Santa Catarina tem cerca de 100 mil pacientes à espera de uma cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É o caso de um paciente que aguarda pelo procedimento para retirada de uma hérnia, mas é o 51º da fila e a previsão de atendimento é de mais de 300 dias.

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Carlos Alberto é aposentado e já fez um transplante de rim. Essa informação, no entanto, não constava no cadastro dele até uma reportagem da NSC TV revelar o caso. O governo do Estado solicitou ao município onde ele mora para que a informação fosse corrigida.

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A hérnia faz com que a locomoção de Carlos se torne limitada pela dor. Ele não pode ir longe sozinho, e costuma contar com a ajuda da filha para se locomover.

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— Eu até vou [sozinho], mas quando volto tenho que tomar um remédio por causa da dor. Quando dói, eu fico com medo, porque não sei se é a hernia ou o rim — conta o aposentado.

Quem também espera há meses por um exame pelo SUS é a aposentada Lenir da Silva Martins, de 73 anos, que sofre com sangramentos frequentes e aguarda uma colonoscopia. Sem o exame, ela não pode fazer uma colonoscopia. É o município que faz a gestão da fila para exames, no caso dela, em Florianópolis.

A previsão de atendimento para Lenir é em março de 2026, mesmo que o caso dela tenha sido considerado urgente pela regulação.

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— Eu tenho medo, porque a minha irmã já teve câncer. E tem a minha idade, né — desabafa. — Me incomoda, às vezes eu estou andando e sou obrigada a ir ao banheiro. É muito triste.

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Também moradora de Florianópolis, Luiza Morassuti teve complicações abdominais e espera por uma tomografia, que tem previsão para sair apenas em 2032, segundo o sistema da prefeitura:

— Espero que esteja viva até lá. […] Vou fazer o quê? Esperar.

Espera por exames em Florianópolis é de até 10 anos

Em Florianópolis, 8.029 pessoas aguardam para um exame de colonoscopia. Já 19.369 pacientes estão na fila da ressonância, e 9.611 da tomografia, segundo informações da prefeitura da Capital. O que chama atenção é a previsão de atendimento da última colocada: só em 2034, daqui a 10 anos.

— Em 10 anos o diagnóstico pode ser alterado e esse exame perde qualquer efetividade — pontua o defensor público Tiago Queiroz da Costa. Ele afirma que muitas vezes o paciente só consegue um exame, ou uma cirurgia, após entrar na Justiça, um processo desgastante.

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Fabricio Menegon, professor do departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que município e Estado tem papéis diferentes nesta equação: a fila de cirurgias é de gestão do Estado, já o município faz a gestão dos exames.

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— A gestão do Estado precisa atacar o problema das filas, precisa fazer investimentos em hospitais para habilitar estes centros cirúrgicos, para absorver a demanda represada. Por outro lado, a gestão municipal precisa olhar a questão das contratações da rede conveniada para que ela possa responder com uma velocidade maior do que o observado — afirma o professor.

O que dizem a prefeitura e o Estado

O secretário de Saúde de Florianópolis, Almir Adir Gentil, afirma que os dados da fila de espera são estimativas baseadas em um algoritmo, e não uma previsão real.

— Essa não é a data do exame, é uma projeção com um algoritmo, que não corresponde à verdade. Ainda assim, é uma ferramenta importante para a sociedade entender que existe efetivamente, em alguns casos, um número de exames muito intenso, e que o município tem que dar uma resposta — afirma.

Ele pontua que a inauguração do Multihospital da Capital pode ajudar a diminuir a fila, mas também reconhece que os prazos longos podem ser reflexo de falhas na classificação da gravidade de cada caso. Ele orienta que pacientes voltem ao médico caso os sintomas se agravem, tanto em casos de exames quanto de cirurgias.

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O secretário de Saúde do Estado, Diogo Demarchi Silva, reforça que os dados da fila são apenas estimativas:

— Muitas vezes esse prazo representa uma série histórica e não um retrato atual. É algo que estamos trabalhando para poder dar uma previsão mais adequada. […] O que a gente pode de imediato é lamentar e é nossa responsabilidade resolver.

O secretário estadual fala que Santa Catarina tem batido recordes de cirurgias, sendo 152 mil em 2024.

Sobre a situação do Carlos Alberto, transplantado do rim à espera de uma cirurgia de hérnia, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou à NSC TV que não constava a informação que ele é transplantado no sistema de regulação nacional, e solicitou a inclusão ao município onde ele mora. Uma consulta para ele foi agendada para o dia 30 de outubro.

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No caso das outras duas pacientes, a prefeitura de Florianópolis diz que as datas informadas no painel público não refletem a realidade. Isso porque eles não consideram mutirões e outras iniciativas para zerar filas de exames.

Os casos apresentados foram revisados e sofreram mudanças na expectativa de prazo: um deles (não foi informado qual) está previsto para o próximo mês. No outro caso, não foi informado o novo prazo, e a Secretaria disse que não fornece informações específicas sobre pacientes. Em nota, a pasta informa ainda que as equipes estão em contato com os pacientes que aguardam exames e que, paralelamente, os pacientes procurem o centro de saúde do bairro para atualização dos dados clínicos e nova avaliação do sistema de regulação. 

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