42 quilos dentro de cadeiras e de quadros”.

Ao retornarem à mansão, os policiais levaram cães farejadores, mas nenhum animal sinalizou presença de entorpecentes.

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— O cão farejador passou e também não percebeu que se tratava aí de cocaína — disse Torres.

Os investigadores decidiram, então, desmontar manualmente móveis e quadros. Assim, localizaram a droga oculta em fundos falsos.

No entanto, o material apreendido não reagiu aos testes preliminares, reforçando a suspeita de que não se tratava de cocaína convencional.

— No teste preliminar, como já era esperado, deu negativo. Mas no exame mais aprofundado foi constatado que tratava-se de cocaína, sim — explicou o delegado.

Como funciona a “cocaína negra”

A perita criminal Midori Hiraoka detalhou, em entrevista ao Fantástico, o processo que engana cães e testes químicos. A substância é misturada a carvão ativado e corantes, que formam um complexo capaz de bloquear a reação química que revelaria a cor azul característica dos testes rápidos e mascarar o odor detectado pelos farejadores.

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Segundo o delegado-geral Bruno Fraga, essa “engenharia criminosa” torna a droga mais valiosa no mercado: pode valer até dez vezes mais que a cocaína tradicional. A investigação aponta que o carregamento veio do Peru e tinha como destino final provável a Austrália.

Entenda a rota do tráfico

A droga entrou no Brasil pela rota do Solimões, corredor que liga a tríplice fronteira Brasil-Colômbia-Peru ao Amazonas pelos rios da região. Esse caminho, fortalecido nos anos 1990 por Fernandinho Beira-Mar, é hoje controlado principalmente por uma facção criminosa carioca.

Segundo Vinícius Almeida, coronel da PM e secretário de Segurança Autoral do Amazonas, o estado registrou em 2024 um recorde de 43,2 toneladas de drogas apreendidas. Com mais de 7 mil quilômetros de rios navegáveis, a Amazônia é considerada um dos trechos mais complexos de vigilância policial do país.

O que diz proprietária da mansão

A operação prendeu o casal de caseiros: German Alonso Pires Rodrigues e Jeyme Farias Batalha, ambos peruanos. German trabalha há mais de dez anos para a dona da casa.

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Em nota ao Fantástico, a defesa do casal informou ter solicitado novo depoimento, mas não comentou sobre as drogas apreendidas.

A proprietária do imóvel é Liege Aurora Pinto da Cruz, peruana de 74 anos. Ela estava fora do Brasil no dia da ação e, segundo sua defesa, permanece no exterior. Por nota, afirmou ter se colocado à disposição da polícia para colaborar com as investigações. Disse ainda que frequentava a casa apenas esporadicamente nos fins de semana e que os locais onde a droga foi encontrada correspondem ao anexo onde vive o caseiro.