O Vale do Silício, centro da inovação tecnológica global, está enfrentando, nos últimos meses, um obstáculo inesperado: a falta de energia elétrica para alimentar a próxima onda de data centers focados em Inteligência Artificial.

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Dezenas de novos empreendimentos, que somam quase 100 megawatts (MW) de capacidade necessária, estão parados na cidade de Santa Clara, berço de gigantes da tecnologia, incapazes de iniciar as operações porque a infraestrutura local não consegue acompanhar a demanda crescente da IA.

O impasse coloca em xeque a rápida expansão da computação em nuvem e da IA nos Estados Unidos. Empresas líderes em infraestrutura, como a Digital Realty e a Stack Infrastructure, estão entre as mais afetadas, com milhões de dólares investidos em instalações que, por enquanto, geram prejuízo.

O problema não é um “apagão” de fato, mas sim uma incapacidade da concessionária Silicon Valley Power (SVP) de expandir a rede de abastecimento de energia no ritmo exigido, criando um gargalo que, segundo estimativas, pode levar anos para ser resolvido. A conclusão das obras de melhoria está prevista apenas para 2028.

Liderança ameaçada

A incapacidade energética presente em Santa Clara representa mais do que um atraso logístico: sinaliza uma ameaça à liderança dos Estados Unidos no setor de Inteligência Artificial. Com a demanda global por serviços de IA e computação em nuvem crescendo exponencialmente, cada megawatt não entregue é uma oportunidade perdida para inovar e competir.

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A paralisação de instalações que deveriam abrigar servidores de ponta força as empresas a buscarem alternativas mais caras ou a migrarem os projetos para outras regiões ou até mesmo outros países, onde a infraestrutura elétrica é mais robusta.

O resultado imediato é o aumento do custo de capital e, a longo prazo, o risco de desacelerar a próxima geração de avanços tecnológicos que dependem diretamente dessa capacidade de processamento.

Soluções temporárias para o Vale do Silício

Enquanto a expansão da rede principal da Silicon Valley Power (SVP) avança lentamente, as empresas de data centers estão recorrendo a soluções paliativas, porém mais complexas, para tentar amenizar o impacto financeiro.

Uma das principais estratégias é a implantação de geração de energia temporária no local, utilizando geradores a gás natural ou a diesel para alimentar gradualmente algumas instalações, embora essa abordagem seja limitada, menos sustentável e sujeita a rigorosas regulamentações ambientais.

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Outra via explorada é a negociação de contratos de energia interruptíveis, que permitem o uso da rede em horários de menor demanda, mas exigem o desligamento imediato em picos, oferecendo uma capacidade de energia instável para operações contínuas. Essas medidas, contudo, não resolvem o déficit estrutural, nem a urgência de um investimento maciço e coordenado em infraestrutura.

A capacidade de construir e manter data centers de alta densidade não é apenas uma questão de negócios, mas sim um fator determinante para a competitividade nacional e global dos Estados Unidos. Se a região não conseguir garantir um fornecimento de energia confiável, a próxima fronteira da tecnologia pode ser reescrita em outros centros que priorizam e investem na base material do futuro digital.