Há 72 anos, Jaraguá do Sul foi palco de uma grande explosão em uma fábrica de pólvoras. O acidente deixou 10 pessoas mortas, quatro feridas, quatro dependências da fábrica destruídas e doze danificadas, além de causar danos a centenas de prédios vizinhos. A explosão é considerada a maior da história da cidade.

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O acidente ocorreu por volta das 10h do dia 6 de novembro de 1953, na Pernambuco Powder Factory. Segundo a historiadora Silvia Regina Toassi Kita, do Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul, a explosão ocorreu em local onde estavam em produção 2000 quilos de pólvora, sendo que nos locais onde havia mais pólvora não houve danos.

— Conforme noticiou o jornal Correio do Povo em suas edições de 8, 15 e 22 de novembro de 1953, o prefeito Artur Müller e o delegado Isidoro Copi se dirigiram de automóvel para o local e lá chegando encontraram pedaços de corpos humanos por todos os lados. Os familiares dos empregados corriam para obter notícia e junto com os curiosos formaram uma grande multidão que teve que ser contida, enquanto algumas pessoas cuidavam dos mortos e feridos — relata Silvia, baseada em fontes históricas. 

Fotos antigas mostram como começou multinacional de SC conhecida como “fábrica de bilionários”

Ainda conforme a historiadora, um sobrevivente relatou que estava na casa de mistura de pólvora e que viu um fio elétrico cair causando curto-circuito instantâneo. Se salvou por milagre. Estava todo queimado.

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O acidente vitimou 14 pessoas, sendo que dez delas morreram. As vítimas eram jovens, com idades entre 16 e 36 anos, além de uma pessoa mais velha, de 51 anos. Pai e filho estavam entre os mortos, identificadas como:

  • Arnoldo Pereira, 27 anos
  • Hercílio Pereira da Rocha, 36 anos
  • Severiano da Luz, 29 anos
  • Olindio da Cunha, 18 anos
  • Reinoldo Jung, 24 anos
  • Ernandi João Fernandes, 18 anos
  • Rauli Bruch, brasileiro, 16 anos filho de Leopoldo
  • Leopoldo Bruch, 51 anos
  • Alfredo Franke, 36 anos
  • Leopoldo Tescher, 25 anos.

Silvia conta que , em termos de explosão, este foi o maior incidente do tipo na cidade, que conta com outros acidentes do mesmo gênero. 

A fábrica de pólvora, em todas as suas sedes e com seus proprietários anteriores também registraram outras explosões sem o impacto desta e sem vítimas, com poucos danos materiais.

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Já a explosão de 1953 não causou somente danos materiais na empresa, mas também nas edificações da região. Janelas quebradas, quadros jogados das paredes, lâmpadas destruídas, rachaduras nas paredes, louças quebradas. No total foram danificadas 105 prédios particulares, 464 janelas e190 peças de louças.

— O inquérito constatou que quatro dependências da fábrica estavam destruídas e doze danificadas; que houve incêndio e explosão que danificaram além de paredes e telhados, as instalações internas. O gerente da empresa, Gulherme Spengler, de 61 anos, atuava na empresa havia 32 anos e confirmou que houve outras explosões em outros anos, sem danos — relata Silvia.

História da fábrica de pólvora em Jaraguá do Sul

Conforme a historiadora, em 1909 chegaram na região de Rio da Luz os imigrantes alemães Fritz e Henrique Rappe, acompanhados de suas esposas e de três filhos. O local onde se fixaram passou a ser conhecido mais tarde como Tifa Rappe. Exerciam a profissão de químico, e ali resolveram instalar em 1912 uma fábrica de pólvora, para caça e mina.

Adquiriram uma prensa de ferro que pesava mais ou menos 1 mil quilos, o potencial de compressão era de 44 mil quilos. Pertenceu ao coronel Emílio Carlos Jourdan e em seus “Estabelecimento Jaraguá” era utilizada para prensar tipitins com massa de mandioca e fabrico de mandioca. Em 1954 esta prensa foi adquirida por W. Weege S/A Ind. e Com., como ferro velho.

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Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a empresa foi ocupada pelo Exército (13º Batalhão de Caçadores), por ser o proprietário estrangeiro. Foi interditada pelo subdelegado Augusto Mielke.

Em 1918, os proprietários se mudaram para Curitiba e o que restou da primeira explosão foi adquirido por Augusto Mielke, que instalou a fábrica na Rua João Doubrawa, fundos da Rua Abdon Batista (hoje Gerg Czerniewicz). Seu genro, Francisco Frederico Moeller dirigiu a empresa, sendo vendida em 1926 a Reinoldo Rau, que por sua vez a vendeu em 1939 para a firma S/A Pernambuco Powder Factory, com sede em Pernambuco. Esta empresa, sucessora de Herman Lundgren, casa fundada em 1866, era fabricante de pólvora, explosivos de segurança e estopins com a marca “Elephante”. 

Era administrada por seu representante legal no Estado, a Comércio e Representações Douat S/A de Joinville. O gerente da fábrica de pólvora era Guilherme Spengler, que trabalhava na empresa desde sua fundação no Ribeirão Grande da Luz.

A Fábrica, na década de 50, produzia diariamente cerca de 100 quilos de pólvora, pretendendo elevar a produção para 800 quilos, ficando em terceiro lugar na produção brasileira e para tal necessitava ampliar a empresa.

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Em 1953 estava-se fazendo o serviço de terraplanagem e construção de casas para engenheiro e administrador, dentro das normas de segurança e licenciamento do Exército, que mantinha fiscalização sobre todo serviço privado de material bélico.