O autor Felipe Fagundes, conhecido por Gay de Família, lança seu novo livro Os Dois Amores de Hugo Flores, uma comédia que mergulha nas complexidades das relações de trabalho, primeiros amores e a jornada de autodescoberta. O livro, descrito como uma mistura de The Office com Paulo Gustavo, é voltado para o público adulto.

Continua depois da publicidade

Apesar do título, Dois Amores de Hugo Flores tem como questão principal o mercado de trabalho. Felipe Fagundes quis abordar o universo de “picuinha de escritório, fofoca de firma”, que considera rico em comédia para ser trabalhada.

A história acompanha Hugo Flores, um jovem de 24 anos que tem no trabalho sua grande paixão e prioridade na vida. Ele foi criado com a expectativa de ter uma carreira de sucesso. Trabalhando na empresa de tecnologia Gira Gira Sistemas, Hugo vê sua chance de brilhar com a chegada da nova CEO, Verônica Rico, descrita como “super badalada” e com uma “vibe muito coach”, focada em meritocracia e inovação. Essa nova diretoria transforma a empresa, que passa a se chamar Banker Tecnologia.

O grande projeto de Verônica é o desenvolvimento de um aplicativo de relacionamentos. O dilema surge porque Hugo, apesar de amar seu trabalho e querer ascender na carreira, não possui nenhuma experiência amorosa, nunca tendo sequer beijado. Mas o jovem vê nessa mudança a chance de ser “reconhecido” e mostrar o próprio trabalho.

Continua depois da publicidade

A ambição pelo reconhecimento de Verônica o leva a trabalhar muito mais do que ele trabalhava antes e ele passa a viver o dilema entre querer demonstrar que é bom e acabar se perdendo um pouco nesse meio.

“O Hugo ama o trabalho dele. O trabalho é tudo na vida dele. Só que ele não entende nada de relacionamentos. Então como que ele vai trabalhar em um aplicativo de relacionamentos, de pegação?”, explica Felipe Fagundes, em entrevista ao NSC Total. O autor brinca que essa é a grande graça do livro, ver Hugo tentando lidar com essa situação.

Clique e participe do canal do Hora no WhatsApp

Continua depois da publicidade

A relação com o trabalho

O “segundo amor” de Hugo Flores surge com a chegada de João Bastos. Os dois se conhecem do trabalho, mas João é o oposto de Hugo. Enquanto Hugo é reservado, envergonhado e se assusta com demonstrações de afeto, João é tranquilo com sua sexualidade e relacionamentos. A dinâmica dos dois, com muitas “picuinhas” e cabeçadas, é um ponto chave da história. Outro contraste está na visão de trabalho: Hugo se dedica integralmente e busca reconhecimento a todo custo, enquanto para João, o trabalho é apenas uma necessidade para se sustentar.

“O Hugo fica o tempo todo questionando o João ‘como você não está dando 500% de si mesmo para essa empresa para prosperar?’, e o João responde que só está fazendo o próprio trabalho. Então eles tem muito esse choque”, conta Felipe.

Além das relações pessoais e o dilema de Hugo, o livro aborda o ambiente corporativo, incluindo picuinhas de escritório e fofocas de firma.

Continua depois da publicidade

O autor explora a cultura de performance corporativa, a meritocracia com rankings entre funcionários, e as microagressões que podem ocorrer no local de trabalho. Uma questão central tratada é a forma como as empresas lidam com a diversidade LGBT+.

O autor observa que algumas empresas usam a pauta para se promover. Conhecido como “pinkwashing”, que é quando o discurso não está alinhado com a implementação de melhorias reais para tornar o ambiente verdadeiramente inclusivo e agradável para pessoas LGBT+. Há uma cena no livro sobre o “dia do orgulho na empresa” que ilustra essa crítica.

Os Dois Amores de Hugo Flores também explora a assexualidade. O autor queria abordar essa orientação, que considera menos discutida, especialmente na literatura. A bandeira assexual está inclusive presente na capa do livro. Embora não seja o foco principal, o tema é explorado através de Hugo e outros personagens.

Continua depois da publicidade

Inspiração e Fiofó do Oeste

A inspiração para o foco no ambiente corporativo veio de uma “desilusão corporativa” pessoal. Fagundes, que é analista de sistemas, a mesma profissão de Hugo, relata ter saído de um emprego confortável para uma empresa “super badalada” em busca de desafios.

Contudo, essa nova experiência resultou em crises de ansiedade e depressão. O ambiente de trabalho onde ele se viu trabalhando era muito competitivo, com ranking entre os funcionários e a ideia de meritocracia levada quase que ao extremo.

Outro ponto da história de Felipe e Hugo que se conecta é a mudança de uma cidade menor para uma capital. “Ninguém era gay em Fiofó do Oeste” é assim que Os Dois Amores de Hugo Flores começa. Fiofó do Oeste é a cidade natal de Hugo, uma cidade pequena do interior. Para o autor, a cidade representa um local onde as pessoas não falam abertamente sobre questões LGBT+.

Continua depois da publicidade

“Ainda é muito comum em cidades pequenas as pessoas não falarem abertamente sobre questões LGBT+ e essas pautas não são levantadas. E quando você cresce numa cidade pequena, e eu estou falando da minha experiência e vivência também, é como se não existisse, mas e óbvio que existe e é aos montes, só que as pessoas não falam sobre isso é muito velado”. Para Felipe, essa origem do Hugo também explica sua falta de experiência em relacionamentos.

“O Hugo agora está na cidade grande, está no Rio de Janeiro, onde está descobrindo novas realidades. Apesar de crescer sem entender o que está acontecendo, quando o Hugo vai para o Rio de Janeiro, lugar onde as pessoas falam abertamente sobre o assunto, ele fica até atordoado e passa a pensar ‘caramba, agora eu posso falar, posso me expressar, as pessoas falam disso abertamente’.

Mas mesmo assim, Fiofó do Oeste continua nele, ele fica o tempo todo lembrando da cidade, comparando quem ele é e como as coisas são no Rio e como e quem era em Fiofó do Oeste”, pontua Felipe.

Continua depois da publicidade

Lançamento do livro

Felipe Fagundes revelou que escreveu a primeira versão de Os Dois Amores de Hugo Flores antes mesmo da sua obra anterior Gay de Família. No entanto, ele optou por lançar Gay de Família primeiro, considerando-o mais acessível para um primeiro livro.

Após o sucesso do primeiro livro e a parceria com a editora Paralela, ele reescreveu Os Dois Amores de Hugo Flores, um processo que levou cerca de seis meses, buscando manter a essência da primeira versão, mas com a evolução de sua escrita.

O livro tem 352 páginas e o preço de capa do livro físico de R$ 64,90, já o e-book está sendo vendido por R$ 19,90. O lançamento está marcado para 20 de maio de 2025.

Continua depois da publicidade

Apesar de falar sobre um aplicativo de pegação, o livro é voltado para o público adulto e não contém cenas de sexo explícito, não tendo a marcação de conteúdo adulto presente.

Leia também

Novo romance brasileiro mergulha nos momentos finais de São Jorge

Ray Tavares explora os bastidores da literatura e do audiovisual em novo romance “O Roteiro do Amor”