O ano de 2026 promete novos capítulos de disputas partidárias na acirrada arena política que se tornou o Brasil dos últimos anos. Dez anos após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o país assistiu ao surgimento do bolsonarismo, ao fortalecimento de valores da direita e de bancadas conservadoras, com deputados de bases eleitorais alicerçadas sobretudo nas redes sociais. Houve ainda a volta do PT ao poder, com a vitória do presidente Lula nas eleições de 2022, e uma tentativa de golpe, com prisões e condenações de militares envolvidos e até do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Continua depois da publicidade
Para 2026, o cenário reserva uma das disputas mais fortes pelo Senado em SC, com a chegada de Carlos Bolsonaro ao Estado, além de um confronto de bolsonaristas pelo governo de SC e das respostas definitivas sobre quem será o maior herdeiro do bolsonarismo após a prisão do ex-presidente. Em meio a isso, pautas como dosimetria, segurança pública e agenda econômica devem permear os debates rumo às eleições de outubro. As primeiras pistas devem surgir até o início de abril, prazo para mudanças de partidos e saída dos cargos de governadores e secretários do Poder Executivo.
Veja abaixo em oito tópicos o que esperar da política de SC e do Brasil em 2026:
Duelo de titãs pelo Senado em SC
Um dos capítulos mais aguardados da política nacional em SC é a disputa pelas duas vagas ao Senado pelo Estado. A mudança do ex-vereador Carlos Bolsonaro (PL) para SC com intuito de concorrer a senador pelo Estado, confirmada na semana passada, fez de Santa Catarina o epicentro da direita, com racha público entre lideranças bolsonaristas, e promete uma das disputas ao Senado mais quentes do país. Além de Carlos, o atual senador Esperidião Amin (PP) e a deputada federal Carol de Toni (PL) também disputam as duas vagas a senador na chapa do PL, que terá o atual governador Jorginho Mello como candidato à reeleição. Por não ser de SC, Carlos Bolsonaro sofre rejeição de parte do eleitorado e até de aliados, que preferem nomes catarinenses nas vagas.
A disputa interna pode fazer até mesmo Carol de Toni trocar de partido — ela já recebeu convite público do Partido Novo e precisa tomar a decisão sobre permanecer no PL ou migrar de legenda até 4 de abril, prazo final da legislação eleitoral para mudanças partidárias.
Continua depois da publicidade
De olho no racha bolsonarista estão lideranças como Décio Lima (PT) e Gilson Marques (Novo), que também têm os nomes especulados como possíveis candidatos ao Senado e almejam se beneficiar com a crise gerada pela briga interna por vagas na chapa bolsonarista.
— A disputa do Senado tomou esse protagonismo depois das falas do Jorge Seif e da Ana Campagnolo. Levantaram a questão e abriram até possibilidade para a esquerda, que estava meio de figurante nessa história. A gente sabe que SC tem um lado propenso a votar na direita. Por isso se tornou interessante a disputa, que saiu de duas vagas encaminhadas para direita para o cenário que pode ter três da direita e até favorecer alguma figura da esquerda — avalia o professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e pesquisador em Cultura Política, Daniel Pinheiro.
Entenda a chegada de Carlos Bolsonaro a SC em fotos
Bolsonaristas em disputa pelo governo de SC
Na corrida pelo governo de SC, o Estado deve assistir à uma disputa tendo dois nomes fortemente ligados ao bolsonarismo como protagonistas. O atual governador e apoiador de Jair Bolsonaro Jorginho Mello (PL) buscará ser o terceiro governador reeleito no Estado desde a redemocratização e deve ter como principal adversário o atual prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), ex-companheiro de Bolsonaro no Congresso e também apoiador do ex-presidente. A disputa deve dividir prefeitos e deputados catarinenses, que têm em sua maioria o apoio a Bolsonaro como um ponto em comum. Paralelamente, a esquerda tentará enfrentar e repetir o feito inédito de 2022, quando o PT chegou pela primeira vez ao segundo turno em SC, com o então candidato Décio Lima, que pode ser novamente o candidato do partido. Uma aliança com nome mais identificado ao centro também é cogitada no campo progressista. Afrânio Boppré (PSOL), Marcos Vieira (PSDB) e Marcelo Brigadeiro (Missão) fecham a lista de atuais pré-candidatos a governador de SC em 2026.
Continua depois da publicidade
O professor e pesquisador Daniel Pinheiro acrescenta que a disputa ao Estado deve dar o tom também do perfil de parlamentares a ser eleito por SC em 2026.
— Um cenário que ninguém está falando é a composição para a Câmara dos Deputados e a Alesc. Esta disputa mais à direita para o governo de SC coloca um ambiente muito favorável a ternos novamente um cenário de Alesc e Câmara com forte apelo da direita, pautas conservadoras, candidatos que trazem força nas redes sociais, bases mais de apelo, e como sempre a gente não está falando de deputados. Isso dá muito a característica ao Estado e fortalece até bases nos municípios para a eleição de 2028 — acrescenta.
Renovação do Senado e possível contra-ataque ao STF
A disputa pelo Senado nas eleições de 2026 mobilizará partidos não apenas em SC. Antes de ser preso e começar a cumprir a pena por tentativa de golpe, o ex-presidente Jair Bolsonaro já havia admitido que um dos projetos do PL era tentar eleger um grande número de senadores na disputa, que terá em jogo a renovação de dois terços da Casa (54 das 81 cadeiras). Em razão disso, nomes como Carlos Bolsonaro em SC e Michelle Bolsonaro no Distrito Federal podem ser lançados para tentar garantir uma grande bancada bolsonarista a partir de 2027. Entre as razões para o projeto estaria a possibilidade de fazer “contra-ataques” ao Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pelo julgamento e prisão de Bolsonaro, com propostas como pedidos de impeachment de ministros da Suprema Corte, que são prerrogativas do Senado. Se concretizado, o plano pode causar novos capítulos em crises institucionais entre o Congresso e o Judiciário, já registrados neste ano em episódios como a cassação de Carla Zambelli e a liberação de emendas parlamentares. No início de dezembro, o ministro Gilmar Mendes já deferiu uma liminar restringindo à Procuradoria-Geral da República o direito de propor impeachment de ministros do STF, em decisão vista por especialistas como tentativa de blindar a Corte contra investidas de senadores críticos ao Supremo.
Herança do bolsonarismo
Outra resposta que 2026 pode oferecer à política é sobre quem serão os reais herdeiros do bolsonarismo após a prisão e condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe. Principal nome apontado nos últimos anos, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apresentou-se como aliado de primeira hora e pré-candidato a presidente da República pela raia bolsonarista em 2026. No entanto, nunca recebeu uma declaração aberta de apoio de Bolsonaro. Não bastasse isso, no início deste mês o filho mais velho do ex-presidente, Flávio Bolsonaro, lançou-se candidato a presidente da República como nome apoiado pelo pai, após conversa com ele na superintendência da PF do Distrito Federal. Flávio chegou a sinalizar que poderia recuar caso o Congresso aprovasse uma anistia ampla ao pai e a condenados pelo 8 de janeiro, mas como a única proposta levada adiante foi o de dosimetria (leia mais abaixo), Flávio manteve a pré-candidatura. O cenário, se confirmado, deve levar Tarcísio a desistir do Palácio do Planalto e concorrer à reeleição ao governo de SP, onde é favorito. Em paralelo a essa disputa, governadores bolsonaristas como Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado (União), de Goiás, assistem à disputa interessados em aproveitar brechas e espaços que surjam em meio a essa disputa interna.
Continua depois da publicidade
Lula x bolsonarismo
O ano de 2026 também deve oferecer mais um round na disputa entre Lula e o bolsonarismo — desta vez representado por um herdeiro político, em vez do próprio Jair Bolsonaro, como na disputa de 2022. O atual presidente aposta em propostas como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e na estabilidade econômica, com a inflação dentro ou próximo da meta e o menor índice de desemprego desde 2012 para conquistar a confiança do eleitorado e garantir um quarto e inédito mandato. Já a oposição pretende apostar em pautas como a segurança pública e a violência, pontos fracos do discurso petista, escândalos de corrupção como a crise do INSS e pautas de costumes para tentar voltar ao poder.
Os 10 passos que levaram à prisão de Bolsonaro
Debate sobre segurança pública
A segurança pública vem sendo apontada como uma das principais pautas a serem exploradas na campanha eleitoral de 2026. As reações à megaoperação que causou a morte de 121 pessoas no Rio de Janeiro em outubro deste ano e propostas que miram o combate ao crime organizado, como o PL Antifacções e a PEC da Segurança Pública, compõem o caldo que deve dar ao tema ar de protagonista nos debates eleitorais do ano que vem. O assunto é apontado também como uma das principais pesquisas dos eleitores em pesquisas de opinião. O assunto, a agenda econômica e questões trabalhistas como a proposta de jornada de trabalho 6×1 são apostas de principais discussões da campanha presidencial de 2026.
Dosimetria ou anistia vão acontecer?
Principal pauta da direita no último ano, a tentativa de anistia ampla a Bolsonaro e a condenados do 8 de janeiro foi transformada em um projeto de lei de redução da dosimetria, o tamanho das penas aplicadas ao ex-presidente e aos demais réus dos atos golpistas. A proposta foi aprovada na reta final do ano na Câmara e no Senado, e agora aguarda por sanção ou veto do presidente Lula. O petista já afirmou que vai vetar a proposta, mas o veto pode ser derrubado pelo Congresso, que poderia promulgar a proposta, fazendo-a entrar em vigor. Um pedido de inconstitucionalidade ao STF ainda é cogitado, mas seria a última possibilidade de barrar a proposta de redução de penas de Bolsonaro. Caso contrário, o ex-presidente deverá ter direito à redução do período preso em regime fechado até conseguir progressão para o semiaberto, que passaria de 7 anos e 8 meses para 2 anos e 4 meses.
Continua depois da publicidade
Juros, câmbio e reações do mercado
Como em todo ano eleitoral, a economia deve ser um dos termômetros e reagir à instabilidade e às possibilidades de mudanças marcadas pelo cenário eleitoral. O anúncio de pré-candidatura de Flávio Bolsonaro a presidente, que por consequência interdita o caminho para Tarcísio de Freitas, já foi apontado como um dos motivos para a alta do dólar e queda da bolsa registradas na semana anterior ao Natal. Com isso, o olhar aos indicadores econômicos também deve pautar o ano eleitoral.






















